O Vale do Café é o local escolhido pelo autor Marcos Bernstein para protagonizar toda a atmosfera lúdica da adaptação brasileira dos romances de Jane Austen. A nova novela das 6h da Globo, Orgulho e Paixão, levará para a telinha um compilado das melhores histórias da literatura desta inglesa, que viveu entre os anos de 1775 e 1817. Apesar de seus livros serem romanceados e conservadores, a escritora é considerada uma visionária que foi capaz de questionar a posição feminina em uma sociedade onde as pessoas determinavam quem a mulher deveria ser através do casamento arranjado, que era o único futuro possível para o gênero. “Não sei se a Jane Austen tinha a intenção de ser pioneira, mas ela possui o seu lugar na sociedade, questionando coisas. Existia um olhar doce e bem humorado, mas crítico. Isto faz com que seja difícil escrever esta trama. A nossa tendência é colocar todo mundo brigando, mas ela desenvolve a narrativa de outra maneira”, afirmou o escritor da novela, Marcos. Será neste clima rústico e antigo que esta narrativa inusitada se passará, sendo o pontapé da trama o romance Orgulho e Preconceito. “É o livro mais redondo e forte dela, os outros estão mais voltados aos conflitos amorosos, este mostra um contexto familiar mais estabelecido”, completou Marcos. Dessa forma, os protagonistas serão o casal Elisabeth, cujo nome foi adaptado para Elisabeta, e Darcy, na figura de Nathalia Dill e Thiago Lacerda. Com estreia no dia 20 de março, a produção é dirigida por Fred Mayrink e conta com um elenco de ouro como Vera Holtz, Tato Gabus Mendes Pamela Tomé, Anaju Dorigon, Gabriela Duarte, Alessandra Negrini, Tarcísio Meira, Oscar Magrini, Agatha Moreira, Marcelo Faria, Rodrigo Simas, Murilo Rosa e muito mais!
O ano em questão é 1910, o século XX está apenas começando e o Brasil baseava toda a sua economia na exportação do café. Elisabeta é uma das cinco irmãs de uma família cuja mãe está disposta a fazer de tudo para arrumar um bom partido para as filhas. A partir disso, vai contar com a ajuda de Ema, a casamenteira oficial do Vale e amiga das meninas. No entanto, a mocinha é completamente diferente das outras mulheres, ela quer conhecer o mundo e viver muitas aventuras antes do ‘felizes para sempre’. Contrariando as suas crenças, ela se vê seduzida por Darcy. Em contraponto a isto, Susana, vivida por Alessandra Negrini, é uma mulher manipuladora e apaixonada por Darcy, que chega ao Vale comprando várias terras, visando dominar a região. Mas tudo muda quando a vilã percebe que o rapaz que ama está encantado por outra mulher. “Estamos nos apropriando um pouco destas histórias e personagens da forma mais respeitosa possível. Partimos deste universo famoso e encantador para criar a nossa trama. As pessoas precisam estar abertas a ver uma trama que se passa no Brasil. Será uma novela divertida, romântica e com alguns momentos emocionantes, seja para distrair o público ou tocar em algum ponto interessante para eles que cause uma reflexão”, explicou Marcos. Ao mesmo tempo Orgulho e Paixão trará narrativas inspiradas nos romances da inglesa, a equipe não tem um compromisso em contar fielmente todas as histórias, afinal isto tornaria a literatura muito previsível. A ideia é que os leitores de Jane Austen se preparem para experimentar o mundo da escritora adaptado para um universo nacional.
Uma das maiores características desta nova novela das 18h é a forte presença das mulheres que são representadas de forma empoderadas, dentro do universo de seus desejos. A prova disso é que as cinco irmãs da família Benedito são totalmente diferentes entre si e, ainda sim, exercem uma forte representatividade. “Esta novela não tem um compromisso com o feminismo, mas é uma trama extremamente feminina. Não temos a pretensão de questionar algo, o que não impede um espectador de fazer um paralelo com a atualidade. Todas possuem personalidades fortes, com um protagonismo dentro de suas limitações da época”, indicou o diretor artístico, Fred. Jane, por exemplo, é a mais bonita, Mariana é aventureira, Cecília, fantasiosa e uma leitora voraz, Lídia, engraçada e Elisabeta, contra os padrões da época. “Se fossemos assistir filmes da década de 40 baseados na obra de Jane Austen provavelmente não haveria uma ênfase tão grande ao lado feminino da história, seria algo mais recatado e não tão evidente. Acredito que ao contar uma narrativa acabamos falando sobre nós mesmos e a nossa contemporaneidade. Por estarmos vivendo uma época feminista, esta versão acaba se destacando para nós”, completou o escritor.
A ideia para esta novela veio do próprio autor que sempre foi fã da literatura de Jane Austen por trazer personagens vibrantes e apaixonantes. No entanto, ao propor este desafio, ele precisou de uma intensa pesquisa para poder guiar a dramaturgia destes papéis sem perder a essência de cada um. “Li os livros, me informei de um modo geral e tentei entender as dinâmicas dos personagens, selecionando os que mais me encantavam. Existe também um trabalho de lembrar algumas cenas que existe em um livro que seria interessante brincar com ela. A ideia é trazer estas tramas para a realidade da novela, que possui a sua narrativa própria”, explicou Marcos Bernstein. Ele escolheu as irmãs que gostava mais de Orgulho e Preconceito, Jane, Elisabeta e Lídia. Para completar, ele misturou membros da família com outras histórias ao colocar Mariana, de Razão e Sensibilidade, e Cecília, que seria a Catarina de A Abadia de Northanger.
Selecionar e unir todos os livros só foi possível a partir deste estudo prévio. A partir deste conhecimento, o escritor contou que não houve maiores dificuldades ao adaptar as obras. “Como os romances dela possuem características muito próximas, voltadas para o romance e da pobreza, de alguma maneira os personagens acabam se encaixando. O mais difícil era pensar como seriam as relações entre os principais de historias diferentes”, comentou. O autor colocou, por exemplo, a Ema, uma mulher rica, conservadora e peculiar, sendo uma das melhores amigas da Elisabeta, que é uma pessoa contemporânea que gosta de se afirmar em um mundo machista. Sendo assim, eram figuras contraditórias cuja interação seria interessante.
A fotografia da novela exibe paisagens de tirar o fôlego e para conseguir isso a equipe gravou em Valença e Vassouras, no estado do Rio de Janeiro, já que estes locais ainda possuem fazendas antigas que foram conservadas. Além disso, também filmaram no interior de Minas Gerais, onde existem cafezais e lindas cachoeiras. “Por serem locais mais afastados, rústicos e de difícil acesso, isto acrescentou um grau a mais de dificuldade às gravações. Mas o fato de termos conseguido imagens lindas deve-se a qualidade da produção e da infraestrutura que conseguimos levar para estas locações”, contou Fred Mayrink.
A época em que se passa a trama é apenas 20 anos mais cedo do que o enredo de Tempo de Amar, atual novela das 6h, se localiza. A proximidade das datas, segundo o diretor artístico, não significa que elas serão parecidas e não irá impactar em nada o desenvolvimento da narrativa. “Elas trazem questões completamente diferentes. Para começar, é baseada nos livros da Jane Austen e isto já muda bastante de figura. Além disso, ouve uma ruptura muito grande nos anos 20 que fez com que os tempos mudassem totalmente, mostrando uma evolução da cultura do mundo. Orgulho e Paixão fala de fazendas e como se dá o poderio naquele lugar, sendo assim é um contexto mais rústico, do interior”, informou Fred.
Orgulho e Paixão possui outra similaridade com duas novelas que estão sendo exibidas atualmente na grade da rede Globo: o gênero. Tempo de Amar e Deus Salve o Rei são tramas de época da mesma forma que a próxima das 6h. De acordo com Fred Mayrink, esta onda que vem trazendo muitas narrativas de histórias antigas não teria nada a ver com um possível desencantamento do público por temas mais contemporâneos. “Sou apaixonado por novelas de época, mas não estamos fazendo uma narrativa deste gênero porque as pessoas cansaram de assistir a atualidade. Na verdade, o espectador gosta de boas histórias e é isto que a Globo está trazendo. Cada uma possui roupagens bem diferentes Tradicionalmente, o horário das 6 costuma exibir tramas antigas que contam a história do nosso país, o horário das 9 mostra uma realidade mais densa e o das 7 traz um mundo divertido e fantasioso, muito distante de nós”, garantiu o diretor artístico.
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