*Por Brunna Condini
Seguindo as mudanças na vida social em decorrência da pandemia do novo Coronavírus e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a atração Trace Trends, na Rede TV!, leva ao ar o segundo episódio, da segunda temporada do programa, nesta terça-feira, às 22h:30, ainda de forma remota. O programa, que tem apresentação do influenciador de conteúdo o head de marketing da Trace Brasil AD Júnior, e do jornalista Alberto Pereira Jr, que também assume a direção, tem sido gravado através de smartphones, para manter a segurança de todos.
No programa inédito, a dupla recebe o rapper Emicida que vai falar sobre hip hop, o Brasil e a relação Brasil África. Além dele, a atração vai dar voz ao estilista Isaac Silva e à jornalista Luiza Brasil, que vão propor reflexões sobre os novos caminhos da moda. “Estamos sempre produzindo e compartilhando a cultura afro, jovem e urbana no Brasil. Nosso canal é uma vitrine positiva que pretende trazer o que temos de melhor. São pessoas que têm muito a oferecer ao país, são inventivos, não vamos falar sobre miserabilidade, porque isso já vemos aos montes. É um programa zero político, no sentido de que não queremos falar mal de ninguém. Não é um programa de militância”, esclarece AD Junior. “Queremos contar nossas próprias histórias. Pessoas negras e periféricas têm o direito de ligar a TV e não se ver como objetos de estudo, como personagens caricatos. Temos muita gente fazendo trabalhos bacanas, olha o Emicida, a Iza, a Preta Rara, e tantos outros. Neste programa também vamos ter a chef e jornalista Larissa Januário, criadora do blog Sem Medida e do projeto Jantar Secreto, falando da comida de Moçambique, e o humorista Yuri Marçal.Temos muitas histórias positivas para contar. Se nós começarmos a projetar um futuro em que os negros estão de forma positiva, as pessoas vão entender que hoje é muito menos sobre a nossa dor e muito mais sobre a nossa resistência”.
Há alguns anos Adilson dos Santos Júnior, o AD Júnior, também tem o canal Descolonizando, no YouTube, em que procura tratar didaticamente do racismo estrutural. “Primeiro montei um canal sobre viagens, e já no primeiro vídeo veio gente perguntando se eu era filho de traficante, porque para estar na Europa devia ser. Diziam que não sabiam que “macaco podia voar de avião”. Vi que era urgente tratar do racismo ali, porque o YouTube era uma plataforma branca, tinha muita retórica pautada no racismo”, recorda o influenciador, que mora em Hamburgo, na Alemanha. “Então, decidi fazer um canal para educar, para que as pessoas pudessem entender historicamente onde isso começou, e que o racismo é da conta de todo mundo”.
Discussão profunda
O comunicador fala sobre o combate ao racismo e preconceito na mídia. “Muitos brancos não conseguem ver pessoas negras como produtores de conteúdo”, diz. “Na atração da TV temos uma tática para alcançar as pessoas, que é falar de forma positiva sobre os movimentos. A Trace tem dado espaço para muitos artistas da cultura afrourbana na TV aberta e nas redes sociais, com um conteúdo original e bem próximo da audiência”.
Você postou há poucos dias no Instagram, um vídeo com comentários seus sobre a conversa de Xuxa Meneghel com Pedro Bial, no programa dele, e escreveu: “Quem sabe um dia a Xuxa não possa ser uma anti-racista ao invés de ser contra o racismo. Já o Peter Bial… Puff já ouviu Tia Má, Emicida, Yuri e tantos outros e ainda acredita que o Lobato era um gênio. Ou seja né…”. Quer falar sobre isso? “É bom começar dizendo que não é mimimi, vitimismo. Assisti à entrevista do Pedro Bial com a Xuxa, falando sobre racismo, sexualidade e outros temas. Ela consegue pontuar muitos momentos na carreira que deviam ter posicionamentos revistos, mas o único momento em que ela se exime, é quando fala da questão racial. Isso, porque em um país como o nosso, encontramos pessoas como o Pedro Bial, que parecem aliados. Adoram aparecer em eventos pretos de vez em quando, se colocando como aliados, mas neste programa, exalta o Monteiro Lobato, diz que não tem nada a ver. Monteiro Lobato era racista. É preciso amadurecer as ideias sobre o comportamento racial de uma sociedade, é urgente”, aponta. “É refletir e dizer, que estamos em uma sociedade que funcionou dessa forma, e muitos que estavam neste sistema, mas agora têm a oportunidade de aprender. A questão de falar de racismo hoje, é uma discussão atrasada. O Brasil está 50 anos atrasado em relação aos afro-americanos nesta discussão. E lá somos 14% da população, aqui somos 56%. Então, quando o Bial, que é um homem branco, insiste em colocar a posição dele em defesa de um homem racista, celebrando Monteiro Lobato, é ruim. Se nós negros, tivéssemos sido ouvidos pelos brancos, eles já saberiam disso. Há uma necessidade de colocar em perspectiva, um racismo que o Brasil não deseja discutir. Em nosso país, a história dos negros, não importa, é menor. O Brasil foi o país que mais importou negros escravos: foram 5 milhões, mas ninguém fala do nosso holocausto, falta empatia. Precisamos entender como essa história nos trouxe até aqui. A mazela racial é a origem de muitos males. Ainda temos que lutar com nossos pretos e pretas: ou sendo vítimas de piadas em escolas particulares ou levando bala. Quero trazer essa discussão sempre nas redes, de forma simples, para quem tiver vontade de produzir novos pensamentos para um Brasil mais inclusivo”.
AD Júnior destaca ainda, o cenário em que a curva de contágio do Coronavírus cresce por aqui. “A Covid-19 chega em um momento incrivelmente complicado. Começamos a observar a desigualdade extrema, mas só que com uma doença mortal, que não sabemos lidar. Ainda romantizavam a favela e, agora, o Brasil escancara para o mundo o que sempre esteve na sua essência. Duvido que as pessoas vão continuar romantizando a pobreza, a favela, a luta diária do trabalhador no ônibus lotado. Aquela patroa lá que mandou a empregada para casa e sabia que tinha Covid, e a empregada morreu. É assim que muitos tratavam e tratam nossas avós, nossas mães. Temos o projeto Trace sua Voz, para dar oportunidade às pessoas de falarem o que estão fazendo. Também estão na linha de frente as pessoas das favelas, dos coletivos, que não param de trabalhar. Que país é esse, que tem um grupo de pessoas que podem se recolher e outras que precisam tentar remediar tudo o que nunca foi sanado, e de forma urgente, se esforçando para salvar vidas? Queremos e merecemos um país com mais oportunidades para todos”.
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