Atores respeitados e conhecidos ao lado de novas atrizes que já estão dando uma amostra de um futuro brilhante foi o resumo do que rolou ontem no Festival de Cinema de Gramado. O filme que está concorrendo na categoria de melhor longa-metragem nacional desta noite foi Duas Irenes, de Fabio Meira. A trama gira em torno de uma adolescente de 13 anos que descobre que seu pai possui outra família e, inclusive, tem uma outra filha com a mesma idade e nome que o dela. A curiosidade da menina a levou mentir sua identidade para se aproximar da irmã e tentar entender os motivos que levaram seu pai a continuar com uma vida dupla. “Queria muito agradecer ao Festival de Gramado pelo carinho que tiveram com a gente até agora. O evento tem sido muito importante para a história das Duas Irenes porque o filme ia ser lançado em janeiro, mas a nossa distribuidora adiantou para setembro, dia 14”, afirmou o diretor e roteirista Fabio sobre seu primeiro filme.
O elenco conta com famosos atores como Marco Ricca e Inês Peixoto. Contracenando com esta turma está o elenco mais jovem composto por Isabela Torres, Priscila Bittencourt e Maju Souza que juntas expõem tabus da sociedade. “Queria muito agradecer a equipe e ao elenco cujas pessoas admirei desde sempre, como a Susana Ribeiro e Marco. Pessoas que nunca imaginei fazer parceria. A Virginia Flores, uma das profissionais que trabalha com a gente, foi a minha primeira professora de montagem há 15 anos quando decidi estudar cinema. São momentos muito especiais. A gente não estaria aqui se não fosse a entrega das duas meninas, a Isabella e a Priscila. Além do talento, tive a sorte de encontrar com os pais delas que nem leram o roteiro, simplesmente confiaram no nosso trabalho. Tivemos muitos percalços no caminho mas encontramos uma equipe e um elenco muito generoso. A produção foi feita com muito amor, hoje somos uma família. Espero que as pessoas sintam o amor na tela do cinema”, explicou Fabio sobre sua relação com o elenco em um filme que demorou oito anos para ficar pronto.
A exibição no Festival de Gramado foi a estreia nacional do longa-metragem. Durante o discurso de apresentação, a produtora Diana Almeida falou sobre a importância política do evento. “Estamos vivendo um momento no país muito assustador e triste e queria dedicar esta sessão para todos os realizadores de cinema e de audiovisual que estão resistindo e lutando para preservar a nossa cinematografia que sempre existiu com muita luta. Espero que este festival no futuro seja lembrado pela classe não ter ficado quieta”, apontou Diana.
A noite exibiu também dois curtas. O primeiro, com apenas onze minutos, dialogava com o público infantil ao mostrar um menino que gostaria de ser doutor de monstros e todo o enredo se baseia em uma fantasia que parece se tornar real. “Este é o meu primeiro curta e está sendo uma honra exibi-lo para vocês no festival de gramado”, afirmou o diretor e roteirista do filme Médico De Monstro, Gustavo Teixeira. Saindo desta atmosfera e entrando em um tema pesado na produção de A Gis, que fez a plateia questionar a realidade. O documentário de Thiago Carvalhaes relembra a história de uma travesti que foi morta em Portugal devido a sua orientação sexual.
Como cinema não é feito só a partir do produto final, o Festival homenageou nomes que fizeram história nos 45 anos do evento. O crítico de cinema e jornalista do Estadão, Luiz Carlos Merten, recebeu uma placa em honra a todos os anos cobrindo com excelência as premiações de Gramado. “A gente promete que não vai se emocionar, mas quando chega aqui no palco acaba acontecendo, porque é um espaço privilegiado e sagrado. Estamos em um momento grave e complicado e o cinema tem o compromisso de defender a nossa identidade”, afirmou o jornalista. Quem fica atrás das câmeras também recebeu palmas e elas foram para o técnico de iluminação Wilton Soares Matins. A já falecida produtora de cinema Monica Schmiedt também foi lembrada por sua trajetória. Com 20 anos participando do evento, a atriz Araci Esteves subiu ao palco também para receber a placa de honra. “É um privilégio estar ao lado de pessoas que não desistem de fazer arte”, agradeceu a atriz.
Esta noite foi muito importante para o cinema gaúcho, pois os curtas-metragens da região foram premiados com o troféu Assembleia Legislativa e, na sua grande maioria, a quantia de quatro mil reais. A melhor atriz foi Mariana Yomared pelo curta Yomared, o melhor ator foi João Pedro Bratch por 1947 e o melhor filme foi Secundas, de Cacá Nazario.
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