Chegou a vez do cinema independente do Brasil ganhar o mundo! Que a Netflix é um sucesso ninguém pode duvidar, no entanto, até o ano passado, eram poucas as produções integralmente realizadas em solo verde e amarelo, que retratavam um pouquinho da nossa riquíssima história. Hoje, os tempos mudaram e a cada momento surgem novos frutos de uma geração de cineastas que têm o privilégio de ver a exibição de seus trabalhos mesmo estando desvinculados à grandes distribuidoras. A partir daí, para incentivar ainda mais a produção nacional, a plataforma queridinha dos cinéfilos de plantão voltou a coroar os melhores longas com a segunda edição do Premio Netflix (a primeira foi em 2013), que aconteceu na noite desta quarta-feira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e elegeu “Ventos de Agosto” e “O Último Cine Drive-in” como os grandes destaques de 2016. Nós do HT, claro, estávamos lá para acompanhar esse grande momento, que contou com a presença de diversos artistas.
Dirigido por Gabriel Mascaro, do polêmico “Boi Neon”, “Ventos de Agosto” foi a escolha do júri técnico, composto pelos atores Alice Braga e Fabrício Boliveira, pelos diretores Cesar Charlone e Fernando Andrade, a cineasta Adriana Dutra e os influencers Hugo Gloss e Lully de Verdade. Lançado em 2014, a película é uma mistura de gêneros narrativos que conta a história de Shirley (Dandara de Moraes) e Jeison (Geová Manoel dos Santos), casal que trabalha em uma fazenda de cocos de uma cidade litorânea de Pernambuco e vê sua vida mudar quando um estranho pesquisador aparece no local para registrar o som dos ventos alísios.
Dandara de Moraes, protagonista da história, comemorou o prêmio e acredita ser um grande passo para estimular as produções brasileiras. “Fiquei impressionada por concorrer, porque é um filme muito poético. É um orgulho ver uma produção independente, de baixo orçamento e filmada em pouco tempo agora ganhar o mundo. É um reconhecimento não só para o filme, mas também para o cinema pernambucano. Acho que a delicadeza, a simplicidade e a ousadia do filme conquistaram o público e principalmente os nossos jurados. Ganhamos na simplicidade”, comentou a atriz, que é fã assumida de séries. “Eu assisto muito. Eu acredito que todas as plataformas são muito bem-vindas se estiverem divulgando o nosso cinema e as nossas produções”, avaliou.
Os vencedores, que terão ao menos um ano de licenciamento em 190 países, concorreram com mais oito filmes independentes: “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós” (2015), de Petrus Cariry, “My Name is Now, Elza Soares” (2014), de Elizabete Martins Campos, “Levante!” (2015), de Susanna Lira, “Califórnia” (2015), de Marina Person, “Porque Temos Esperança” (2014), de Susanna Lira, “À Queima Roupa” (2014), de Theresa Jessouroun, “Obra” (2014), de Gregorio Gaziosi e “A História da Eternidade” (2014), de Camilo Cavalcante. No entanto, ainda não há previsão de quando os filmes estarão disponíveis no catálogo.
Já “O último Cine Drive-in”, de Iberê Carvalho, agradou ao público que votou pelo site — foram mais de 35 mil votos no prêmio. Também de 2014, o longa brasiliense conta a história de pai e filho que são obrigados a encarar o presente e a reviver o passado. Marlombrando (Breno Nina) se vê obrigado a voltar à sua cidade de natal, devido à doença de sua mãe. Lá, ele reencontra seu pai, Almeida (Othon Bastos), que insiste em manter vivo o Cine Drive-in, do qual é dono há 37 anos e que já não está atraindo mais espectadores como na década de 1970. “É o meu primeiro longa-metragem e de cara ser premiado é uma emoção sem tamanho. É a coroação de todo um processo que começou lá em 2009, quando tive a ideia desse roteiro. E o mais legal é que fomos escolhidos pelo público. Se o espectador abraçou essa ideia não tem como a gente questionar”, revelou, reafirmando a nova cara do consumidor de cinema. “Eu acho que o público mudou e a sociedade mudou. Os drive-in, por exemplo, estarem sumindo é uma coisa natural, mas acho que todas as formas de consumir filmes devem ser estimuladas. Seja no coletivo das salas de cinema ou em casa na televisão ou pelas novas plataformas”, disse.
Jurada do prêmio, a atriz Alice Braga, que atualmente estrela a série americana “A Rainha do Sul”, exibida no Brasil pelo canal Space, disse que foi uma escolha difícil, mas que a premiação é importante para dar visibilidade internacional ao cinema brasileiro. “São filmes menores de certa forma, pois são independentes e de orçamento mais baixo e que encontram dificuldades na distribuição. Fico muito feliz que a Netflix vai levá-los para o mundo agora. Com os contratos de licenciamento global os filmes vencedores serão disponibilizados durante um ano para os 190 países onde a Netflix opera”, disse ela, que tem visto com bons olhos a nova forma de consumir audiovisual. “De fato, a gente ganhou um novo espaço ainda mais democrático para expor nossa produções. Essa conversão para as plataformas digitais vai estimular muito mais a atrações de boa qualidade”, revelou.
Também compondo a bancada de jurados, o blogueiro Hugo Gloss garantiu que foi preparado para avaliar as produções independentes do país. “Os filmes estão representando muito bem a produção nacional. É incrível ver a televisão migrando para as plataformas digitais também. Hoje a audiência pode ser controlada também pelo número de views. O futuro chegou”, disse ele, que ainda comentou seu envolvimento com a sétima arte. “Eu sempre fui um apaixonado por filmes. Minhas coberturas internacionais também têm me ajudado muito a estar conectado com esse universo”, disse. Já a cineasta e criadora do Brazilian Film Festival of Miami, Adriana Dutra comentou a qualidade do cinema independente nacional. “É um prêmio importantíssimo para o setor. É uma forma de a gente chegar ao mundo. A Netflix democratizou o setor de distribuição de cinema e foi uma experiência muito enriquecedora pra mim. A seleção de filmes que eles nos apresentaram foi espetacular. Sem demagogia, foi dificílimo escolher os vencedores. Os dois que ganharam são lindos”, avaliou.
Por fim, o ator Fabrício Boliveira, que está no ar na série “Nada Será Como Antes”, da Rede Globo, falou sobre a questão da distribuição dos filmes no Brasil. “Foi uma super responsabilidade escolher os dois filmes que vão representar o nosso país em 190 países pelo mundo. Conheci filmes incríveis, que abriram o meu olhar sobre a questão da deficiência da distribuição. Dos dez concorrentes, eu só conhecia dois. Então eu percebi que a gente tem que estar muito mais atento a isso. São filmes que falam da gente e que unem ainda mais o nosso povo. O ‘Ventos de Agosto’ é um filme totalmente preparado para rodar o mundo”, avaliou, comentando sobre o convite de integrar o juri. “Me senti lisonjeado com a oportunidade de estar aqui. É muito legal ver que artistas negros e brasileiros estão sendo lembrados por seus talentos e competência. É muito cafona a gente se separar por causa de cor”, disse. Após três anos da primeira edição ter sido realizada, o segundo Prêmio Netflix foi lançado no dia 13 de setembro. Com votação expressiva no Twitter e no Facebook, a plataforma computou um total de votos que superou a marca de 35 mil votos.
Logo após a premiação, uma constelação de astros e estrelas abrilhantou ainda mais o tapete vermelho do evento que contou com show dos cantores Jhonny Hooker e Seu Jorge. Além das apresentações individuais, os artistas ainda dividiram algumas canções emblemáticas de Tim Maia e Gilberto Gil. Sorte de quem pode acompanhar esse encontro de perto. Aproveitando ainda para divulgar as novas produções da marca, a Netflix convidou o Elenco de “3%” e “O Matador”, primeiras séries totalmente criadas no Brasil pela marca.
Na platéia, nomes como Luana Piovani, Bianca Comparato, Cris Vianna, Bruno Garcia, Guilherme Fontes, Gabriel Godoy, Tatá Werneck e Tiago Iorc aproveitaram a noite para prestigiaram a coroação da nova cara do cinema nacional. Confira o look dos famosos na nossa galeria:
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