O filme Aos Teus Olhos, de Carolina Jabor, que estreia nesta quinta, 12 de abril, promete instigar o debate nas salas de cinema. O longa já começa com um pano de fundo polêmico ao falar sobre um possível caso de pedofilia praticado por um professor de natação contra um de seus alunos pré-adolescentes. A partir desta denúncia, os pais do menino resolvem expor o caso nas redes sociais, mesmo sem provas. Com isso, a vida do instrutor se torna um inferno ao se tornar alvo de várias críticas e julgamentos na internet. “O fato de estarmos vivendo em tempos sombrios fez com que a gente quisesse falar sobre temas polêmicos e delicados, porque acho que devemos debater e refletir sobre estas questões. Quanto mais pudermos levantar debates melhor será, porque estamos nos deparando com novas formas de comunicação, de justiça, de relação e de afeto. Falar sobre isto nos faz compreender melhor”, afirmou Carolina Jabor. A trama foi interpretada por Daniel Oliveira, Marco Ricca, Malu Galli, Luisa Arraes e muitos outros.
A história chega aos cinemas nesta quinta-feira e, mesmo não tendo sido rodada agora, o tema consegue ser muito atual. Todos os dias vemos casos de pessoas que são difamadas nas redes sociais ou simplesmente são criticadas e condenadas, sem qualquer prova, pelos famosos haters. Além disso, o enredo também relembra os inúmeros casos de fake news que são compartilhadas diariamente no Whatsapp e no Facebook. “Acho que o meu maior desafio foi tratar a ficção como realidade na busca de me aproximar de situações verdadeiras. Tentei chegar ao real nos mínimos detalhes como os movimentos da ação e o tom dos atores. Como estamos falando de temas atuais que fazem parte do nosso dia a dia, era preciso esta tentativa de alcançar a naturalidade”, explicou a diretora.
Além disso, mesmo o assédio infantil não sendo o tema central da história foi preciso um cuidado extra de toda a equipe no momento de falar sobre este assunto. “De qualquer forma, é um tema muito forte e por isso resolvemos apenas citar o problema. Não mostramos nada que possa sugerir a pedofilia”, comentou. Foram exatamente estes toques de realidade que instigaram o ator Daniel Oliveira a aceitar participar do longa interpretando o protagonista.
O enredo do filme promete deixar o espectador conectado à tela do cinema devido ao suspense que há na história. Ao longo de toda a trama, o público não sabe exatamente se o professor realmente é culpado, o que deixa tudo ainda mais em aberto. “Este é um filme forte e delicado, cheio de pontos interessantes. Tem muitas contradições. Às vezes, o espectador acha que o professor é culpado e, logo depois, inocente. Para alcançar este nível de complexidade do personagem foi preciso de muito cuidado e dedicação da Carolina Jabor e do Lucas Paraizo, que é o roteirista. Quando eu cheguei, não precisei fazer muita coisa era só atuar”, contou Daniel Oliveira.
A incerteza sobre a real personalidade do papel não fica restrita ao protagonista. A personagem de Luisa Arraes também possui um caráter obscuro na trama. “Ela é a namorada do personagem do Daniel e a única que não tem nenhuma dúvida de que ele não assediou o menino. Ao mesmo tempo, existe um caráter dúbio nesta relação porque é uma ex-aluna dele. Todos os papéis possuem dois lados do que eles podem ou não ser”, explicou a atriz.
Apesar da qualidade do texto e da direção, o ator precisou fazer a lição de casa para interpretar este papel. Por se tratar de uma figura polêmica e introspectiva, Daniel estudou bastante. “Fiquei alguns dias, em uma sala da Conspiração, lendo e debatendo com a equipe desde 9 da manhã até 8 horas da noite”, comentou. Tudo o que ele precisava para fazer este protagonista estava na equipe e, mesmo assim, buscou alguns filmes para se inspirar. De todos, somente um tocou de fato o artista. “O longa dinamarquês chamado A Caça me marcou muito por ser um tema similar ao que estamos tratando. Na trama, existe este julgamento antecipado e as críticas. Além disso, os dois se pareciam muito por não se posicionar naquela situação, ambos ficavam quietos frente às acusações”, explicou.
De acordo com um levantamento feito pela Agência Nacional de Cinema, a Ancine, somente 20,3% dos filmes haviam sido dirigidos por mulheres. Sendo assim, Aos Teus Olhos é um dos poucos longas que fazem parte desta categoria. “Estamos em um bom momento para falar sobre o feminismo. Acho que as mulheres estão ganhando força e a minha contribuição à representatividade no cinema é através do trabalho. Temos que ir em frente como qualquer outra pessoa, porque a igualdade é importante. É preciso ter confiança e cara de pau. Estamos no século XXI e penso que devemos resolver estas questões agora para não levarmos para o próximo”, afirmou Carolina Jabor.
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