‘No Limite’ e a reflexão sobre a necessidade de assistir ‘perrengues’ na TV agora

*Por Brunna Condini

Estamos vivendo “no limite’ há pouco mais de um ano desde que a pandemia no novo coronavírus eclodiu no mundo. No entanto, ainda seremos espectadores de um reality que tem como proposta testar ao máximo a resistência física e a resiliência emocional de seus participantes: ‘No Limite’, estreia na Globo, na terça-feira (11) levando 16 ex-BBBs para a fictícia praia Brava, no Ceará, a 100 quilômetros da capital Fortaleza, com apresentação de André Marques no formato. A emissora aproveitou a audiência e o sucesso do BBB21, que chegou ao fim semana passada, e praticamente ‘emendou’ uma atração na outra, não deixando os fãs de reality show ‘órfãos’ por muito tempo.

André Marques apresenta a nova versão de ‘No limite’, 11 anos após a última edição (Divulgação)

‘No Limite’ foi o primeiro reality show por aqui, apresentado por Zeca Camargo há 21 anos, em quatro edições. Recentemente, o jornalista desejou sorte aos novos participantes, inclusive revelando sua torcida de cara, em seu Instagram. “Toda a força do mundo aos bravos e corajosos participantes de “No Limite” 2021. Acredite: vocês vão precisar dela! Naturalmente, um dos favoritos (e uma escolha que pessoalmente me agrada, por eu ter uma admiração pessoal por ele) é o @kaysar.dadour . Alguém que tem uma história de superação como a dele certamente vai tirar de letra vários desafios que, como eu conheci bem, o programa vai oferecer. Mas é bom lembrar também que a vencedora do programa de estreia foi a improvável (e maravilhosa!) @elaine.c.melo … Ah, 2000… quantas lembranças boas – inclusive esta foto que eu compartilho hoje, tirada em Barra de Sucatinga (CE), num raro intervalo das gravações daquela primeira temporada. A febre que o primeiro reality da nossa TV provocou no Brasil já estava evidente neste muro simples, que se orgulhava de estampar o nome da atração – de um jeitinho todo especial… Que a atração repaginada venha com o mesmo gás – e o mesmo entusiasmo. E Kaysar: na largada, estou contigo! Aí começa o imprevisível…”, postou Zeca, que saiu da Globo ano passado, após 24 anos de trabalho na emissora.

Na edição 2021 do reality poderemos rever André (BBB13), Angélica (BBB15), Arcrebiano (BBB21), Ariadna (BBB11), Carol Peixinho (BBB19), Elana (BBB19), Gleici Damasceno (BBB18), Gui Napolitano (BBB20), Iris Stefanelli (BBB7), Jéssica (BBB18), Kaysar (BBB18), Lucas Chumbo (BBB20), Mahmoud (BBB20), Marcelo Zulu (BBB4), Paula Amorim (BBB18) e Viegas (BBB18), em situações bem diferentes das que o vimos no Big Brother Brasil, atrás dos R$ 500 mil que estão em jogo.

A quinta temporada da atração deve ter 11 episódios semanais, às terças-feiras, logo após a novela das 21h, e a final está prevista para o dia 20 de julho. André Marques explica a dinâmica: “Os participantes serão divididos em duas tribos: Carcará e Calango, cada uma com o seu acampamento. O primeiro desafio que as equipes encaram é a ‘Prova de Privilégios’, na qual o grupo vencedor poderá conquistar objetos que facilitam a vida no acampamento, como facas ou fósforos. Depois de dormir na mata, os participantes precisarão driblar o cansaço e encontrar forças para o segundo desafio – esse, ainda mais importante, a ‘Prova da Imunidade’, todo o grupo vencedor garante a permanência no reality por mais uma semana. Já a equipe perdedora deverá se preparar para dar adeus a um dos seus e segue para o ‘Portal de Eliminação’, onde cada um dos membros da equipe perdedora deverá escrever o seu voto e​m um pergaminho e depositá-lo em uma urna. Ao final de cada programa, o mais votado será eliminado”.

Os participantes da quinta edição do ‘No Limite’: todos são ex-BBBs e já estão passando pelas provas que serão transmitidas a partir do dia 11 (Divulgação)

Se por um lado, com a ameaça constante de contágio da Covid-19, investir nos realities, que testam e confinam pessoas, pode ser uma decisão bem acertada da emissora e um investimento talvez menos arriscado por isso, por outro, essas mesmas pessoas, os participantes, até bem pouco tempo, estavam aqui, no mundo real, e como nós, imersos no cenário de angústia e apreensão da pandemia.

Segundo pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e cedida à BBC News Brasil, 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. E fica a pergunta: estarão eles preparados para neste momento terem seus extremos testados em rede nacional? Sim, eles escolheram isso e até assinaram embaixo. Mas vale a reflexão. E mais: não seria o caso de pensarmos se já não estamos suficientemente ‘no limite’ como espectadores? Por que curtiríamos ver as pessoas passando tantos perrengues na TV? O público vai amar ou rejeitar?

A nosso convite, a psicóloga Luiza Martins comenta o tema. “Apesar do programa ser de entretenimento, e os realities shows serem atrações que têm agradado os espectadores mais do que nunca neste momento, também tem outro lado, esse do foco do programa, que é o das pessoas irem até o máximo nos seus limites internos e externos”, observa.

Primeiras imagens do reality que vai testar os extremos físicos e emocionais dos participantes (Divulgação)

“E por estarmos em um momento de muita tristeza mundial, de dificuldades, muitos lutos – até porque vale salientar, que não temos o luto só da morte. Ele engloba todas as perdas: sonhos, oportunidades, empregos – , as pessoas acabam tendo uma necessidade maior de assistirem coisas mais leves, divertidas. Então, essa rejeição pode até acontecer em algum momento, por gerar algum tipo de angústia, ansiedade, além do que se suporta agora, por conta da pegada do programa mesmo”, pontua Luiza Martins.

Vale lembrar que o BBB21, pouco depois da sua estreia, ainda que com boa audiência, despertou sentimentos de ‘raiva’ e ‘gatilhos’ no espectador, através das atitudes de alguns dos confinados. As ‘tretas’ na casa foram tão pesadas que geraram sentimentos negativos, atrelados à saúde mental de quem assiste, segundo pesquisa realizada pela Hibou, empresa de monitoramento de mercado e consumo. Ao fim, as discussões levantadas acerca de temas como violência psicológica, cultura do cancelamento e racismo foram proveitosas, mesmo que os episódios fossem completamente dispensáveis e inadmissíveis em um mundo que urge por respeito à pluralidade de existir.