‘No Limite’: André Marques decepciona como apresentador e reality sem interação do público pode não agradar


O reality, que testa diariamente a resistência e a capacidade de ‘sobrevivência’ dos seus participantes, em nada lembra o recente BBB. O que leva alguém a ir adiante no jogo e engajar o público? Segundo o pesquisador em teledramaturgia Valmir Moratelli, “não tem o pay-per-view e só entra na grade uma vez por semana. O público acaba se desligando. ‘No Limite’ muito datado. Funcionou bem e foi uma fórmula interessante lá em 2000, quando deu o start à fórmula de reality show no Brasil”

*Por Brunna Condini

O primeiro episódio do reality ‘No Limite’ se saiu bem em audiência, apesar das críticas que já surgiram sobre André Marques como apresentador. A atração enfrentou um jogo da Libertadores, no SBT, e o ‘Power Couple Brasil’, na Record TV), cravou 21 pontos de média. Na terça-feira passada, com noite de eliminação, a Globo cravou 34 pontos. Mahmoud Baydon recebeu cinco votos dos colegas de equipe e foi o primeiro participante a deixar o programa. Embora o diretor da atração, Boninho, tenha comemorado a estreia nas redes por conta da boa audiência, o reality ainda precisa de ajustes que talvez possam ser realizados durante os próximos episódios.

Mahmoud Baydon recebeu cinco votos dos colegas de equipe nas última terça-feira e foi o primeiro participante a deixar o programa (Divulgação)

Mahmoud Baydon recebeu cinco votos dos colegas de equipe nas última terça-feira e foi o primeiro participante a deixar o programa (Divulgação)

A performance de André Marques à frente da atração, que ganhou nova chance na grade da emissora após 11 anos, foi bem criticada nas redes sociais. Se for nervosismo… é até razoável e vamos acompanhar o desenrolar do reality. Também gerou crítica na web o fato de ele não ter feito uma introdução com ‘cenas’ dos participantes, ex-BBBs, para contextualizar para uma nova geração que não acompanhou todas as edições do reality. Isso ajudaria o público a se localizar e já engajar na torcida. Para um primeiro capítulo sobrou ação e faltou enredo. Qual foi o critério de formação dos grupos? Não ficou claro. A previsão é que o ‘No Limite’ vá até julho, sempre às terças após a novela ‘Império’. Então, ainda tem muita ‘água’ para rolar e episódios para que o espectador possa verdadeiramente se ‘encantar’ pelos personagens da atração e eleger sua torcida.

André Marques 'elimina' Mahmoud Baydon no primeiro episódio em que sobrou ação e faltou 'enredo' (Reprodução)

André Marques ‘elimina’ Mahmoud Baydon no primeiro episódio em que sobrou ação e faltou ‘enredo’ (Reprodução)

Mahmoud parecia esperar por sua eliminação: “Reconheço que não tenho tanta força”, declarou quando foi indicado pela maioria para deixar o jogo. E após a eliminação, desabafou em uma live do Multishow. “Eu vou ser bem sincero, me senti a bicha na aula de Educação Física. Se você é bicha afeminada como eu, você vai me entender. Eu tirava dez, nove nas disciplinas e seis ou sete em Educação Física. A galera me dava sete só para eu não reprovar”, disse ao apresentador Bruno de Luca. E completou: “Fui porque queria viver a experiência, eu sou um colecionador de experiências”.

Mas ‘No Limite’ é ‘brincadeira’ que envolve literalmente a sobrevivência no jogo e exige dos competidores uma dose extra de preparo e ações concretas para irem até o fim. Desejar não basta. Olhando para o passado do reality, o que faz com que alguém vá longe em uma competição como essa?

O pesquisador em teledramaturgia, Valmir Moratelli, analisa: “Primeiro, temos que observar que é um programa muito diferente do Big Brother Brasil, porque é um reality que envolve a convivência e mais a resistência. O foco principal não é o desgaste pela convivência, mas pelas relações de prova: quem tem mais força física acaba tendo mais chances de ficar. Ao contrário de um Big Brother que você precisa fazer alianças e não da força física para conquistar o grupo. No BBB essa capacidade só ajuda nas provas de resistência”, destaca Valmir. “‘No Limite’ tem essa dinâmica mesmo muito diferente de um Big Brother. Quem tem mais arranque, pulmão, força e estômago para comer iguarias esquisitas se sobressai e acaba ganhando”.

Andrea Baptista come olho de cabra na Prova do Banquete, na primeira edição do No Limite (Foto: Reprodução/TV Globo)

Andrea Baptista come olho de cabra na Prova do Banquete, na primeira edição do No Limite (Foto: Reprodução/TV Globo)

No entanto, ele salienta: “Também tem um lado que deve ser analisado. O grupo pode rejeitar quem não tem esses atributos. É diferente do que se espera. Como, por exemplo, as pessoas que não se adequam a determinados padrões físicos para enfrentar as provas que exigem muita resistência. Apesar de na primeira edição de  ‘No Limite” quem ganhou foi a participante Elaine, que estava com sobrepeso. Ela se saiu bem em uma prova e conseguiu ganhar dos outros, que a imaginavam mais fraca. E essas exceções quando acontecem acabam causando comoção no espectador”.

Elaine Melo venceu o primeiro No Limite há 20 anos, surpreendendo quem apostava em outros competidores (Reprodução)

Elaine Melo venceu o primeiro No Limite há 20 anos, surpreendendo quem apostava em outros competidores (Reprodução)

Valmir observa ainda a dinâmica do jogo e a empatia do espectador. “O público costuma torcer para o menos óbvio, o mais vulnerável. Uma lógica que veio lá do BBB e acaba indo para outros realities”, opina. “Outro ponto, que pode ser desfavorável à atração, é que o ‘No Limite’ não tem a votação do espectador. Isso faz com que o interesse caia, porque você não tem tanto acesso ao que acontece no jogo. Não tem o pay-per-view e só entra na grade uma vez por semana. O público acaba se desligando. Eu acho o ‘No Limite’ muito datado. Deu certo e foi uma fórmula interessante lá em 2000 quando deu o start à fórmula de reality show no Brasil. Hoje, com a força das redes sociais, do streaming, do público ser o seu próprio programador, acredito que esse reality se enfraqueça em termos de alcance, porque o público já está acostumado a outro tipo de participação, na qual ele pode interferir também na dinâmica do jogo e decidir quem vai adiante”.

E finaliza: “É um programa que vem muito na onda da nostalgia. Talvez por isso mesmo a emissora tenha trazido novamente. Estamos acompanhando esse momento de novelas antigas e de rever sucessos nessa fase de pandemia em que o inédito está meio em suspensão na TV. Então, trazer esse reality é resgatar a memória afetiva de uma parcela grande do público. Mal comparando com o que acontece com as telenovelas no canal Viva, por exemplo, é voltar no tempo. Reviver o ‘No Limite’, mesmo em nova edição, trazendo participantes antigos do BBB, tem essa pegada de trazer outros tempos para um recorte mais contemporâneo”.