*Por Brunna Condini
Atriz, bailarina, escritora e dramaturga, Claudia Mauro tem vivido intensamente cada conquista dos seus 55 anos de vida e dos 43 de carreira: nos palcos, na TV e agora no streaming também. Ela faz um participação especialíssima em ‘O Jogo que Mudou a História‘, série Globoplay que retrata o surgimento das facções criminosas do Rio de Janeiro e estreou quinta-feira (dia 13). A atriz é a mãe de Egídio (Ravel Andrade), um dos protagonistas da história, jovem de classe média, que vai parar no presídio de segurança máxima de Ilha Grande após atropelar e matar uma moça acidentalmente. “Mexeu muito comigo, é uma história brutal. Tenho um filho homem, então é inevitável me colocar neste lugar e sentir a agonia dessa mãe”, diz Claudia, mãe dos gêmeos Carolina e Pedro, de 12 anos, da união com Paulo César Grande.
Na TV, ela está em ‘Reis‘, na Record, como uma rainha misteriosa, narradora da trama. Apesar da longeva carreira, Claudia diz que não existe estabilidade na trajetória. Ela segue listando os projetos em que tem se desdobrado. “Estou ensaiando o meu primeiro monólogo, também texto meu, ‘Tempo que existe em mim’, que pretendo estrear em agosto. É sobre uma mulher às voltas com suas reflexões, seu mundo interior, tem muita performance. O texto tem o fluxo de um pensamento, tem muito humor, mas ao mesmo tempo também falo sobre essa questão do tempo que vivemos dentro de nós, que não é o tempo do mundo. Falo de mim mesma, que sou muito ansiosa. Brinco que nasci de oito meses, que sou ansiosa desde lá, e que essa ansiedade me acompanha até hoje”, diz Claudia, que também escreve um filme com Marcelo Novaes, ‘Silenciados‘, tendo como pano de fundo essa era da tecnologia. Ela está ainda em fase de captação de outra peça, escrita para Giuseppe Oristânio e o marido, Paulo César Grande, ‘A última estação‘, também sobre o tempo e uma grande amizade;
Sempre trabalhei com contrato por obra. Só tive contrato longo uma vez na vida, na Globo, logo após ‘História de Amor’ (1995). Mas vejo isso sem desespero, porque sempre tive vida fora da TV” – Claudia Mauro
Sempre produzi, fiz muito teatro. Claro que um contrato de televisão traz mais tranquilidade financeira durante alguns meses, mas como sempre vivi nessa ‘montanha-russa’, criei outras vertentes para trabalhar. Por isso as mudanças do mercado não me assustam. Sempre me virei, me produzi – Claudia Mauro
Com curiosidade incansável para explorar o novo e seguindo a linha empreendedora de si mesma, ela agora também se aventura na moda, em uma collab com a marca Dance To Fly, de Georgia Guimarães, na criação de vestidinhos transados e confortáveis para a dança. O lançamento da coleção será sábado (dia 15), no The Jazz, no Jardim Botânico. “Eu tinha umas peças, vestidinhos antigos, que fui customizando para fazer aulas de dança. Fazia uma bainha, puxava uma manga. Fui postando no Instagram e as pessoas perguntavam de onde eram, ficavam interessadas nos modelos. Aí resolvi fazer essa parceria com a Dance to Fly, que é uma marca que eu acho linda. Eu, a Geórgia, que é incrível, e o Isaias, o estilista da marca, fomos criando juntos. São peças que podem ser usadas na vida também”, divulga.
Você tem que estar se sentindo bem para dançar. No lançamento, ao invés de um desfile, vamos dançar para mostrar os vestidos. Fiquei super animada, porque é mais do que criar uma coleção, é celebrar a dança, é trazer esse lugar da autoestima das mulheres com mais de 50 anos. A dança também traz a cura e celebra o feminino em nós – Claudia Mauro
Normalizar o envelhecer
Dados recentes do IBGE mostram um Brasil mais envelhecido e feminino. Ao mesmo tempo, o país é altamente etarista, em especial, com as mulheres. Muito por conta de uma cultura sexista enraizada na sociedade, que desvaloriza mais as mulheres que amadurecem, por conta de uma super valorização de um padrão de juventude. “Estou com 55, então ainda tem oferta de papéis em uma faixa de 50 e poucos anos, mas acho que a partir dos 60 começa a ficar realmente mais difícil. O audiovisual não valoriza tanto os artistas mais velhos, então eles vão para o palco. E é contraditório, porque para o ator, o passar dos anos é a experiência, você vai ganhando peso”. E observa:
Não escrevem muito para atores maduros. Não valorizam mesmo. Eu quero continuar atuando, mas também escrevendo, inclusive para atores com 50, 60+ – Claudia Mauro
Sem se prender a crenças castradoras e limitantes, Claudia vê a beleza da nova fase da vida. “Me sinto bem, acho que a prática da dança traz esse frescor, mantém a saúde e a leveza na alma. Mas estou envelhecendo, entrei na menopausa. E é curioso pensar, que hoje quando entro num set, muitas vezes sou a mais velha, a referência ali. Ali está o passar do tempo. Mas acho a maturidade uma beleza, porque você verdadeiramente começa a não se importar mais com o que os outros pensam ou deixam de pensar. Ganha uma segurança, uma confiança, sabe? É uma liberdade de ser exatamente quem você é. Se está com saúde, se sentindo bem, é uma maravilha amadurecer”.
Multiartista
A versatilidade e autonomia continuam garantindo à atriz uma vida profissional para além da TV, veículo que a tornou popular.
Comecei a fazer teatro profissional aos 12 anos. Acho que o maior desafio da carreira é envelhecer nela. Porque muitas vezes sua carreira, repleta de bons trabalhos, é incompatível com sua vida financeira. É preciso trabalhar muito, diversificando sua atuação, para conseguir uma vida minimamente confortável – Claudia Mauro
“E sou inquieta. Estou sempre escrevendo, criando, pensando em novos projetos. Agora mesmo, tem minha peça ‘A vida passou por aqui‘, completando oito anos em cartaz em novembro, somando mil apresentações. Devemos fazer uma mini temporada no fim do ano para celebrar o marco e depois voltamos para São Paulo. O espetáculo vai virar filme, agora estou com o Rogério Gomes, o Papinha, nesse projeto. Acho que esse texto toca tanto as pessoas, das mais variadas idades, porque toca na questão da vulnerabilidade da vida. É inspirada na história da minha mãe, que sofreu um AVC”, conta.
Ela produz seu primeiro videopodcast, o ‘Sem Cintura‘, sobre os temas relacionados às mulheres 50+, ao lado de Leila Meirelles e de Mirna Brasil Portella:
A ideia do videocast é juntar mulheres pensantes e trazer convidadas que somem nas reflexões sobre assuntos relevantes dessa fase. Pensar com sensibilidade, leveza e humor sobre essa segunda metade da vida. E o nome ‘Sem cintura’, vem do seguinte, quando entrei na menopausa, dormi com cintura e acordei sem (risos) – Claudia Mauro
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