No ar em “Vai na fé”, Renata Sorrah revela como vem aprendendo a envelhecer e mantendo sempre a curiosidade viva


Integrando o elenco da novela com uma personagem que é uma atriz famosa no passado que sofreu com etarismo e se reinventou, Renata fala do tema, da carreira de quase seis décadas, da relação com as redes e analisa: “O que sinto é que não estou mais jovem, então tenho que aprender a envelhecer. É difícil, mas a gente aprende. Não sei se estou exatamente gostando de ver os anos passando, estou vivendo. Tenho filha, netos, continuo trabalhando. É preciso envelhecer conectada a si, ao mundo. Tem que fazer terapia, prestar a atenção como mulher. Fazer o que gosta”

*Por Brunna Condini

Renata Sorrah não quer mais falar de Nazaré Tedesco de ‘Senhora do Destino‘ (2004) – trama que será substituta de ‘Caminho das índias‘ na grade do canal Viva. Pelo menos por hora. Embora exalte a poderosa e inesquecível vilã – “Personagem e texto primorosos” – a atriz está no presente e no ar como Wilma em ‘Vai na Fé’, o novo folhetim das 19h da Globo. Na história de Rosane Svartman Renata dá vida à uma ex-atriz famosa, mãe do cantor pop Lui Lorenzo (Jose Loreto), que sofreu no passado as dificuldades diante do preconceito com a idade em sua profissão (etarismo) e largou a carreira, se tornando mais tarde empresária do filho. “Imagina, ela era uma diva. Tipo celebridade na TV, teatro e cinema. Se achava o máximo. Quando vai ficando mais velha, os papéis ficam mais difíceis, escassos. Só que ao invés de ela virar uma atriz medicada, solitária, que só pensa no passado, escolheu virar empresária. Essa trama fala de coisas bem importantes, mas de um jeito leve, que acesse o espetador. Tem o etarismo, o racismo, as relações tóxicas. E também essa relação com a internet, em que muita gente coloca a vida nesta coisa de receber ‘likes’, ter seguidores”, observa a atriz, que na vida lida de outra forma com as redes: “Bem mais ou menos (risos). Tenho um Instagram muito chique, porque só fala de momentos bacanas, sociais, políticos. Também indico filmes, divulgo o que faço em teatro. Gosto assim”.

Prestes a completar 76 anos em 21 de fevereiro, ela construiu ao longo de quase 60 anos de carreira uma relação sólida com o ofício, e diz que não sentiu impactos nocivos do passar dos anos nele. “Sei que têm colegas que sentiram etarismo, isso tem que ser falado. Mas também acho que tem uma coisa maravilhosa em nossa profissão, que pode ser uma das mais generosas com isso. Podemos começar ainda crianças e ir até a avó. Continuar trabalhando. Diferente de outras atividades. O que sinto é que não estou mais jovem, então tenho que aprender a envelhecer. É difícil, mas a gente aprende. Não sei se estou exatamente gostando de ver os anos passando, estou vivendo. Tenho filha, netos, continuo trabalhando. É preciso envelhecer conectada a si, ao mundo. Tem que fazer terapia, prestar a atenção como mulher. Fazer o que gosta”, observa.

Renata Sorrah fala de personagem que sofreu com etarismo e destaca a importância de aprender a envelhecer (Foto: Globo/ Ellen Soares)

Renata Sorrah fala de personagem que sofreu com etarismo e destaca a importância de aprender a envelhecer (Foto: Globo/ Ellen Soares)

“Meu pai morreu com 101 anos, totalmente lúcido. Trabalhou até os 100, era incrível. Então, na família temos um DNA bom. Minha mãe também viveu bem. Trabalhar é ótimo para viver muito. Me lembro quando eu tinha uns 13 anos, estava sofrendo por amor e ele me disse: “A vida é trabalho, trabalho e trabalho”. É nele que você se realiza. Claro que em um trabalho que você goste. Ter amigos também é muito importante e se cuidar”.

Prestes a completar 76 anos, a atriz observa: "Trabalhar é ótimo para viver muito" (Foto: Nana Moraes)

Prestes a completar 76 anos, a atriz observa: “Trabalhar é ótimo para viver muito” (Foto: Nana Moraes)

Com mais de 45 produções em TV, entre novelas, minisséries, séries e especiais, 20 filmes e mais de 30 espetáculos, a atriz atualmente também está em cartaz com ‘O Espectador’, no Teatro Poeira no Rio de Janeiro, ao lado de Marieta Severo, Andrea Beltrão e Ana Baird. “Quando eu era mais jovem, por exemplo, fiz ‘A Gaivota’ (1973), de Tchekhov (o dramaturgo russo Anton Tchekhov), como a Nina. A jovem atriz da peça. Agora, vou fazer com o Marcio Abreu, meu diretor querido, o papel da Arcadina, que Fernanda Montenegro e Tereza Rachel(1934-2016) já fizeram. Já tinham me chamado para fazer, mas a primeira vez estranhei. Não era mais a jovem da peça. Só que agora estou com o maior prazer de fazer. Fazer teatro é maravilhoso por tudo isso e sempre me ajuda muito na TV. Preciso dizer que também vamos ficar com ‘O espectador’ até depois do Carnaval. Tem lotado”.

Renata Sorrah está na TV e em 'O Espectador', com Marieta Severo, Andrea Beltrão e Ana Baird (Reprodução/ Instagram)

Renata Sorrah está na TV e em ‘O Espectador’, com Marieta Severo, Andrea Beltrão e Ana Baird (Reprodução/ Instagram)

Curiosidade incessante

Na trama das 19h, Renata contracena ainda com Luis Lobianco, que faz Vitinho, seu assistente e um ótimo compositor.  “Lobianco é genial. Como a gente troca, aprendo. Aliás com ele, com Loreto, com a Sheron (Menezzes, que faz a protagonista Sol). Tem mesmo muita gente boa neste trabalho. Gosto do set, do diretor, da autora. E sou movida por uma curiosidade que me alimenta. Essa é uma qualidade que tenho: quero sempre aprender”, avalia.

Renata no lançamento da trama das 19h: "Sou movida à curiosidade" (Foto: Globo/Manoella Mello)

Renata no lançamento da trama das 19h: “Sou movida à curiosidade” (Foto: Globo/Manoella Mello)

E completa, falando sobre a personagem que tem trazido diversão para sua rotina: “Ela fala coisas terríveis, mas com humor. Estou gostando dessa leveza de fazê-la em uma novela das sete. Já fiz outras novelas no horário, gosto. Não fico pensando que estou fazendo uma comédia, porque não sou comediante. Mas tenho humor para fazer. Além disso, tem o outro lado, que é o da ‘ferida’ das consequências do preconceito por envelhecer que ainda batem fundo nela. Tanto, que de vez em quando diz: “Odeio essas atrizes que puxam o tapete”. Queria ter feito a Jade de ‘Caminho das Índias’, feita pela Giovanna Antonelli. Também diz que ia fazer o papel da Débora Falabella em ‘Avenida Brasil’, mas passaram a perna nela (risos). Fala barbaridades, mas não é uma vilã. É grossa, sem filtro e magoada com a vida”.