Na ficção, Bárbara Reis assume este papel e interpreta uma jornalista. Mas, inserida em um cenário militar, a personagem tem a missão de encontrar caminhos alternativos para passar as notícias dos tempos da Ditadura no Brasil. Este foi o trabalho da atriz em “Os Dias Eram Assim“, supersérie da Globo que, durante os últimos meses, contou sobre os anos de chumbo de nosso país na telinha. Na experiência, Bárbara Reis teve, além da missão de conhecer melhor o ofício do Jornalismo e os desafios da profissão, a chance de mergulhar em um temática importante, porém esquecida, como ela definiu o período militar.
Convidada para a série, Bárbara Reis definiu “Os Dias Eram Assim” como um trabalho honroso, que lhe permitiu revelar uma nova faceta em sua carreira. “Foi um trabalho cheio de desafios. A começar, eu precisava aparentar 19 anos e perder alguns quilos para um perfil mais jovem. Na personalidade, ela não é uma menina porque possui atitudes fortes, mas ainda não é uma adulta com opiniões 100% formadas. E, para completar, a Cátia ainda é uma representante da mulher negra da época e fruto de uma família inter-racial”, destacou Bárbara que, na ficção, é filha de Mariana Lima e Bukassa Kabengele.
Com influências de uma mãe professora de história e um pai contador, potencializada pelo fervor do jovem engajado dos anos 1970, a personagem de Bárbara Reis escolheu o Jornalismo como instrumento de luta pelo cenário da época. Porém, assim como as outras questões que a série revelou à atriz, como ela já citou, a profissão representou um novo mergulho na vida pessoal e profissional de Bárbara. “A imprensa do período militar é completamente diferente da de hoje. Por mais que ainda exista algum tipo de censura implícita, em que nem tudo pode ser falado, naquela época era ainda pior. Era preciso criar metáforas e fazer curvas para tentar abordar alguns assuntos que a população precisava saber”, disse.
Seja porta-voz da notícia na ficção ou da história na vida real, o momento de Bárbara Reis – ou da personagem de “Os Dias Eram Assim”, Cátia – está pautado em revelar as mazelas de um período que marcou a história do Brasil recente e que, mesmo assim, parece ainda não ser de conhecimento geral da população. “É uma grande responsabilidade porque nós enquanto artistas temos o poder de trazer informação e a chance de mudar a opinião das pessoas a partir da exposição de um fato. Então, foi bastante curioso e surpreendente para nós do elenco o fato do público não saber o contexto da história. Quando fizeram uma pesquisa para ver se as pessoas estavam acompanhando a narrativa e o resultado foi negativo, eu percebi que a gente vive uma alienação. Ninguém sabe o que aconteceu. Na escola, as crianças recebem apenas uma pincelada desse assunto”, ressaltou a atriz que completou que esta ignorância não é exclusividade dos tempos modernos. “Naquela época, os brasileiros também eram alienados. A informação que circulava era de que o período militar era bom para o país e que iria trazer crescimento econômico sem violência. E as pessoas realmente acreditavam, quem estava de acordo com o regime tinha uma vida boa e, quem não concordava, era considerado terrorista e subversivo”, completou.
Desta forma, a missão de Bárbara Reis ganha ainda mais força, como a própria reconheceu. Para ela, é extremamente importante e coincidentemente fundamental que esse período do Brasil tenha sido enredo de série para que a sociedade de hoje entenda o que representou a dor dos brasileiros de 30 anos atrás. “A situação se repete. Esse período aconteceu em nossa história há 30 anos e hoje, nós estamos vivendo um panorama parecido. Assim como no futuro vai continuar acontecendo. Por isso, eu acho que essa série está totalmente dentro do contexto porque o grito pela liberdade ainda está entalado na nossa garganta. A gente precisa se preocupar mais com as questões políticas, pensar em quem vamos votar e não desistir. Só a massa junta consegue ter um diferencial”, disse.
No entanto, sua atuação em “Os Dias Eram Assim” não ganha apenas tom político. Com a personagem, Bárbara fortaleceu seu discurso social sobre a representatividade da mulher negra. “Essa era uma abordagem que, no começo, teria mais força. No entanto, com o passar dos episódios, a questão racial não foi tão aprofundada. Mas eu percebo que, nas redes sociais, muitas meninas negras me seguem e me veem como exemplo. Por isso, inserida neste nicho das mulheres negras e jovens, me sinto representando uma parte da sociedade”, apontou a atriz que, mesmo assim, não se cobra por isso. “Eu deixo tudo fluir naturalmente. Para mim, no momento em que a gente se coloca em um lugar de que precisamos ser referência para alguém e que temos que encabeçar uma luta, acabamos com uma responsabilidade que, muitas vezes, não precisamos ter. Não dá para mudar o mundo”, ressaltou Bárbara Reis que, neste sentido, busca se espelhar em referências como Taís Araújo e Cris Vianna.
E então, depois deste mergulho que lhe apresentou muito mais do que um trabalho de época, mas uma militância político-social, Bárbara Reis contou que planeja tirar férias. Mas não por muito tempo. Em breve, a atriz planeja voltar em cartaz com a peça “Só Por Uma Noite”. “É sobre um casal de dois homens que se apaixona, mesmo sem nenhum deles ter um passado gay. No desenrolar da história, temos alguns elementos como AIDS que enriquecem o debate”, resumiu a atriz sobre o projeto que, mesmo sem patrocínio, se sustenta com a bilheteria. Por falar nisso, o público da peça, que já está em sua quinta temporada, foi ainda maior nesta última passagem, quando a atriz estava no ar em “Os Dias Eram Assim”. “Eu estou vendo que a visibilidade da televisão ajudou muito. Esta foi a quinta temporada da peça e eu pude perceber que foi a que mais teve público. Fora a força que a internet tem, que é fundamental para a divulgação de projetos como esse”, apontou a atriz Bárbara Reis.
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