* Por Carlos Lima Costa
Uma das mais incensadas atrizes de sua geração por público e crítica, Drica Moraes desde o ano passado tem sido brindada com a exibição de alguns dos mais representativos trabalhos de sua trajetória profissional. Na reprise de O Cravo e a Rosa, nas tardes da Globo, sua personagem acaba de entrar na trama. Está em cena ainda em Alma Gêmea, no Canal Viva, e, ano passado, enquanto revia Verdades Secretas e Era Uma Vez e Império, ela era um dos destaques da, então, inédita quarta temporada de Sob Pressão, no papel da médica Vera.
No momento, vibra com a reprise de O Cravo e a Rosa, gravada entre 2000/2001. “Eu amo essa novela! Brejeira, doce, suave. Acho que foi um grande acerto de programação. Ela traz de volta uma narrativa leve, tramas divertidas, personagens bem construídos. O público precisa de escapes para aliviar a rotina que tem sido bem puxada”, reflete sobre a trama que marcou o reencontro dela com o diretor Walter Avancini (1935-2001) e o autor Walcyr Carrasco, com quem havia trabalhado em Xica da Silva, um dos maiores sucessos da extinta TV Manchete, em 1996/1997.
A vilã Marcela entra em O Cravo e a Rosa para tumultuar mais a relação de Catarina (Adriana Esteves) e Petruchio (Eduardo Moscovis). E também, por interesse, se envolve com o banqueiro Nicanor Batista (Luís Melo), que escondido de todos tem duas famílias. Nesta trama inspirada no clássico A Megera Domada, de William Shakespeare (1564-1616), a ambientação dos anos 20 é uma das características da novela que mais encantaram Drica durante as gravações. Em especial também o figurino da personagem. “Li bastante sobre a época, os hábitos. Os figurinos dela eram chiquérrimos, amava me vestir. Levei um chapéu que tinha sido de minha avó para a personagem. Era uma viagem me imaginar naquele tempo. O público ama tanto a novela quanto a Marcela. Sempre tenho um feedback legal, falam muito da beleza dos figurinos e do corte à la garçon que eu usava”, conta.
Drica, que teve Covid no final de 2020 e contou a ajuda do filho, relembra mais detalhes do prazer que foi participar de O Cravo e a Rosa, cuja reprise está fazendo um grande sucesso atualmente. Ela, por exemplo, exalta o elenco que formava a produção. “Minha família na trama era um luxo: Taumaturgo Ferreira, Carlos Vereza! Morríamos de rir com a porca que era a minha irmã, e herdeira de “papai”. Fora o elenco todo de ouro, Ney Latorraca, Suely Franco, Pedro Paulo Rangel, Luís Melo, Adriana Esteves, Du Moscovis, Leandra Leal. Elenco de peso mesmo”, afirma.
E uma cena em especial ficou marcada na memória ao ter que contracenar com uma porca. “No início da gravação era uma porquinha fofa. Mas no final da novela, quando “papai” morre e deixa uma herança que Marcela tem que dividir com a irmã, quando vi entrou no estúdio um pequeno javali. A porca tinha virado adulta”, diverte-se ela, que revê seus trabalhos sem muita autocrítica. “Adoro rever e geralmente gosto de tudo. Esse trabalho especialmente assisto pra me divertir com Ney Latorraca, Maria Padilha e Eva Todor (1919-2017) que protagonizaram meu trio favorito na novela”, aponta.
Na época de Sob Pressão, no decorrer das gravações, que contava com atores negros interpretando médicos, ela se deu conta que todos os profissionais que cuidavam de sua saúde eram brancos e promoveu uma mudança. “Sendo mãe de um filho preto, eu resolvi ter uma ação afirmativa de trocar todos os meus médicos por profissionais negros. Só não larguei do meu oncologista, porque realmente eu devo a vida a ele”, frisou, lembrando a leucemia mieloide aguda, que enfrentou, em 2010, sendo submetida a um transplante de medula óssea, no ano seguinte.
Quando descobriu a doença, Drica vivenciava o primeiro ano da adoção de Mateus, atualmente com 13 anos. A atriz desejava muito ser mãe e tentava engravidar desde seus 27 anos. Sem conseguir realizar o sonho, encarou a fila da adoção até que aos 39, o menino entrou em sua vida. “Não há nenhuma diferença entre um filho biológico e adotivo, o amor se constrói no dia a dia”, ressaltou ela, enquanto participava do Arquivo Confidencial, quadro do Domingão do Faustão. E em sua página do Instagram, ela exaltou a relação com o garoto. “Tenho muita sorte na vida! Que bom que meu filho me adotou. Melhor filho do mundo”, frisou.
Por tudo, não tinha como não se empenhar contra o racismo. Várias das últimas postagens em seu Instagram giram em torno da luta antirracista. “Que todos os dias sejam dias de Consciência Negra, de perceber e aceitar que precisamos aprender pra poder desconstruir este mundo eurocêntrico”, já postou Drica, no Instagram.
Outra vilã que deu muito o que falar na carreira de Drica, foi Cora, em Império, reprisada ano passado. Por problemas de saúde, a atriz precisou deixar a novela, sendo substituída por Marjorie Estiano, que havia interpretado a personagem na fase jovem. “Na época, eu fiquei despedaçada porque foi um papel muito importante. Eu tinha tesão em fazer! Cora me demandava demais física e emocionalmente. Fui ao Projac, mas não tinha voz. Eu já vinha há um tempo com gastrite, depois labirintite. O excesso de horas trabalhadas me gerou uma baixa imunidade. Não tinha nada mais a ver com a doença grave que eu tinha tido quatro anos antes. Mas ainda não estava com a capacidade de encarar tantas horas de trabalho por tantos meses”, recordou ao jornal Extra.
Por tudo que tem enfrentado, Drica é uma apaixonada pela vida. “Adoro fazer aniversário e ficar mais velha! Considero incrível minha trajetória e as lutas que atravessei durante a vida. Eu me acho uma pessoa de saúde extremamente forte. Dou conta de muita coisa, tendo atravessado uma doença gravíssima, sendo mãe solo de um menino negro. São tantas as forças que tenho dentro de mim que valorizo cada dia, cada ano. O Brasil precisava desencaretar mesmo nesse ponto. A dramaturgia fala pouco da mulher de mais de 50 anos. E estamos no auge da nossa sabedoria como artistas, com muito acúmulo de experiência”, ressaltou ainda para a mesma publicação.
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