No ar, em novela e série Globoplay, Filipe Bragança pede que fãs esqueçam comparações com personagem em ‘Chiquititas’

*de Luísa Giraldo

Enquanto arrasa corações com o charme do galã Giovanni no remake da novela “Elas Por Elas”, Filipe Bragança embarca em um novo desafio audiovisual: o papel de Daniel de Souza, filho do sociólogo e ativista dos direitos humanos Herbert José de Souza (1935-1997). A produção “Betinho: no Fio da Navalha”, no portfólio do Globoplay, retrata a desafiadora trajetória do sociólogo e ativista dos direitos humanos brasileiro em direção a um país sem fome. Ao assumir um trabalho mais complexo, Filipe dá vida ao atual presidente do conselho Ação da Cidadania e documentarista. Filipe aproveita a oportunidade para refletir sobre os personagens que já interpretou e deixa no passado o jovem Duda, de “Chiquititas”, que completa dez anos desde a primeira exibição. 

Na pré-estreia oficial da série, Filipe reencontrou Daniel, com quem posou para dezenas de fotos. Emocionado com a homenagem audiovisual para o pai, Daniel disse que Filipe estava fazendo um “trabalho de responsa” ao dar um toque mais “charmoso” para o personagem. Os dois disseram que se aproximaram bastante ao longo das gravações e, juntos, trabalharam para uma maior assimilação do personagem.

Filipe Bragança revela estar emocionado por poder trabalhar ao lado do ídolo Júlio Andrade (Foto: Divulgação)

 Filipe identifica que a experiência de interpretar Daniel foi desafiadora por fazer parte de um “elenco tão potente”, sobretudo pela oportunidade de estar atuando com Júlio Andrade, que encarna Betinho na fase adulta. O artista afirma nutrir uma forte admiração por Júlio ao confessar que é o seu “maior ídolo como ator brasileiro da atualidade”. Outro desafio pontuado por ele foi ter que reunir as habilidades de tocar piano há anos e dançar bem como o personagem em um espaço curto de tempo. Daniel tinha anos de experiência com o instrumento.

O ator revela ter vivido um momento especial com a figura de Betinho na infância. “Após ser aprovado para a série, achei um caderno de escola antigo com um trabalho sobre o Betinho que eu fiz quando pequeno. Era um trabalho sobre pessoas que contribuíram para o desenvolvimento do país. Assim que achei, quis compartilhar com os meus seguidores e publiquei sobre isso”.

Os personagens Giovanni e Duda

Sem deixar de relembrar os elogios que têm recebido pela dinâmica romântica com a atriz Rayssa Bratillieri em “Elas por Elas“, Filipe pontua que o público ainda se mostra empolgado com a relação “enemies to lovers”, traduzida livremente como “de inimigos a amantes”, do casal. Apesar de se despontar pelo trabalho como Giovanni, os fãs mais antigos do intérprete buscam firmar relações dele com seu primeiro personagem interpretado, Duda, do remake de “Chiquititas”. Quando questionado sobre a conexão dos dois papéis, o artista pediu que os espectadores “esquecessem o Duda”. 

O ator Filipe Bragança disse querer assumir papéis que não o de galã em produtos audiovisuais (Foto: Vinícius Mochizuki)

O ator afastou as possíveis conexões de si com o polêmico personagem. “Já faz tanto tempo desde o Duda. O Giovanni é o Giovanni. É um playboy assim como Duda, é verdade, mas acho que é um personagem muito mais desafiador por causa das crises de ansiedade. É uma questão muito importante e delicada que esse personagem está me dando a oportunidade de abordar em uma novela. Acho que é ótimo trazer informações como essa para o público”.

Ainda no tópico da ansiedade, o galã de 22 anos explicou que se debruçou nos estudos relacionados ao tópico da saúde mental. Embora esteja vivendo na “correria das gravações” da novela, o intérprete de Giovanni disse que busca driblar o “pouco tempo de preparação” para o personagem com a tentativa constante de estudar sobre o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).

Duda em “Chiquititas”, o artista Filipe Bragança busca se desvincular de seu primeiro personagem (Foto: Divulgação)

Reflexivo sobre a trajetória profissional, Filipe relembrou de uma declaração polêmica em que desfaz do privilégio de interpretar apenas galãs.

Com certeza, quero fugir um pouco do estereótipo do cara bonito nas novelas. Quanto mais eu puder mostrar a variedade no meu trabalho, melhor. É isso que eu busco agora: a oportunidade de fazer algo completamente diferente  — Filipe Bragança

Daniel de Souza e a Ação da Cidadania

 Ao levar o envolvimento em causas sociais de relevância para outra instância, Daniel de Souza busca facilitar o acesso e conhecimento do público à pautas relacionadas à fome no Brasil e as heranças deixadas pelo período de censura na ditadura. Ele está à frente do conselho da Ação da Cidadania, organização não governamental (ONG) criada pelo pai em 1993 com a campanha “Natal Sem Fome”. Como destaque do portfólio, o também cineasta produziu o longa “Eu me lembro”, em 2012, com o objetivo de contar a história das Caravanas da Anistia e revisitar tocantes depoimentos após os pedidos de desculpas do Estado brasileiro aos perseguidos políticos durante a ditadura.

O ator Filipe Bragança e o documentarista Daniel Souza durante as gravações da série “Betinho: no Fio da Navalha” (Foto: divulgação)

A ONG Ação da Cidadania foi criada em 1993 por Betinho e se baseou em dados do Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA). Os números indicavam que 32 milhões de brasileiros viviam abaixo da linha de pobreza. Desde então, o ativista dedicou o resto da vida à luta pelo direito básico de “comida na mesa” para toda a população do país. Cerca de dez anos depois, o Brasil cresceu, aplicou estratégias de segurança alimentar e nutricional e abandonou a lamentável posição no Mapa Mundial da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU). A nação voltou a integrar o Mapa em 2021 e, nos anos subsequentes após a pandemia da Covid-19, continua enfrentando os desafios para superá-lo.

Como forma de divulgar o projeto, Daniel foi à coletiva de imprensa e pré-estreia com a camisa oficial da ONG. Em seguida, o cineasta aproveitou a oportunidade para fazer um apelo ao público que aderisse ao projeto “Natal Sem Fome”. De acordo com o site Ação e Cidadania, ela se trata da maior campanha solidária de arrecadação de alimentos da América Latina. Anualmente, ela é realizada e já ajudou mais de 26 milhões de brasileiros.

O filho de Betinho explica a relevância político-cultural de um produto audiovisual que relembre a história do pai. “A ONG está presente na pré-estreia de uma série que é tão importante para resgatar o Betinho, mas, principalmente, para falar para os jovens quem ele foi e o que ele fez. É muito importante que as pessoas assistam a série para mostrar o que aconteceu há 30 anos, já que muitas dessas coisas estão acontecendo de novo, como a fome. Ou seja, a série tem um impacto cultural e social gigante. É essa a maior função deste trabalho, em que a ‘Ação da Cidadania’ está retratada. É um convite a todos os brasileiros e brasileiras a assistirem, vibrarem e fazerem a sua parte. Trata-se de uma convocação”, atesta, ao relembrar da tentativa de aumentar os apoiadores e doadores do projeto.

É um convite a todos os brasileiros e brasileiras a assistirem, vibrarem e fazerem a sua parte. Trata-se de uma convocação — Daniel Souza.

Daniel Souza nasceu em 1965 quando os pais viviam na clandestinidade por serem militantes políticos contra a ditadura militar. O ativista é filho do primeiro casamento de Herbert com a professora Irles Carvalho, interpretada por Leandra Leal. A série retrata, inclusive, os diversos momentos de fuga e mudanças incessantes vividas pela família. Encarnado na versão jovem-adulta por Filipe Bragança, Daniel aparece desde o primeiro episódio (ainda como criança).