Precisamos falar sobre Letícia Colin. Dar vida a uma personagem marcante na teledramaturgia brasileira pode não ser a mais fácil das tarefas para uma atriz da nova geração. Principalmente quando é preciso tocar em feridas permanentes em nossa sociedade, em sua maioria, intolerante, machista e preconceituosa. No entanto, para encarar esse tipo de desafio é preciso coragem, determinação e, claro, muito talento – qualidades que a jovem atriz tem de sobra. E foi com esses instrumentos que a protagonista do nosso editorial desta semana embarcou nas peripécias da controversa e ardente Júlia, de “Nada Será Como Antes“. Na trama global, que se passa no início dos anos 50 e costura o nascimento das emissoras de TV no Brasil, a atriz de 26 anos dá vida a uma jovem vanguardista, rica e segura de si. Não sabemos se a troca entre criadora e criatura se confunde com a vida real, mas uma coisa é certa: as duas têm personalidades muito singulares e ainda assim não deixaram que o tempo tire a doçura de serem exatamente aquilo que elas são.
Durante um editorial exclusivo para o site HT, no rooftop do Hotel Marina Palace, com cliques de Alex Santana, styling de Herik Birkheuer e beleza de Cleide Araújo, Letícia adiantou detalhes da composição de sua personagem para o folhetim das 23h, da Rede Globo. “A Júlia é uma mulher muito forte e moderna para os anos 50, sabe? Naquela época ela já tinha uma visão de negócios muito abrangente, como uma verdadeira empreendedora. A maioria das mulheres dessa época era dona de casa. Eu admiro muito a personalidade dela. Agora, participar desse projeto foi uma experiência muito intensa e bem diferente de tudo o que eu já tinha feito como atriz. Os anos 50 é uma época de muitos acontecimentos históricos, havia um otimismo muito forte em relação ao Brasil, com toda a expectativa de se tornar o país do futuro”, disse ela, que não escondeu a felicidade de estar no ar com uma personagem forte e carregada de emponderamento. “Ela impressiona pelo pulso firme que tem com a família. Apesar de na época as mulheres serem tratadas como uma espécia de bibelô, a Júlia já tinha uma visão diferenciada do que acontecia. É uma mulher à frente do seu tempo, que apesar disso, não perdeu a feminilidade e a elegância. Era engraçado, porque quando acabavam as filmagens eu queria ficar com o figurino para mim”, contou ela, aos risos.
Agora, se nos anos 50 o Brasil era o país do futuro, as coisas hoje em dia já não seguem tão otimistas assim. Filha de professores, Letícia tem observado os rumos do governo Michel Temer com maus olhos. Primeiramente, por não legitimar sua posse, e em segundo lugar por desaprovar as mudanças que têm ocorrido na pasta da Educação. “Eu acho que a gente já passou por fases muito boas de progresso, mas há um caminho muito grande a ser percorrido. No Brasil a gente sofre com a concentração de renda e as pessoas estão sem educação. Eu fiquei muito apreensiva com a reforma do sistema educacional. Os meus pais são professores de educação física aposentados, mas eu encontro pessoas na rua que foram alunos do meu pai que foram completamente influenciados e são altamente gratos pelos valores que o esporte trouxe. Eu vivi muito imersa no universo em que a atividade física traz, o espirito de coletividade e do respeito ao próximo, que anda faltando nos dias de hoje. Eu acho que o esporte e a cultura são as coisas que mais desenvolvem a sensibilidade e a individualidade do ser humano”, constatou.
Assistindo de perto o poder que um professor pode exercer na vida de uma criança, a atriz, muito consciente, acredita que a educação é o caminho para que possamos mudar o país. “Nós precisamos valorizar e respeitar mais o professor. A educação é o pilar de uma sociedade e deveria ter mais recurso e mais renda. Se fala muito sobre o assunto, mas não parece que as pessoas encaram a situação como um problema de verdade. A única coisa que vai mudar o mundo é a educação. A corrupção, por exemplo, está ligada diretamente ligada à falta de educação . É preciso ter mais estruturas, chega de cortes”, ponderou.
Mas antes que a gente acabe mudando de assunto, ainda existe um detalhe muito importante sobre a personagem de Letícia que é preciso ser mencionado. No desenrolar da história, ela terá um envolvimento, digamos, apimentado com Beatriz, vivida por Bruna Marquezine. “A relação delas é um pouco confusa na verdade, porque se hoje em dia ainda é um tabu falar sobre isso, imagina nos anos 50? O grande drama da vida da Júlia é que ela foi criada em uma família tradicional, por isso encontra na Beatriz a liberdade que sempre desejou ter”, avaliou. Apesar do desafio ser grande, Letícia ainda acredita que o momento seja muito oportuno para levantar a discussão sobre o preconceito no Brasil. “Eu acho superimportante que a gente toque nesses assuntos. Fico feliz de ser uma atriz que está numa trama com uma personagem que pode ter uma sexualidade diferente da heterossexual – até porque que eu nem posso afirmar que ela seja gay. É incrível poder contribuir de alguma forma para trazer esse assunto à tona”, afirmou ela, ressaltando os transtornos que uma civilização preconceituosa pode trazer. “As pessoas se chocam muito mais com algo que está na ficção do que na vida real. O que se torna uma contradição engraçada. No entanto, precisamos ficar atentos, porque de fato existe muita violência contra homossexuais, travestis e transgêneros. Quero fazer parte desse coro contra o preconceito e o machismo”, constatou.
Ainda assim, apesar de todo o buxixo que essa história tem causado nas redes sociais, recentemente andou circulando a nota de que a polêmica cena do beijo teria sido vetada pela Rede Globo. Mas Letícia aproveitou o momento para desmentir a caso. “Tenho ouvido mais pela imprensa do que pela própria emissora sobre o veto”, disse ela, descartando qualquer possibilidade de um possível climão entre as atrizes e colegas em cena. “Foi tranquilo. Quando o ator sabe os dramas que o personagem precisa para ser crível, complexo, interessante e humano ele já desencana. Em cena nós estamos dispostos a matar e morrer pelo personagem”, declarou a atriz. Ah! E falar sobre preconceito com Letícia rendeu pano para manga!
De fato, há uma tendência da teledramaturgia abrir cada vez mais espaço para casais e personagens LGBT em sua programação. Prova disso são as novelas “Amor à Vida”, “Babilônia”, “Liberdade, Liberdade” e agora em “Nada Será Como Antes”. Para Letícia, essa é uma grande oportunidade para falar sobre temas que abram os olhos do grande público para as minorias. “Desde os primórdios sempre existiu a homossexualidade. Acho que depois do catolicismo a gente foi se tornando uma sociedade hermética. Existe uma proporção discrepante entre o número de casais heteros e homossexuais nas novelas. A situação não é encarado na mesma medida do que a gente está acostumado a ver hoje em dia pelas ruas. Afinal, a dramaturgia deve reproduzir o nosso cotidiano. Acho que ainda temos um caminho para que essa balança se equilibre. Assim como também há um número muito maior de atores brancos do que negros, orientais… Mas vale a gente observar que as ditas minorias não são de fato a minoria”, comentou ela, pertinentemente, que se assustou ao perceber o grande furor que o tema tem causado. “Eu acho que o público ainda não aceita tão bem esses personagem. Principalmente pela forma que é tratado: como uma grande polêmica. Parece que rola um fetiche. Eu tinha uma opinião diferente até fazer essa personagem. Eu achava que o mundo era igual ao mundo em que eu vivia. Agora, eu percebi que existe um grande fascínio. É tratado como uma coisa atípica. Então, que venham mais personagens para a gente poder quebrar essa tabu de um vez”, comentou.
E falando sobre revoluções, apesar da luta pela libertação da mulher ter começado no final do século XIX, as novas gerações vêm se mostrando cada vez mais antenadas e engajadas nessa questão. Acostumada a viver mulheres de personalidade forte, Letícia é daquelas que faz parte de uma geração que levanta a bandeira do feminismo sem medo de protestos. Para ela, a violência contra a mulher é o fator que a deixa mais sensibilizada para integrar o movimento. “Sou muito a favor e acho que na real é uma ideia de igualdade, mas preservando as diferenças de cada indivíduo. A parte mais importante dessa luta é a violência contra mulher. É inadmissível hoje em dia a gente ter tantos casos de abuso, estupro e agressão tanto física quanto verbal. O ponto da violência contra a mulher é lastimável. Por isso o feminismo me interessa muito. Mais do que igualdade é humanismo. Não aceitar a cultura do estupro. Existe um dado que diz que a cada cinco pessoas, três acham que o estupro é de responsabilidade da mulher. O que é uma grande bobagem. Então, a gente tem que continuar levantando as bandeiras”, comentou ela.
No auge dos seus 26 anos, Letícia Colin tem um currículo de dar inveja a qualquer jovem ator. Por ter começado na profissão aos nove anos de idade, no seriado “Sandy & Junior“, hoje ela coleciona trabalhos de destaques como “Malhação”, “Floribella”, “Vidas em Jogo”, “Além do Horizonte”, “Sete Vidas” e “A Regra do Jogo”. Mas não é só na TV que ela se destaca. No teatro, a loura já integrou o elenco de grandes produções musicais como em “O Despertar da Primavera”, “Hair”, “Como Vencer na Vida Sem Fazer Esforço”, “O Grande Circo Místico – O Musical” e “Mas Por Quê?? A História de Elvis”. Nascida em Santo André, no interior de São Paulo, a artista veio para o Rio com 11 anos para iniciar sua precoce carreira, mas parece que sua adaptação na Cidade Maravilhosa não foi tão simples quanto parece. “Graças aos trabalhos eu fui tendo que morar no Rio e aqui estou até hoje. Moro com meu irmão, que veio fazer pós-graduação e foi ficando também. Mas o inicio foi complicado. Foi muito difícil fazer amiguinho no colégio, acho que pela diferença de sotaque. As crianças são um pouco cruéis (risos), mas eu sempre fui muito comunicativa e no final deu tudo certo”, relembrou.
No entanto, as coisas foram se acertando e, depois de alguns trabalhos na TV, foi no cinema que o público pode acompanhar a transição da Letícia menina para mulher. E esse momento aconteceu no longa “Ponte Aérea”, ao lado do ator Caio Blat.”É um trabalho que eu me orgulho muito. Foi o encontro de atriz e diretora, que eu tanto ouvia falar e eu vivi muito isso com a Julia Rezende. Foi um trabalho que me deixou muito satisfeita com o produto final, além de ter sido o primeiro trabalho que pude mostrar a Letícia que sou hoje”, avaliou ela, que também participou dos filmes “Bonitinha, mas Ordinária”, “Amor em Sampa” e “Um Namorado para Minha Mulher”.
Agora, muito ligada à sua fé, mesmo com a correria, a atriz sempre consegue um tempinho diário para dar uma respirada e entrar em contato com a sua espiritualidade. Algo aliás intrínseco à personalidade dela. Letícia foi criada dentro dos preceitos da religião católica, no entanto, há dois anos encontrou a paz que tanto procurava no Budismo. “Não tinha o hábito de ir à igreja. Mas através de um amigo, o Reiner Tenente, comecei ir nas reuniões, e vi que aquilo tudo tinha muito sentido pra mim. Foi uma mudança radical no entendimento da responsabilidade da vida. Por realmente você ser o responsável pelas suas escolhas e pelo seu dia a dia. Me trouxe muita disciplina. Antes era uma coisa muito inconstante minha relação com a religião, mas o budismo me deu uma organizada e dá uma energia vital incrível”, disse.
De fato, Letícia nasceu na era digital, mas, pasmem: apesar de ter uma conta no Facebook e outra no Instagram – que não para de crescer, a loura não é muito integrada com as redes sociais. De acordo com ela, a internet ainda é um mundo sem leis. “Eu vou aos pouquinhos, eu relutei pra caramba para ter Instagram, mas hoje eu gosto, porque além de me conectar com meus amigos e saber o que eles estão fazendo, ainda ajuda no exercício de apurar um olhar fotográfico. Mas não sou muito de ficar conectada. A internet é bem confusa nesse sentido, mas por outro lado isso fortalece as relações”, avaliou.
Voltando a falar sobre os trabalhos de Letícia, em paralelo à série ela já começa a gravar o longa “A Costureira e o Cangaceiro”, de Breno Silveira. “Agora em outubro eu viajo para Pernambuco onde começo a filmar meu próximo longa-metragem. Eu farei a Lindalva, uma personagem jovem que vive nos anos 30 e, que como a Júlia, também será super moderna, rica e muito livre”, completou. A película é ambientada no sertão de Pernambuco e na capital, Recife. Na história, duas irmãs (Marjorie Estiano e Nanda Costa) têm o destino separado, a partir daí a trama se desenrolada e elas acabam descobrindo que a vida que queriam não é tão perfeita quanto parece. Com o longa, será o segundo trabalho consecutivo de época de Letícia Colin, que comemorou. “Sempre foi um desejo fazer trabalhos de época. É uma grande oportunidade também para estudar a história do nosso país que é tão rica”, comentou, E os trabalhos não param por aí. Ainda em janeiro, a atriz ainda estreia o remake do longa “Saltimbancos“. “Eu faço a personagem que canta ‘História de Uma Gata‘, que na versão original foi interpretada pela Lucinha Lins. É um filme que está na memória afetiva de todo mundo e foi uma delícia de fazer”, completou. O longa ainda conta com a participação de Renato Aragão e Dedé Santana. A menina é ou não é um sucesso?
Agradecimentos:
Stratosfera Comunicação
Hotel Marina Palace
Mário Sá
Equipe:
Foto: Alex Santana
Beleza: Cleide Araújo
Styling: Herik Birkheuer
Tratamento de Imagem: Marcelo Chelles
Onde encontrar:
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