*por Vítor Antunes
O mês do Orgulho LGBTQIAPN+ se avizinha. João Côrtes fez o seu outing, justamente, no Pride Day em 2020. E, como ser um homem gay numa sociedade homofóbica é um ato político, o artista destacou a importância da representatividade, ainda que haja um dualismo discursivo: Falar publicamente sobre homossexualidade é algo libertador ou limitador – já que há recorrência nas perguntas sobre este tema e uma possibilidade de rotulação do artista? Ele diz ser algo “delicado. Vivemos sempre numa linha tênue. Por um lado existe um discurso vindo da classe artística que preza a liberdade, mas na pratica nem sempre é assim. Para construir uma carreira na indústria é preciso pensar estrategicamente porque ainda vivemos numa sociedade homofóbica e preconceituosa”.
“Encantado’s” é um dos maiores sucessos do Globoplay. A série que trata sobre a realidade de uma escola de samba do bairro do Encantado, subúrbio do Rio, e que disputa carnaval em uma divisão de base está sendo exibida na TV Globo desde o dia 2 e vem encontrado boa recepção junto ao público. Na série protagonizada por Luís Miranda e Vilma Mello, o ator João Côrtes vive Celso Tadeu, um locutor de supermercado. No produto audiovisual, uma quadra da escola de samba e um supermercado coexistem, mudando apenas de horário de funcionamento: À noite terreiro de samba, de dia, um comércio. Côrtes diz que o carnaval trata-se de um “universo que me foi apresentado e do qual eu realmente não fazia parte, mas que foi incrível de conhecer”. Atualmente, o ator está gravando a segunda temporada do programa, ao mesmo tempo em que se planeja para voltar aos Estados Unidos e investir na sua carreira internacional, o que é seu maior sonho. “Quero continuar investindo nisso, que é o meu sonho. Fiz alguns trabalhos aqui já com essa pegada mais internacional, como as séries “Passaporte para a Liberdade” e “Rio Connection“.
PRÓXIMA PARADA
O Encantado, bairro da Zona Norte do Rio, ficou, inicialmente conhecido por ser o berço de Aracy de Almeida (1914 — 1988). Esta, ficou conhecida como “A Dama do Encantado”. O bairro também já teve uma atmosfera ainda mais suburbana por possuir, até os Anos 1970 uma estação de trem, inaugurada em 1868 e demolida em 1975. Mantendo a ideia de trens, estações e paradas, João Côrtes coloca sua vida em movimento e sobre os trilhos. O artista quer que sua próxima parada seja internacional, pois ambiciona tornar-se um artista que ultrapasse as divisas brasileiras: “Voltei de Los Angeles agora no finalzinho de março. Estava morando lá e tocando vários projetos ao mesmo, além de estar estudando. Foi muito bom poder estudar”.
No panorama atual, com uma efervescência de players de streaming, Côrtes acredita que seja um bom momento para o audiovisual brasileiro. “O País está num momento bom e bacana. São muitas oportunidades a partir da entrada do streaming, que revolucionou o mercado. Sinto apenas que é diferente do mercado americano, já que a Hollywood é muito mais antiga e estruturada, tanto em oportunidades, como em tamanho e em estruturas fundamentais que fazem a indústria girar. Acho que existe diferença na produção de conteúdo mas estamos ascendendo tanto na ousadia de produtos como na formação de roteiristas e na escolha de narrativas. O Brasil tem muito talento. É terra abundante de gente talentosa para arrasar”.
Isso que aconteceu aqui é difícil. Quando se tem um líder, um presidente com esse discurso de ódio, preconceituoso e racista é claro que isso afeta tudo. A cultura, mais que nunca. É fundamental que a gente conte narrativas LGBT, pretas, indígenas e de todos os tipos possíveis para valorizar a cultura do Pais e o quão diverso ele é – João Côrtes
E reitera: “Sinto que há uma responsabilidade minha de me posicionar como homem como gay como artista por entender a importância da representatividade em me verem nesse lugar e me identificarem assim. Narrativas LGBT precisam ser contadas. Quanto mais histórias assim, mais vamos normalizando e assentando isso no inconsciente coletivo de que isso é real”.
Por mais que queira desenvolver atividades nos Estados Unidos, voltando àquele País em agosto, não descarta voltar para o Brasil. “Se eu ficar no Brasil, ficaria pelo teatro. Acho o teatro muito ancestral e isso me conecta ao lado essencial do oficio de ator. Tenho o interesse de fazer um monólogo por aqui ainda”, diz ele, que veio para o Brasil a fim de gravar a segunda temporada de “Encantados”, ainda em andamento. Outra série que gravou pela Globo, “Rio Connection”, tem previsão de estreia ainda este ano. A trama foi elaborada já pensando no mercado internacional, tanto que é inteiramente falada em inglês.
Quanto à série sobre o subúrbio carioca, diz que “O carnaval é um universo que me foi apresentado e que realmente não fazia parte da minha vida do meu universo. Não esperava, mas foi incrível de conhecer… E o que mais me impressionou é a dedicação, o amor, a entrega, não só física como emocional, além do amor e dedicação e a relação de afeto que é estar em algo maior que você, que é a sua comunidade”.
ESTRADA DE FERRO
João Côrtes fez apenas uma novela em sua carreira, “Sol Nascente“. Não acredita que as séries venham a suplantar o formato teledramaturgico: “A novela ocupa um lugar muito sentimental, emocional e inconsciente na mente do brasileiro. Somos criadas à base das novelas. Não acho que elas venham a deixar de existir, ou deixarem de ser contadas. Há novelas que fazem sucesso, histórias sendo contadas… Valorizo muito isso. Fiz uma novela só e adoraria fazer outra, até por conta e ser um desfaio como ator muito legal. Gosto muito disso”.
Neste ano o ator quer lançar um EP com suas músicas, aproveitando-se do sucesso advindo de sua boa passagem pelo reality “Popstar” . O artista relata que faltam apenas algumas burocracias pontuais para que as canções sejam publicadas. Também em 2013 completa 10 anos de carreira no audiovisual. Seu primeiro trabalho foi a série “3 Teresas”, no GNT. “Para mim é meio que um choque perceber que são 10 anos no audiovisual. Sou muito grato por essa carreira e pude ter a oportunidade de fazer serie, novela, musical, filme e muitas oportunidades diferentes. Sinto ter muito a conquistar e caminhar. Sinto que estou aquecendo os motores”.
Em 2015, João Côrtes esteve no elenco de “Os Experientes”, numa função de co-protagonista, ao lado de Beatriz Segall (1926-2018). Atriz tão talentosa quando irascível, Segall revelou-se generosa para com o jovem ator. Para João, este é um dos trabalhos mais especiais da sua carreira. “Essa série tem um lugar especial no meu coração por tudo, por poder conhecer a Beatriz Segall. Eu tinha tinha 17 para 18 anos e não tinha tanta noção da importância da artista e nesse sentido foi bom porque não criei uma grande expectativa. Fui de maneira aberta e leve. Segall foi maravilhosa comigo, cuidadosa, me acolheu muito, por que era um trabalho difícil, eram cenas difíceis e ela foi muito parceira, me ensinava muito sobre como estar na cena e como deveríamos nos cuidar, desde à pele à dicção”, relembra, saudoso.
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