Há quem diga que o potencial de uma atriz só pode ser avaliado de fato a partir do papel de uma vilã. Isso por que o mundo audiovisual considera a capacidade de dar vida a um antagonista com maestria como um desafio contínuo de estudo, autoconhecimento e interpretação. Aos 27 anos, a atriz Fernanda Lasevitch aceita o desafio de encarnar a jovem versão da invejosa e intrigueira Helena, do remake de “Elas por Elas”, na Globo. Até então, ela é um dos poucos nomes do elenco jovem a participar integralmente da novela, do início ao fim. Quem assume Helena na versão adulta é a atriz Isabel Teixeira, de 49 anos. “O mais desafiador de interpretar Helena, em “Elas por Elas” está sendo humanizar uma personagem que é uma grande vilã”, aponta.
Essa não é a primeira vez que Fernanda brilha no audiovisual. Ela já tem no portfólio a novela teen “Malhação Toda Forma de Amar (2019)”, além de tramas como “Amor de Mãe (2019-2020) e “Vai na Fé” (2023). Apesar disso, a atriz tem nas mãos uma oportunidade de se projetar nacionalmente à luz da megera Helena adolescente. A personagem é responsável pela separação do casal Adriana e Jonas, já que ela seduziu o namorado da amiga e acabou engravidando dele.
Fernanda ressalta um grande desafio proposto pela personagem: a tentativa constante de humanização, além de um esforço para a criação de uma conexão artista-personagem. Nos ensaios, antes de começarem as gravações, a Isabel Teixeira e eu conversamos e ela trouxe essa ideia de a gente não colocar essa personagem como rasa, como uma pessoa que é só ruim e só faz maldades e que é preconceituosa. Mas sim como um ser humano complexo e com as suas questões, fruto de todas as circunstâncias que ela viveu e de onde ela está hoje. Estou procurando entender o motivo pelo qual de cada atitude dela. Acredito que viver uma personagem é, acima de tudo, defender ela, como os seres humanos fazem na vida”, analisa.
A complexidade de Helena foi justamente o que fez com que a atriz se apaixonasse pela antagonista. A artista aponta que as facetas “boa”, “má”, “vítima” e “vilã” compõem a personalidade e essência complexas da personagem. “O que eu pego da Helena para mim é a segurança, porque ela é muito segura e muito confiante de si mesma. É muito bonito de ver uma mulher que acredita no seu poder e que vai conseguir, até certo ponto, tudo o que ela quiser”.
Na fase da Helena que eu vivo, ela sabe o que quer, vai atrás com muita garra, não tem medo de ninguém e faz o que quiser com a situação e com todo mundo. O poder que ela exerce é incrível. Ela se coloca como poderosa. Esse é um ponto que eu quero roubar dela para mim – Fernanda Lasevitch
Com ajuda da personagem, Fernanda disse que busca construir uma autoconfiança maior. Aproveitando a oportunidade de encarnar uma antagonista confiante e sensual, ela confessa que está tentando se conectar com a própria feminilidade e essência. Por outro lado, a artista não costurou laços com as características negativas de Helena. “As nossas principais são diferenças: a Helena é uma mulher muito preconceituosa e egoísta, no sentido de conseguir enxergar apenas a própria realidade. A personagem não consegue olhar para fora da bolha como você e não consegue ter muita empatia com pessoas que são diferentes. Ela está o tempo todo pensando nela mesma, no par dela, no que ela quer. Ela não se importa nenhum pouco com os outros”, desabafa a intérprete.
Além disso, a moça afirmou ter sempre cultivado o desejo de interpretar personagens diferentes, que não fossem do “perfil que ela tinha”, como “as mocinhas, as amigas delas e as vítimas”. Dar vida à uma vilã já era um desejo de tempos. Ela disse que acha incrível quando os atores e atrizes quebram as limitações presas aos estereótipos físicos. “Para mim, é muito bacana brincar de viver esta perspectiva [de interpretar alguém tão diferente dela] e acho que a novela faz isso lindamente, porque ela é uma vilã apaixonante. Apesar de ter raiva em alguns momentos, o público vai se apaixonar por ela e vai sentir pena também. Em algumas situações, a Helena vai ter que se manter de pé e isso vai ser bonito de se ver. Por pior que seja, ela é muito forte”, reflete.
Ainda que tenha sentido certo impacto ao saber que a personagem seria uma “super vilã”, ela enfrentou as inseguranças e se colocou à disposição para abraçar a personagem e dar o melhor de si.
A troca com Isabel Teixeira, segundo Fernanda, tem sido uma experiência engrandecedora para a construção da essência da vilã. Após inúmeras tentativas e testes, Fernanda sente que estar ali como parte do elenco principal é uma experiência agregadora para ela como profissional. “É muito bom poder sentir que faço parte de algo maior. Esse elenco é como uma família. Todos estão ali reunidos por um objetivo para contar essa história para as pessoas. É uma troca muito especial”, disse.
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