No ar em ‘Cara e Coragem’, Paula Braun fala sobre audiovisual: “Por mais mulheres retratadas com seus dramas reais”


A atriz está de volta à TV em ‘Cara e Coragem’, folhetim das 19h da TV Globo, e através de seu núcleo na trama pode abordar temas como a reinvenção de uma mulher após os 40, machismo e relacionamentos tóxicos. Paula fala também sobre a vida em família – ela é casada com Mateus Solano -, e o que sonha assistir no audiovisual, quando o tema for o universo feminino: “Precisamos ver as mulheres em seus trabalhos, seus dramas reais, que não são buscar homem ou chorar por macho que foi embora, como vemos muito retratado por aí. Ou chorando por ser gorda, por pressão estética, esses dramas que nos enfiam goela abaixo, para buscar um ideal imposto. Que a gente possa se retratar como seres complexos que somos, com as nossas revoluções, e mudanças que criamos para a sociedade. E que tenhamos também no audiovisual a história das mulheres negras, das mulheres trans. E em tramas que fujam dos esteriótipos: por que não vemos filmes por aqui de mulheres indo para o espaço?”

*Por Brunna Condini

Paula Braun contabiliza 25 anos de carreira e quase 10 longe das novelas, mas não afastada dos sets ou dos palcos. E nesta entrevista ao site, celebra o momento de retorno aos folhetins em Cara e Coragem. “A televisão tem abraçado mais gente, mais pluralidade. Voltar às novelas só agora não foi uma escolha. A oportunidade veio neste momento, e a TV não é um meio fácil de se entrar, nunca foi. E que bom que aconteceu, ainda mais depois de dois anos de pandemia, em que o setor foi tão impactado. Fomos os primeiros a ‘fechar’ e os últimos a ‘abrir’. Fico feliz com essa retomada, ainda em pandemia, com altos e baixos, mas já vacinados”, diz.

Após o término de ‘Quanto mais vida, melhor’, em que o marido, Mateus Solano, integrava o elenco, Paula estreou em ‘Cara e Coragem’, vivendo a bailarina Olívia. “Até fiz um reels no meu Instagram brincando com isso. Um saiu e o outro entrou no horário. Somos dois atores em casa, não temos rotina, mas tentamos organizar tudo com os filhos, com uma estrutura da melhor forma possível. A novela anterior, com Mateus, foi a primeira que as crianças assistiram, inclusive. E agora, também estão vendo a que faço. Ficam super orgulhosos dos pais. É muito especial ver com eles, temos nos reunido em frente à TV “, divide a atriz, mãe de Flora, 11, e Benjamin, 7.

A atriz Paula Braun esta em 'Cara e Coragem', vivendo Olívia, bailarina e e dona de uma companhia de dança (Foto: Jorge Bispo)

A atriz Paula Braun esta em ‘Cara e Coragem’, vivendo Olívia, bailarina e e dona de uma companhia de dança (Foto: Jorge Bispo)

Embora tanto a atriz, quanto Mateus desejem deixar os filhos livres para escolherem seus caminhos futuros, ela revela que Flora já explora o universo artístico. “Ela faz Tablado. Mas achamos muito importante que vivam a infância deles, já que estamos tão expostos. Queremos que aproveitem essa fase linda para brincarem, fazerem tudo o mais normal possível. Depois se ela quiser, escolhe. Queremos que sejam felizes, e babamos com tudo o que fazem”.

Mateus Solano e Paula Braun e os filhos, Flora, 11, e Benjamin, 7 (Reprodução/ Instagram)

Mateus Solano e Paula Braun e os filhos, Flora, 11, e Benjamin, 7 (Reprodução/ Instagram)

Na trama de Claudia Souto, Paula é Olívia, uma mulher independente, que tem sua trajetória como bailarina, e administra a própria academia. Além disso, vive há cerca de 20 anos um relacionamento às escondidas com Joca (Leopoldo Pacheco), pai de sua filha Lou (Vitória Bohn). “Ela é uma empreendedora, mas também uma artista, uma pessoa que dançou a vida toda. É lindo quando decide voltar a dançar, estou ansiosa para que aconteça. A Olívia é uma mulher batalhadora, uma mãezona, e isso sou também. É livre, faz as coisas sem se preocupar com o que vão pensar dela, e muito justa também”, detalha.

Paula Braun e Vitória Bohn nos bastidores: as atrizes são mãe e filha na trama das 19h da Globo, 'Cara e Coragem' (Reprodução/ Instagram)

Paula Braun e Vitória Bohn nos bastidores: as atrizes são mãe e filha na trama das 19h da Globo, ‘Cara e Coragem’ (Reprodução/ Instagram)

“Têm uns caminhos que a personagem escolhe, que particularmente acho meio roubada, como ficar com um homem casado. Não por essa história machista de julgar a mulher por este tipo de relação, dizendo que é a ‘destruidora de lares’, mas porque acredito que mereça algo melhor. Ora, quem é casado é ele, minha personagem é solteira. Mas a sociedade tem a mania de jogar os julgamentos sempre em cima da mulher. É ele o problema, e sendo ele o problema, ela pode merecer mais, não é mesmo? Acho lindo como a Claudia, a autora, coloca os personagens, porque todos têm seus pontos fortes e fracos. O ponto que não é heroico, é frágil, precisa de coragem para mudar. Como nós na vida”.

"Nós, mulheres, merecemos quem nos tratem com respeito, amor e carinho" (Foto: Jorge Bispo)

“Nós, mulheres, merecemos quem nos tratem com respeito, amor e carinho” (Foto: Jorge Bispo)

A atriz de 43 anos, comenta sobre o machismo ainda latente no que diz respeito às posições em uma relação. “Em casos extraconjugais, casos de abuso, assédio, sempre culpabilizam as mulheres. É um modelo de sociedade bem machista. Até essa história do cara achar que pode ter outra família, sem combinar com a outra parte, é muito do machismo. A trama da minha personagem ainda nem se aprofundou na novela, e algumas mulheres já vieram dividir situações similares comigo no Instagram. Isso acontece muito. Ainda bem que tem mudado e as mulheres têm se privilegiado mais nos relacionamentos. Eu torço para isso acontecer com a Olívia. Nós merecemos que nos tratem com respeito, amor e carinho”, destaca Paula.

Casada há 14 anos com Mateus Solano, ela observa as práticas que fazem o amor permanecer ao longo do tempo. “São muitas fases em um casamento, né? Mas acho que o principal, que descobri, e posso falar por mim, é respeitar o espaço do outro. Temos espaços individuais, e o nosso, claro, adoramos estar juntos. Mas tem coisas que ele faz, e não curto muito, como trilha, por exemplo (risos), e coisas que adoro, e ele já nem tanto, como ir aos blocos de Carnaval. E fazemos o que curtimos. Acho muito importante a confiança no outro. Hoje estamos juntos com alguém, porque queremos, estar com o outro deve ser um prazer”.

Mateus Solano e Paula Braun estão juntos há 14 anos: "Respeitamos um o espaço do outro" (Reprodução/ Instagram)

Mateus Solano e Paula Braun estão juntos há 14 anos: “Respeitamos um o espaço do outro” (Reprodução/ Instagram)

No folhetim das 19h, a filha da personagem de Paula, vivida por Vitória Bohn, vive uma relação tóxica. O que também afeta mais as mulheres. “Ela não pode proibir a filha de namorar esse cara, mas está atenta, alerta. E infelizmente, como muitas famílias por aí, nem tudo consegue ver também. Além disso, quem está vivendo um tipo de relacionamento assim, muitas vezes não consegue perceber. Mais uma vez, a sociedade patriarcal fazendo a mulher se sentir culpada. Ainda bem que as novas gerações vem desconstruindo isso mais cedo. Minha filha já olha para a novela e diz: “Machista” (risos). Está ligada nas coisas, com uma clareza que não tivemos. A mulher sempre ocupou um lugar inferior ao homem, na sociedade, nas religiões, nos empregos, mas isso vem mudando, estamos ocupando os espaços”.

"Precisamos ver mais mulheres reais. Em seus trabalhos, seus dramas, que não são buscar homem ou chorar por macho que foi embora, como vemos muito retratado por aí. Ou chorando por ser gorda, por pressão estética, esses dramas que nos enfiam goela abaixo" (Foto: Jorge Bispo)

“Precisamos ver mais mulheres reais. Em seus trabalhos, seus dramas, que não são buscar homem ou chorar por macho que foi embora, como vemos muito retratado por aí. Ou chorando por ser gorda, por pressão estética, esses dramas que nos enfiam goela abaixo” (Foto: Jorge Bispo)

No período em que esteve fora da TV , a atriz focou em outra paixão, lançou seu primeiro longa-metragem ‘Iô Iô de Iá Iá’, pela Globoplay, como diretora e produtora. O documentário fala sobre o amor, a velhice, a morte e a vida de casais de 30, 50 e 70 anos juntos. O filme retrata uma época em que as mulheres foram muito reprimidas em relação aos homens. Interessada pelas temáticas femininas como criadora, ela aponta as narrativas que precisamos ver mais no audiovisual. “Precisamos ver mais mulheres reais. Em seus trabalhos, seus dramas, que não são buscar homem ou chorar por macho que foi embora, como vemos muito retratado por aí. Ou chorando por ser gorda, por pressão estética, esses dramas que nos enfiam goela abaixo, para buscar um ideal imposto. Que a gente possa se retratar como seres complexos que somos, com as nossas revoluções, e mudanças que criamos para a sociedade. E que tenhamos também no audiovisual a história das mulheres negras, das mulheres trans. Que a gente olhe e se veja retratada realmente. E em tramas que fujam dos esteriótipos: por que não vemos filmes por aqui de mulheres indo para o espaço?”, indaga Paula, que após a novela já começa a produção do próximo filme, uma ficção, tendo o universo feminino como tema central. “O meu próximo filme vem pretendendo quebrar padrões, lançar esse olhar para se jogar no novo”.