*Por Karina Kuperman
Não há quem não se lembre do tórrido romance entre Estela e Padre Pedro, de “Mulheres Apaixonadas”. A trama, do começo dos anos 2000, está quase completando 20 anos, mas o amor da personagem de Lavínia Vlasak por um padre é lembrado com comoção até hoje. Nicola Siri sabe disso. E, agora, tem o desafio de viver outro padre na televisão, mas bem diferente do personagem de Manoel Carlos. Em “Colônia”, série que irá ao ar no Canal Brasil, Nicola viverá o Padre João. A série é inspirada na verdadeira história de tantas pessoas que passaram pelo hospício Colônia ao longo de seus mais de 100 anos de existência e, pela primeira vez, será recriado ficcionalmente um pedaço doloroso da história do Brasil, contando a trajetória de tantas pessoas que foram injustamente trancadas nesse hospício, aonde mais de 60 mil pessoas perderam uma existência.
“O que aconteceu entre 1903 e 1984, no Hospício Colônia de Barbacena, foi monstruoso e inadmissível! Mataram mais de 60 mil pessoas lá! A barbárie da ditadura que o Brasil viveu é atroz! Quando o André Ristum (roteirista e diretor) me convidou, fiquei muito feliz. Só um diretor genial e corajoso como ele poderia fazer uma série como esta! É uma história que precisa ser contada para que entendamos melhor o que estamos vivendo agora”, explica Nicola.
Seu personagem representa a visão da Igreja sobre o local. “É um padre que mora na igreja e que convive com a realidade deste hospício ao lado. A série irá mostrar como a Igreja se comportava com o poder e com a ditadura da época”, diz. Não há, portanto, comparativo com o personagem imortal da trama de Maneco. “O Padre Pedro era mais imerso no social! Já o Padre João ainda está a serviço do poder nefasto da ditadura e não despertou, se finge de cego”, analisa ele, que ainda é reconhecido como Padre Pedro nas ruas. “Esse personagem me deu tudo profissionalmente! Foi, com certeza, o papel mais marcante da minha carreira. Vou ser eternamente grato ao Manoel Carlos e ao Ricardo Waddington! Até hoje ainda me abordam e pedem a bênção ao Padre Pedro”, conta, aos risos, o italiano de coração brasileiro. “Eu amo o Brasil e o Rio de Janeiro! E como cidadão sinto o dever de ficar e lutar para o bem, pela liberdade e pela democracia, mas, sempre que posso, vou de férias para Itália”.
Além de Colônia, Nicola acaba de entrar no elenco de “Éramos seis” como Osório, dono da oficina onde Alfredo (vivido por Nicolas Prattes) pede emprego após a morte de Júlio (Antonio Calloni). “Entrar em uma novela depois da estreia dá um certo nervoso, muito mais do que o normal! Mas eu já tinha vivido a mesma experiência em ‘Belíssima’ e foi ótimo! O elenco é muito talentoso e eu já conhecia o Nicolas Prattes porque a gente joga futebol juntos. Está sendo maravilhoso ver o ótimo profissional que ele está se tornando. O caminho é longo, mas o talento deste jovem ator é incrível! Inteligente, sério e receptivo”, elogia.
Pensa que acabou? Pois o ator italiano também está no ar em “Chuteira Preta“, série da Amazon Prime que fala sobre o submundo do futebol e aborda temas como máfia russa de compra de resultados, corrupção de dirigentes. “O futebol movimenta muito dinheiro e, onde tem dinheiro demais, infelizmente, os interesses podem acabar ficando acima de tudo. O futebol italiano, por exemplo, viveu vários escândalos de jogos comprados e vendidos com apostas, armações… É tristíssimo, mas infelizmente é a real. E nós, como artistas, temos o dever de colocar o dedo na ferida e tirar a venda dos olhos das pessoas. Censura não! Censura nunca mais!”, protesta.
Na trama, ele vive um empresário de jogadores de futebol: “Eu tenho afinidade com o tema. Comecei a jogar nas categorias de base aos 10 anos! Aqui no Brasil aumentei ainda mais o meu conhecimento sobre o futebol graças aos amigos que fiz como Zico, PC Cajú, Junior, Gonçalves, Ernane, Rafinha, Juan, entre outros. É um mundo incrível que sempre me fascinou! Claro que, quando o Paulo Nascimento (diretor da série) me convidou pra viver o Genaro, mergulhei ainda mais neste universo falando com vários empresários”, conta ele, que se surpreendeu com a receptividade dos espectadores: “Na verdade, o público é menos cego do que a gente pensa. Aliás, várias pessoas me abordam dizendo que, finalmente, as verdades estão começando a ser ditas sobre o mundo do futebol”, conta.
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