Nerd gato de ‘Terra e Paixão’, Rafael Gualandi fala de fãs ousados no Insta e debate preconceito contra camgirls

*por Vítor Antunes

Desde sempre, as novelas e filmes retratam os geeks da mesma maneira: rapazes tímidos, atrapalhados, assexuados e pouco habilidosos socialmente. Em “Terra e Paixão“, Rafael Gualandi vive Enzo, um profissional de informática bonito e com o corpo talhado, que tem um affair importante na trama, Gladys (Leona Cavalli). Mulher que imprime ser devotada e moral, mas que, no sigilo, tem casos com vários homens da cidade, dentre os quais Enzo. Aliás, o próprio personagem de Rafael é o responsável por investigar quem é a mulher por trás da máscara e que é alvo da fixação de Tadeu (Cláudio Gabriel), esposo de Gladys. “Terra e Paixão” é a primeira novela inteira do ator, que é formado em Engenharia e já teve que trabalhar em várias atividades para bancar seu sonho: desde ser motorista de aplicativo a animador de bonecos vivos, e ainda está à frente de uma empresa de impermeabilização e limpeza de sofás. “Essas experiências e vivências profissionais são importantes para trabalhar como ator. Nos permite conhecer outras realidades”, pontua.

Solteiro há três anos, o ator diz estar dedicando-se mais ao trabalho, razão pela qual não deu muitos ouvidos ao campo afetivo. “Nunca fiquei tanto tempo solteiro. Tenho focado muito no trabalho e em 2022 e 2023 estive mais direcionado aos objetivos profissionais, canalizei-me mais para isso”. Naturalmente, e sendo algo comum aos artistas que têm rede social aberta, há os fãs mais afoitos que mandam fotos ousadas aos artistas. Rafa nos diz que geralmente bloqueia quem manda, “pois acho que é uma abordagem desrespeitosa”.

Rafael Gualandi está fazendo sucesso em “Terra e Paixão”, como um geek não estereotipado (Foto: Márcio Farias)

O ESPÍRITO SANTO E A VITÓRIA 

Rafael Gualandi é nascido em Vila Velha, segunda cidade mais importante do estado do Espírito Santo. Há quem diga que esta seja até maior e mais relevante que Vitória, a sede administrativa do estado. Muito pouco se fala sobre algo cultural relativo àquela unidade federativa, senão através de seus filhos ilustres como Elisa Lucinda e Roberto Carlos. Ao ver de Rafael, há poucos incentivos culturais na terra da moqueca: “Tudo relativo a esse assunto, no Espírito Santo, é frágil. Acho bom quando há movimentos culturais lá e lastimo que, sendo ele um estado ainda mais extenso que o Rio de Janeiro, não invista em nada relativo a própria identidade cultural”. Como forma de ser porta-voz de seu estado, e mais ainda, de sua cidade, Rafa destaca as celebrações negras da Barra do Jucu, como a congada. Por acaso, a manifestação capixaba tornou-se popular através da música “Madalena do Jucu“, de Martinho da Vila, gravada em 1989, que dizia: “Eu fui lá pra Vila Velha/Direto do Grajaú/Só pra ver a Madalena, e ouvir tambor de congo/Lá na Barra do Jucu”.

Banda de Congo da Barra do Jucu. Celebração da terra natal de Rafael Gualandi – e da Madalena de Martinho da Vila (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Para se estabelecer na carreira, Rafael deixou Vila Velha e veio para Bangu, no Rio de Janeiro. Nada foi fácil, naturalmente. Até chegar à novela das 21h, o artista trabalhou como motorista de aplicativo, formou-se em Engenharia, foi personagem vivo em eventos, e abriu uma empresa de impermeabilização e limpeza de sofás – que tem até hoje. Essa amplitude de possibilidades permitiu a ele ter acesso a “cotidianos diferentes, ouvindo outras pessoas e realidades. E não é algo incomum. Muitos grandes atores tiveram vivências como garçons, ou em profissões semelhantes. O ator precisa saber desses sentimentos e vulnerabilidades humanas para poder vivê-las”.

Depois de haver passado por todos essas desafios, sem dúvida, estar numa novela das 21h é, sem trocadilhos, uma vitória. “Realizei vários sonhos em um: fazer uma novela da Globo, das nove e do Walcyr Carasco. É uma coisa incrível! O elenco da novela é muito robusto, respeitoso, experiente, consagrado e com eles tenho uma troca generosa, incrível”. O ator conta-nos que há pessoas que, ao vê-lo na TV, mandam fotos da tela, revelando-lhe o prestígio. Mas também, há quem, de forma mais ousada, mande conteúdos mais picantes. “Quando fazem isto eu bloqueio. Acho tratar-se de uma abordagem desrespeitosa”. Rafa está solteiro há três anos. “Nunca fiquei tanto tempo solteiro e muito se deve ao foco no trabalho. Entre 2022 e 2023 canalizei minha energia para este fim, mas acho que as coisas acontecem na hora que têm que acontecer”. Como a novela estenderá suas gravações até janeiro, Gualandi estará em função desta obra, e organiza-se para realizar montagens teatrais para o início do ano que vem.

Rafael Gualandi e nudes no Instagram: “Bloqueio” (Foto: Márcio Farias)

Não é apenas com os fãs que Rafael tem feito sucesso. “Tenho recebido muita mensagem de profissionais de Tecnologia da Informação (TI), que colabora mandando textos e informativos sobre a profissão, algo que agrego ao personagem. Muitos agradecem por eu não estar fazendo um “nerd” estereotipado, bobo”. A novela também coloca o geek em outro lugar, distante do que costumeiramente cabe a eles na teledramaturgia ou no cinema: O das pessoas incel (do inglês, involutariamente celibatários). “É legal quebrar esse estereotipo do nerd “. O artista também relata que, por ele não usar na vida real o figurino comportado de Enzo, nem sempre as pessoas o reconhecem de forma imediata nas ruas”.

Rafael Gualandi no seu Instagram é bem “menos comportado” que Enzo (Foto: Reprodução/Instagram)

Como em “Terra e Paixão“, o personagem do ator está diretamente envolvido na “investigação” para saber o rosto por trás da Rainha Delícia – personagem de Tatá Werneck, que vive a camgirl Anely. Rafael não se opõe às plataformas adultas ainda que não veja a si numa delas .”Acho que qualquer preconceito é ruim e todos têm a liberdade de ser o que é. A nossa sociedade têm se transformado de maneira melhor e positiva para quebrar esses paradigmas. Um exemplo é o BBB, que antigamente as pessoas tinham reservas e hoje em dia, não”. Rafael também diz que houve momentos em que a beleza e/ou o físico puseram seu talento em cheque: “Constantemente as pessoas julgam por aparência. É algo natural do ser humano. Aconteceu e acontece. É difícil mas eu me mantenho firme e não ligo. Mantenho meu foco e as boas energias”. Perguntamos ao ator se há algum personagem, tanto no teatro ou na TV, que ele gostasse de fazer e ele disse que não, mas não se furtou em elogiar um colega de elenco por sua composição artística. “Adoro o Luigi, do Rainer Cadete“.

Ligado na arte, Gualandi relata que a leitura é, igualmente outra paixão. “Um livro que li recentemente tenho-o como algo necessário trata-se de “‘Outros Jeitos de Usar a Boca”‘, livro de poemas da Rupi Kaur. A autora é muito intensa e me arrepia por inteiro”. Para tanto, o ator reproduz um dos poemas que mais o tocou, por fazê-lo remeter-se às mulheres próximas a si que viveram relacionamentos abusivos: “Toda vez que você diz à sua filha e que grita com ela porque a ama, você a ensina a confundir raiva com bondade, o que parece uma boa ideia. Até que ela cresce e passa a confiar em homens que as machucam. Porque eles se parecem demais com você”.

Rafael Gualandi, o nerd contemporâneo de “Terra e Paixão” (Foto: Márcio Faria)

Fotos: Marcio Farias
Styling: Samantha Szczerb
Agradecimentos Portinho RJ e Index