*Por Brunna Condini
Há mais de 30 anos, Nelson Freitas namorou Isis de Oliveira durante um ano e meio. À época, a ex-modelo e atriz era então cunhada do empresário Eike Batista, que o ator agora interpreta no cinema em ‘Eike — Tudo ou Nada’, longa que estreia nesta quinta-feira (22) em circuito nacional. “Convivi neste período com ele. Lembro que era um cara simples, mantinha seu DNA mineiro. E também vaidoso, sedutor. Eu ali, num começo de carreira, ‘duro feito um coco’, e falávamos de igual para igual. Naquela época, ficava escutando as histórias dele e já imaginava que dariam um filme. A Lei da Atração é tão mágica que me escolheram para interpretá-lo no cinema”, conta.
Espero que esse filme faça com que me vejam na multiplicidade que tenho como ator – Nelson Freitas, ator
“É inegável que a minha convivência com ele me trouxe alguns elementos para a construção do personagem, mas tudo isso tem muito tempo. O que acho é que, desde aquele tempo, o mindset do Eike era diferente. Ele achava que dava e ia em frente. E muitas vezes deu. Até que não deu. Quis imprimir essa energia. No filme não fazemos julgamentos. Falamos desse período para entender essa parte importante da sua trajetória. Tudo o que aconteceu depois foi triste para ele e para o Brasil”, diz, sobre o enredo do roteiro centrado na ascensão e queda do império X.
Com direção e roteiro de Andradina Azevedo e Dida Andrade, a produção de Tiago Rezende é inspirada no livro homônimo da jornalista Malu Gaspar. Sobre a preparação, Nelson destaca que não teve contato com o empresário. “Foi uma decisão da direção e da produção. A ideia era fazer uma composição sem envolvimento. Claro que não ter essa aproximação aumentou o desafio. Ele existe e é meu contemporâneo. Então fui estudá-lo. Também emagreci, estava forte, fiz muito exercício na pandemia. Perdi 10 quilos em pouco mais de um mês”, diz.
A história começa em 2006, quando o Brasil passava por uma expansão econômica com o pré-sal e o empresário decide criar a petroleira OGX. E segue até a sua prisão em 2017, alvo da Operação Eficiência, um desmembramento da Operação Lava Jato, no Rio de Janeiro. Sétimo homem mais rico do mundo em 2012, com uma fortuna estimada em US$30 bilhões, Eike, na época, era o maior bilionário brasileiro do mundo e estava no auge com as empresas do grupo EBX (OGX, MMX e OSX). Em 2014, já não integrava mais a lista da Forbes.
Eu não tenho a síndrome de Peter Pan, eu sou o próprio (risos). Tenho muitos sonhos ainda – Nelson Freitas, atriz
Ator desde 1978, quando começou a carreira, Nelson ficou bem popular entre o grande público nos 16 anos que permaneceu no humorístico ‘Zorra Total‘ da TV Globo. “Tinha acabado de fazer ‘Chiquititas‘ (1997-1999). Foi uma novela com muita repercussão e o Mauricio Sherman (1931-2019), diretor do ‘Zorra’, me convidou para fazer o programa. Era ótimo, no entanto, fiquei mais tempo do que deveria. Entrei na minha zona de conforto. Espero que esse filme faça com que me vejam na multiplicidade que tenho como ator. Não cabem mais preconceitos no mundo em que vivemos. Saí do ‘Zorra Total’ e fiz novelas, série e cinco filmes nos últimos dois anos. O artista é livre para experimentar o que quiser. Isso se reflete no convite que recebi para fazer Eike e se alinha com o meu reposicionamento de carreira”.
O ator celebra a fase e aposta em novos rumos: “Continuo me sentindo muito jovem. Um jornalista me perguntou como eu me sentia com 60 anos e com essa pinta de garotão. Respondi: ‘Eu não tenho a síndrome de Peter Pan, eu sou o próprio (risos)’. Tenho muitos sonhos ainda para realizar, apesar de saber que o tempo está passando. Desejo cada vez mais fazer projetos com temas relevantes, tocantes, que possam contribuir para a mudança de paradigma das pessoas. Acabei de ler um livro chamado ‘O Holocausto Brasileiro’ sobre o hospital Colônia, no qual morreram 60 mil pessoas. Tenho vontade de fazer outro filme sobre o tema”.
CONEXÃO INTERNACIONAL
Com a filha morando na Austrália há 15 anos, o ator costuma passar temporadas por lá para ficar mais perto dela e do neto. “Acabei de voltar da maior temporada no país, Foram seis meses. Foi diferente, uma vivência diária do lugar muito bacana. Ano passado, eu fiz quatro testes para séries americanas do streaming. Então, fiquei mais tempo para estudar inglês. Penso cada vez mais em ter uma carreira internacional também. O mundo precisa do Brasil. Temos muito a oferecer com nossa mistura única no planeta”.
Desejo cada vez mais fazer projetos com temas relevantes, tocantes, que possam contribuir para a mudança de paradigma das pessoas – Nelson Freitas, ator
E fala sobre a identificação com a Austrália: “A educação chegou a ser a segunda economia lá. Muita gente vai para estudar. Além disso, tem 25 milhões de habitantes, o equivalente à população de São Paulo, espalhada num território daquele tamanho. Adoro o país. Fiz até no meu canal do YouTube a série ‘Conexão Austrália‘ para dar dicas, caminhos para quem deseja conhecer o lugar. Me aproximei da vida local, me envolvi. Tanto, que vou receber ainda este ano, aqui no Brasil, a secretária de migração de Queensland, estado ao Nordeste do continente. Fui convidado para ser embaixador do estado no Brasil. Precisam de talentos, de investimentos. Vão apresentar um programa novo de migração”.
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