Negros, transexuais, pedidos de inclusão, mulheres de todas as idades: confira os elementos que fizeram do Oscar 2018 uma edição para entrar para a história


Com quatro estatuetas, “A Forma da Água” foi o grande vencedor da noite, Entre as conquistas, a produção que fala sobre a relação de uma mulher surda com uma criatura misteriosa ganhou na categoria Melhor Filme. Na parte técnica, o grande destaque foi “Dunkirk”, com três vitórias

“Se esta noite você é um candidato que não está fazendo história, que pena para você”. O comentário de Jimmy Kimmel, apresentador da cerimônia do Oscar na noite passada, é uma síntese do que foi a maior premiação do cinema este ano. Ontem, Los Angeles viveu mais um capítulo do momento engajado e transformador das artes contemporâneas. Entre os vencedores, teve longa com protagonista transexual, um negro sendo o primeiro a ganhar na categoria Roteiro Original e a pessoa mais velha, com 89 anos, conquistando uma estatueta. Além de, claro, discursos e manifestações. De fato, o Oscar 2018 veio fazer história.

Jimmy Kimmel foi o apresentador do Oscar 2018 em Los Angeles (Foto: Reprodução/AP)

O destaque da noite poderia ser “A Forma da Água”, que ganhou quatro estatuetas este ano. E, realmente, o longa que mostra a relação de uma mulher surda com uma criatura misteriosa teve o seu brilho. Mas o Oscar 2018 foi muito além de uma super produção. O grande troféu da noite foi para a consagração da diversidade e da transformação vivenciada pelo audiovisual. E os personagens foram vários. Guillermo Del Toro, por exemplo, fez história garantindo a quarta vitória de um diretor mexicano nos últimos cinco anos pelo trabalho em “A Forma da Água”.

Equipe de “A Forma da Água”, que foi o grande vencedor da noite com quatro estatuetas – entre elas,  a de Melhor Filme (Foto: Reprodução/Reuters)

Em seu discurso, ele citou a importância da integração entre as nações através da arte. “Eu sou um imigrante, como Alfonso [Cuarón], Gael [Garcia Bernal] e muitos de vocês. A melhor coisa no nosso setor é poder apagar as linhas, as fronteiras. Muros só vão piorar as coisas”, disse Guillermo Del Toro. Além do diretor, o México ainda ganhou destaque na categoria Melhor Animação. Para a academia, “Viva: A Vida é uma Festa” foi a melhor produção com uma história que exaltava a cultura do país.

Performance da música de “Viva: a Vida é uma Festa”, que ganhou na categoria Melhor Canção com “Remember Me” (Foto: Reprodução/AP)

Outra personagem que fez parte desta edição histórica do Oscar foi Daniela Vega. A artista transexual foi a protagonista do longa chileno “Uma Mulher Fantástica”, que ganhou na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Sendo assim, esta foi a primeira vez que uma produção com uma pessoa transexual garantiu uma estatueta na história da premiação. Antes, filmes sobre a diversidade de gênero já haviam ganhado o Oscar, mas com atores cisgêneros. “Marina e eu compartilhamos que somos ‘trans’, que gostamos de cantar ópera e dos homens bonitos, nada mais. Ela é muito mais elegante do que eu, tem mais paciência, é uma mulher muito mais pacífica, eu sou mais explosiva, mais latina”, comparou Daniela Vega com sua personagem no longa, Marina, em uma entrevista à agência AFP.

Daniela Vega, atriz chilena que protagonizou o filme “Uma Mulher Fantástica” (Foto: Reprodução/Reuters)

Por falar no destaque à diversidade de gênero, a inclusão foi uma temática forte na noite passada também. E de diversas maneiras. Vencedora da categoria Melhor Atriz, Frances McDormand destacou os projetos engavateados que cada mulher possui e ficam aguardando oportunidades. Para falar sobre isso, a atriz convocou que suas colegas de profissão se levantassem para apoiar o discurso. “Todas nós temos histórias para contar e projetos para financiar. Não falem conosco sobre isso nas festas esta noite. Nos convidem para seus escritórios daqui uns dias. Ou podem ir aos nossos. O que for melhor. E contaremos tudo sobre eles. Tenho algumas palavras para deixar com vocês esta noite, senhoras e senhores: cláusula de inclusão”, disse Frances em referência ao movimento que luta pela diversidade de gênero e raça nas produções. Sem falar na vitória de Allison Janney, que ganhou seu primeiro Oscar aos 58 anos, por sua personagem em Eu, Tonia. A noite teve ainda o brilho de Jane Fonda apresentando um prêmio ao lado de Helen Mirren, Meryl Streep sendo indicada pela 21a vez, Nicole Kidman arrasadora no auge de sua carreira com um lindo vestido Armani Privé, Viola Davis e outras tantas mulheres maduras que vêm fazendo história na industria do cinema.

No quesito raça, a conquista deste ano foi com Jordan Peele, que foi o primeiro negro a ganhar o Oscar de Roteiro Original com “Corra!”. O diretor e roteirista norte-americano foi o quarto negro a ser indicado na categoria. “Eu quero dedicar este prêmio a todas as pessoas que levantaram a minha voz e me deixaram fazer esse filme”, disse Peele em seu discurso. Em roteiro adaptado, outros artistas negros já haviam conquistado a estatueta.

Jordan Peele foi o primeiro negro a ganhar na categoria Melhor Roteiro Original com “Corra!” (Foto: Reprodução/Reuters)

Se enquanto gênero e raça ainda são propósitos nos bastidores de Hollywood, idade parece ter sido um patamar alcançado nesta edição do Oscar. Aos 89 anos, James Ivory se tornou o ganhador mais velho de uma estatueta na premiação. A conquista veio como consequência do trabalho em “Me Chame Pelo Seu Nome” na categoria Melhor Roteiro Adaptado. Antes dele, o artista mais experiente a ganhar o troféu era Ennio Marricone, que em 2016 ganhou por Melhor Trilha Sonora de “Os Oito Odiados” com 86 anos de idade.

Aos 89 anos, James Ivory é hoje o artista mais velho a ter ganhado um Oscar (Foto: Reprodução/Reuters)

Experiência, aliás, é algo que Roger Deakins tem de sobra na premiação. No entanto, em 2018 esta longa relação do diretor com o Oscar teve sabor especial. Após 13 indicações, ele ganhou sua primeira estatueta este ano pela fotografia de “Blade Runner 2049”. Com 68 anos de idade, ele frequenta o tapete vermelho como indicado desde 1995, quando concorreu com “Um Sonho de Liberdade”.

Para completar a lista de destaques, curiosidades e conquistas da cerimônia do Oscar 2018, tivemos atleta vencedor e estratégias de precaução. O jogador de basquete, que também é roteirista, Kobe Bryant ganhou pelo curta “Dear Basketball”. Na produção, ele também é responsável pela narração da história. E, para garantir que tudo se desenrolasse da melhor forma – e sem gafes, os vencedores desse ano tiveram seus nomes revelados em letras grandes nos aguardados envelopes. Para quem não lembra, no ano passado, o nome do Melhor Filme foi anunciado errado e corrigido no palco pelos supostos vencedores. Como esquecer, né?

O jogador de basquete Kobe Bryant ganhou na categoria Curta de Animação com “Dear Baketball”, em que assina o roteiro e narração (Foto: Reprodução/Reuters)

Confira os vencedores de cada categoria:

Melhor Filme: “A Forma da Água”
Melhor Diretor: Guillermo Del Toro (“A Forma da Água”)
Melhor Ator: Gary Oldman (“O Destino de uma Nação”)
Melhor Atriz: Frances McDormand (“Três Anúncios para um Crime”)
Melhor Roteiro Adaptado: “Me Chame Pelo Seu Nome” (James Ivory)
Melhor Roteiro Original: “Corra!” (Jordan Peele)
Melhor Ator Coadjuvante: Sam Rockwell (“Três Anúncios para um Crime”)
Melhor Atriz Coadjuvante: Allison Janney (“Eu, Tonya”)
Melhor Filme em Língua Estrangeira: “Uma Mulher Fantástica”
Melhor Design de Produção: “A Forma da Água”
Melhor Fotografia: “Blade Runner 2049” (Roger Deakins)
Melhor Figurino: “Trama Fantasma”
Melhor Canção: “Remember Me” (“Viva: a Vida é uma Festa”)
Melhor Edição: “Dunkirk”
Melhor Mixagem de Som: “Dunkirk”
Melhor Edição de Som: “Dunkirk”
Melhor Animação: “Viva: a Vida é uma Festa”
Melhor Curta de Animação: “Dear Basketball”
Melhor Curta: “The Silent Child”
Melhor Trilha Sonora: “A Forma da Água”
Melhor Documentário: “Ícaro”
Melhor Documentário em Curta Metragem: “Heaven is a Traffic Jam on the 405”
Melhor Maquiagem e Cabelo: “O Destino de uma Nação”
Melhor Efeitos Visuais: “Blade Runner 2049”