* Por Carlos Lima Costa
A atriz e contorcionista Natasha Jascalevich protagonizou com Emílio Dantas uma das cenas mais incensadas na série Todas As Mulheres do Mundo, exibida na Globoplay, e, agora, na Globo. O episódio vai ao ar hoje, dia 6, com uma cena de amor entre Natália e Paulo, personagens dos dois, realizada em um tecido acrobático. Ela achou interessante a repercussão, mas garante que na vida real nunca experimentou tal aventura. “Sobre o sexo as pessoas têm muito esse fetiche com contorcionista. É claro que é uma facilidade, mas nesse momento você só quer deixar fluir, não quer ficar impressionando. Não é uma pirotecnia. No final das contas, prefiro o conforto de um bom colchão”, diverte-se ela, que afirma ainda ser “uma mulher cheia de fortalezas e delicadezas”.
A atriz, que participou da fase inicial de Amor de Mãe (seu primeiro trabalho para a TV aberta), como Ludmila que entrou na trama para provocar ciúmes entre Danilo e Camila, papéis interpretados por Chay Suede e Jéssica Ellen, aproveitou o período de reclusão na pandemia para criar um curta-metragem chamado “A Lagarta” e mergulhar mais ainda em experimentações na direção de curtas, ao lado do namorado, o ator Gabriel Stauffer, o Claudio em A Força do Querer, que na trama namorou Ivana, a personagem trans vivida por Carol Duarte. Entre os curtas, rodaram O Peixe – pequena ponte entre a gula e luxúria, que estreou na Vimeo, plataforma de vídeos, em fevereiro. Ela dirigiu e Gabriel fez assistência.
“Esse curta faz parte de uma pesquisa, que venho desenvolvendo há três anos, chamada A Pequena Ponte Entre A Gula e a Luxúria, que fala da relação entre a comida e o prazer feminino. Ele é o primeiro de uma trilogia, o segundo é O Pão e, o terceiro, é O Porco. Resolvi abordar o tema, porque acho que falar sobre sexualidade feminina ainda é um tabu. Então, mostro através de um realismo fantástico, como se fosse um grande sonho”, explica ela, que planeja agora concorrer em festivais com esta produção.
E prossegue: “Essa temática tem me envolvido dentro da minha pesquisa e fora também, quando sou convidada por exemplo, para fazer o Desnude, do GNT, uma série sobre erotismo feminino, a visão da mulher sobre a sexualidade. E também com Todas As Mulheres do Mundo, que, apesar de ter sido dirigida por uma mulher, mostra o ponto de vista masculino sobre a sexualidade. Então, as mulheres têm que tomar a rédea desse ponto de vista. Por isso, comecei a pesquisar e eu acho que a comida é um lugar que rico ou pobre, todas as pessoas tem acesso a ela e ao prazer ligado a ela. Na trilogia, O Porco, na verdade, é o mais violento, a gente traça um paralelo entre a indústria da carne e a violência doméstica, a relação abusiva, quando você está em um relacionamento com uma pessoa que você ama, mas que te machuca e faz mal. Eu nunca tive o desprazer de viver algo assim, mas convivi com muitas mulheres que sofreram abusos psicológicos”, ressalta.
Sobre a questão profissional abusiva, frisa uma curiosidade que observou através dos anos. “No âmbito artístico, já tive o prazer de trabalhar, por exemplo, com mulheres diretoras. E é louco perceber como uma mulher, quando chega no lugar de poder, em sua maioria, parece que teve que se masculinizar no sentido de ser autoritária. Apesar de serem supersensíveis tiveram que se masculinizar no discurso, porque senão parece que a sociedade não lhes dá credibilidade. Parece que uma mulher que é sensível e escuta não consegue comandar um grande grupo”, reflete.
E o assédio de uma mulher a um homem? “É um pouco mais subjetivo, mas, por exemplo, ter o poder de chegar e falar ‘nossa, esse menino aqui é lindo demais, esse eu levava pra casa’. Longe de ser considerado por muitos um abuso sexual. Mas, se um homem falasse isso sobre uma mulher, ele seria meio escandaloso. Mas como é uma mulher em um lugar de poder…. Enfim, é uma relação muito ligada a esse sistema patriarcal que vivemos”, analisa ela, que nos próximos dias 12, 13 e 14, tem programadas apresentações do espetáculo Beth Carvalho, o Musical, no qual interpreta Maria Bethânia. As sessões seriam no Imperator, no Rio, mas ela acha que devido às restrições da pandemia, talvez a peça seja conferida apenas por transmissão online.
Natural da cidade do Rio, Natasha começou a ter aulas de contorcionismo aos 10 anos, em Búzios, onde foi morar, aos três anos, com os pais que eram donos de uma pousada. No balneário, desenvolveu também o lado teatral. Aos 17, quando retornou ao Rio, estudou na Escola Nacional de Circo. “Ser também atriz era o meu diferencial que me fez trabalhar muito em eventos, de mãos dadas com o teatro nas minhas performances”, lembra ela. Até que, em 2014, passou no teste de O Grande Circo Místico, musical de Edu Lobo e Chico Buarque, dirigido por João Fonseca. “Eu nunca tinha visto um musical na vida. Mas, depois dele, fui emendando um no outro por trabalhar com várias vertentes: o circo, a dança e o canto.”
Logo no primeiro musical conheceu Gabriel, protagonista da peça. “Nos apaixonamos ali e emendamos um outro trabalho chamado S’imbora, o Musical – A História de Wilson Simonal”, conta. O romance começou há sete anos. Há seis meses eles resolveram morar juntos. “Ficamos superconfinados tanto no Rio, quanto em Búzios, na casa dos meus pais, ou na casa dos pais dele, em Curitiba. Há quatro meses, testamos positivo para Covid-19. Até hoje não sabemos como pegamos. Mas os sintomas foram leves. A gente teve febre, enjoo, o Gabriel ficou quatro dias sem sentir gosto de nada e eu fiquei uma semana. Justo eu, que tenho minha pesquisa pautada na comida. Um dos meus maiores prazeres é cozinhar e perdi completamente o olfato e não conseguia sentir os sabores”, ressalta. E acrescenta: “Em novembro, meu pai, se ofereceu para os testes da vacina Janssen, da Johnson & Johnson, está no estudo até agora.”
Natasha condena a atitude das pessoas que se aglomeram em bares e festas mesmo diante de tantas mortes de Covid-19. “É muito triste, porque a gente está vivendo uma tragédia. É claro que a culpa desse vírus não é do nosso presidente, mas nenhuma medida foi tomada, pelo contrário. A gente só vê um descaso absoluto com a ciência e com todas as normas de segurança, então, fica muito difícil passar para a população a ideia de que tem que ficar em casa quando o presidente da República não cumpre o seu papel de pelo menos alertar”, conclui.
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