*por Vítor Antunes
Já faz 20 anos que Natallia Rodrigues veio emendando vários papéis importantes na teledramaturgia. Desde 2015, porém, está está afastada do gênero. Segundo ela, apesar de “amar fazer novelas, nos últimos anos o destino me levou para o teatro e séries”. O último folhetim completo do qual a atriz fez parte foi “Verdades Secretas“, na Globo. Agora, ela está na montagem teatral de “O Homem Mais Inteligente da História“, baseada no best-seller homônimo de Augusto Cury. A peça trata, especialmente sobre debater a existência – e a inteligência – de Jesus. Como então fazer uma encenação trazendo Jesus como protagonista, sem ser algo doutrinário, proselitista? Para Natallia, esse é um dos fatores mais importantes e desafiadores da peça, que é “desvincular Jesus e sua mensagem das religiões que o profetizam. Eu, particularmente, fiquei feliz com o convite por ser uma adaptação de um livro que eu adoro e um autor que admiro muito”.
Considerado o psiquiatra mais lido do mundo nas últimas duas décadas, o livro de Cury chegou aos palcos com co-autoria assinada pelo próprio escritor. Quem dá vida ao protagonista na peça é o ator Daniel Satti. No elenco, além de Natallia e Daniel, Renan Rezende, Murilo Inforsato, Priscila Dieminger e Pietro Alonso. A peça trata, além de tudo sobre temas como depressão e violência contra a mulher. A montagem é o grande projeto da atriz para 2024: “Meu foco é o espetáculo que seguirá até o final do ano”.
Aliás, em se tratando de desvinculações, a atriz quer imprimir outra imagem, diferente daquela que a consagrou mulher sexy. Muitas das suas personagens na TV transitavam por esse universo. Tanto que em 2015, ela acabou posando nua para a Playboy. Visto sob a ótica de hoje, uma revista com nudez soa anacrônico. Mais que isso, num momento em que o feminismo ganha cada vez mais destaque e protagonismo, não parece cabível que uma mulher pose nua para satisfazer a vaidade masculina. Tanto que Natállia diz que, se fosse hoje, não faria aquele ensaio para a Playboy.
Apesar de ser muito grata à oportunidade, pois mudou a minha vida financeira, o meu entendimento e envolvimento com o movimento feminista me faz priorizar a bandeira da não objetificação do corpo feminino”, observa.
MULHERIDADE
Por diversas vezes, para distinguir-se das feministas, algumas mulheres dizem: “Não sou feminista, sou feminina”. Muitos acreditam que a “feminilidade” é uma ferramenta construída por homens e em prol deles para limitar as mulheres ao espectro que eles entendem como ideal, perfeito, adequado? Que seria a feminilidade senão uma construção social, uma imposição de papéis, de vieses comportamentais, sentimentais e até mesmo vestuais? Segundo Natallia Rodrigues, “os movimentos feministas ainda são essenciais. Já tivemos conquistas importantes, mas a caminhada até a verdadeira igualdade entre homens e mulheres é longa e deve ser trilhada com coragem e determinação. Apesar de já termos conquistado alguns espaços, ainda não conseguimos alterar a estrutura básica educacional que sustenta a nossa sociedade patriarcal”.
É através do movimento feminista que vamos abrindo os olhos de homens e mulheres para uma consciência mais igualitária, mais respeitosa com as mulheres, na qual elas possam ser verdadeiramente livres para expressarem-se sem medo e de forma genuína – Natallia Rodrigues
Já há alguns anos distante da imagem da adolescente da “Malhação“, Natallia vê o amadurecimento com leveza. Aos 43 anos, não problematiza a cronologia. Pelo contrário. A seu ver, “maturidade, para mim e na minha vida, é potência. É como se, de alguma forma, ela pudesse retomar as palavras de Ntozake Shange, dramaturga e poeta preta americana que dizia que “onde há uma mulher, há mágica. Se há uma lua caindo de sua boca, ela é uma mulher que conhece sua mágica, que pode ou não compartilhar seus poderes”.
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