*Por Brunna Condini
Estilosa em um look assinado por Reinaldo Lourenço, na coletiva de “Salve-se quem Puder”, nos Estúdios Globo, em Jacarepaguá, Deborah Secco bateu um papo exclusivo com o site Heloisa Tolipan. No folhetim do horário das 19h, que estreia 27 de janeiro, ela dá vida à Alexia Máximo, uma atriz de musicais que sonha fazer sucesso na TV, mas, no meio do caminho, presencia um assassinato em Cáncun, no México, precisando mudar a identidade e o rumo da vida. “Ela é muito doida”, diverte-se Deborah, que compõe o trio de protagonistas ao lado de Juliana Paiva e Vitória Strada.
A atriz celebra este ano 32 anos de carreira (sim, pasmem! Lembram que ela começou aos 8?), e comemora a volta a uma comédia na TV. Deborah destacou, ainda, a leveza da recente rotina de gravações. “Estava há muito tempo sem fazer uma novela para poder brincar. E desde que a Maria Flor nasceu há 4 anos as coisas mudaram para mim. Minha realização antes era toda no meu trabalho. Hoje, ela está muito em casa, então acabou que aqui, ficou um peso menor. De cobrança, de tudo. Tenho vindo gravar para gargalhar, me divertir”.
Mas afinal quem é a Alexia? “Ela é dramática, engraçada. Tem compulsão por comida e por homens. Isso torna ela próxima, real. Mesmo mudando de identidade, vai continuar sendo a maluca de sempre”, conta. “Ela ama atuação, esse universo de filmes, teatro. Cita trechos dos personagens o tempo todo. E tem bordões maravilhosos, do tipo: “Nossa senhora da Musculação” ou minha “Nossa Senhora da Banda Larga”. Adoro quando ela fala: ‘meu amor, eu sou Alexia, eu sou o máximo’”, diverte-se Deborah, sobre a personagem que faz trocadilho com seu sobrenome na ficção. E completa: “Tive que fazer muitas aulas de canto e dança, porque ela é uma atriz de musicais. Além disso, eu, Ju (Juliana Paiva) e Vitória (Strada) fizemos muitas leituras, para garantir o entrosamento das personagens, de ritmo e tom”.
Deborah admite que se inspirou, e muito, em Claudia Raia, para viver a atriz da ficção. “Sabe essa coisa da atriz exuberante, de musicais? ”. E continuou, animada: “Tem uma personagem dela que amo, de “Rainha da Sucata” (em 1990, Claudia interpretou Adriana Ross na trama), uma bailarina desengonçada, que ela fazia com o Fagundes (Antônio Fagundes fazia par com Claudia como Caio). Estou me esforçando para chegar lá. Mas ainda falta muito, porque Claudia é diva. Essa personagem marcou minha vida. Estou tentando ir por este caminho”.
Na história de Daniel Ortiz, com direção de Fred Mayrink, o trio feminino, no melhor estilo “Charlie’s Angels”, porém com o caldo brasileiro e mais atrapalhadas, sobrevive a um furacão e presencia um assassinato. É quando as três precisam mudar radicalmente de visual e ser abrigadas pelo Programa de Proteção à Testemunhas. É neste cenário que passam por uma curiosa experiência, quando se escondem em uma cidade do interior e se relacionam com uma galinha. Sim, é isso mesmo. Deborah faz graça da relação com a companheira de gravação. “Já gravei com a Felipa. Essa é a parte mais difícil da novela. Ela é estrela, às vezes fala, as vezes não. Tem um tempo particular dela”, brinca. “Mas é muito divertida essa relação da Alexia com a Felipa, elas realmente estabelecem uma conversa e falam horas. Alexia é bem louca e acredita que quando Felipa cacareja está respondendo”.
E que tal essa experiência, digamos, inusitada? “Sempre fui lúdica, desde que nasci. Minha vida sempre foi fantasiosa, criava personagens, brincava de ser outras pessoas, antes mesmo de atuar. E agora, faço um trabalho lúdico que a Maria pode assistir. Vai ser a primeira novela que ela vai ver a mãe na televisão. Ultimamente ela só vê o papai (o ator Hugo Moura, que está em “Malhação”) ”.
Alexia também fez Deborah mudar, mais uma vez, de visual. Ruiva e de cabelos alongados, ela fala da adaptação. “Te confesso que prefiro o cabelo menor, principalmente no verão. Ainda mais depois de tanto tempo de cabelo curto”, desabafa. “A cor eu adoro, mas confesso que o cabelão me cansa um pouco. Coloquei megahair, porque meu cabelo está bem curto. Não consigo ter muitos cuidados com o cabelo por conta da vida agora. Eu, Juliana e Vitória estamos gravando seis dias na semana, 11 horas por dia, em média. Decorando em casa, então a rotina está puxada”, revela.
Na divisão de tarefas da rotina, Maria Flor tem prioridade, ela garante. E apesar de ter um longo caminho ainda com a trama, Deborah compartilha com o marido o desejo de dar um irmão para a filha: “Penso muito. Mas neste momento é quando a gente não pensa, trabalhando tanto. Fico pensando é que quase não estou tendo tempo para ela, e vou ter outro? Mas queremos, sim. Temos só um impasse, porque quero muito ter o segundo filho e o Hugo, quer muito que a gente adote o segundo. Estamos negociando”.
Mas não pensem que Deborah Secco se queixa do trampo. Conhecida por relacionar o trabalho ao prazer, mesmo com as incansáveis horas de gravação, e depois de mais três décadas trabalhando quase ininterruptamente, ela se sente inteira mesmo é em cena. “Eu realmente amo trabalhar, vir para o Projac (agora Estúdios Globo). Fico nervosa como se fosse minha primeira novela. Sempre digo que se eu não atuasse, ficaria louca. Minha vida é ficar falando sozinha, vários textos, quando não estou gravando. E atuar é o que me acalma. O Hugo mesmo diz que sou uma pessoa muito melhor trabalhando”, divide. “Trabalhando me sinto completa”.
Desde os 11 anos, quando fez sua primeira novela na Globo, “Mico Preto” – aos 8, já fazia teatro e publicidade para a TV – ela se orgulha de não ter parado, entre novelas, minisséries, peças e filmes. “Gosto de olhar para a minha trajetória artística. Atuar foi o que mais fiz durante a minha vida, interpretando muitas mulheres diferentes do que eu sou. Acho que esse é o meu grande barato: conseguir me movimentar em todas essas possibilidades”, diz, Deborah. “ Fiz e faço muita TV, depois fui atrás de fazer mais teatro, cinema, fiz trabalhos que me orgulho muito. Na última peça, consegui trabalhar com Hamilton Vaz Pereira, que admiro tanto. Me sinto abençoada. Essa seria a palavra para traduzir a minha trajetória: benção”.
Desconstruindo Deborah…
Qual foi o ensinamento que te marcou?
“É uma frase, que aprendi quando fiz o filme “Bruna Surfistinha”, e uma garota de programa falou para mim: “Deborah, a gente não é como a gente quer ser, somos como conseguimos ser”. Essa foi uma grande lição, sabe? Acho que temos muito julgamento alheio. Coisas do tipo: a fulana está gorda, ou magra, está com um homem bom, ou um homem ruim. Mas está todo mundo tentando ser o melhor que pode, gente”, comenta. “Ninguém está falando aqui: vou ali me ferrar um pouco. Está todo mundo dando o seu melhor. Acho que temos que ter mais compaixão. Já tivemos uma cabeça que não temos hoje, e não faríamos muitas coisas que já fizemos, por exemplo. Graças a Deus, podemos aprender, evoluir. Mais empatia, menos julgamento”.
Tem arrependimentos?
“Não me arrependo de nada, porque tudo o que fiz, me levou a mulher que sou hoje. Faria diferente diversas coisas hoje, amadureci, aprendi. Mas arrepender não é a palavra, porque senão não teria chegado ao lugar que estou hoje e é maravilhoso, não abro mão”, afirma. “Me orgulho muito de ter construído uma história profissional em cima de muito trabalho, dedicação, entrega. Também de ter construído a minha família da forma que ela é. Tenho um relacionamento que nem nos meus melhores sonhos poderia prever. Tenho um parceiro, um companheiro. Um cara que me admira como sou, com erros e acertos, qualidades, defeitos”.
Além de atuar, eu gosto de…
“Escrever. Não tenho muitas ambições diferentes de atuar, gosto muito de dar vida a mulheres diferentes de mim. Mas quero escrever uma peça, sobre a minha vida, experiências. Nem sei se vou montar um dia. Estou escrevendo porque gosto de escrever, um tema livre, um ponto de partida. Escrever é uma das coisas que também me realiza e faz bem”
Trocaria seus 40 anos atuais, pelos seus 30 ou 20, se isso fosse concedido? “Nunca! Cheguei em um lugar, um estágio de felicidade, calma, plenitude, entendimento de tudo, não trocaria nada. Talvez, só a capacidade de trabalhar de madrugada e no dia seguinte estar inteirona, mas de resto, nada”, garante, aos risos.
O que faria se precisasse deixar tudo para trás como a Alexia? “Não consigo pensar em deixar minha filha para trás, mas podendo levá-la, ia ser massa”.
E se tivesse que deixar a carreira de atriz? “Viveria acampando, falando sozinha, acho. E isso, é um pouco da proposta de pensamento que a novela traz, e é muito bacana: será que o que você sempre sonhou, é de fato o que vai te fazer feliz? ”, destaca. “Penso em tentar fazer coisas diferentes também. Quem sabe morar fora? ”
Como é criar uma menina, neste universo social ainda extremamente machista?
“Tenho que virar feminista ativa, temos que salvar o mundo para essa criança, para as crianças. Claro que vou errar muito, mas estou aí, com toda humildade do mundo, para conversar com pessoas que sabem mais que eu sobre o tema, para cada vez ser melhor e o mundo também ser um lugar melhor”.
Que mundo é esse que você gostaria que ela crescesse?
“Um lugar onde as pessoas se amassem e se aceitassem com são. Um mundo em que se respeitasse as escolhas do outro, para que ele possa ser livre. Onde nos colocássemos no lugar dele. Um mundo menos capitalista, mais se emocional, sensorial”
O que não falta na sua casa?
“Minha família, comida e cama, para descansar muito”.
Um livro que leu recentemente e te impactou?
“Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves. Acho obrigatório”.
E um filme?
“A História de um Casamento” (Noah Baumbach). Mexeu muito comigo também. Sensacional”
O que te dá esperança hoje?
“A nova geração. Os pequenos. E também penso em nós, pais, para que de fato, a gente possa criar pessoas que vivam para o amor, para o próximo, com empatia”
Ser atriz é…
“Poder ter tempo de ser tudo o que a gente quer ser numa vida só”
Você se traduziria hoje…
“Como uma pessoa realizada, plena, feliz. Tanto no âmbito pessoal, quanto no profissional. Hoje sou agradecida, isso me traduz”
Esse 2020 será para você…
“Um ano de muito trabalho. De família junto também. E espero que um ano mais leve, estou rezando por isso”.
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