“Não imaginava que meus cabelos estavam tão brancos. Deixá-los assim é uma libertação”, pontua Marieta Severo


Enquanto brilha na reprise de “Laços de Família”, atriz se prepara para retomar as gravações, em novembro, de “Um Lugar Ao Sol”, novela das 21 horas, com estreia prevista para 2021. Nesta entrevista exclusiva, em um papo franco, a atriz aborda o adiamento das celebrações dos 15 anos do Teatro Poeira, relata histórias curiosas da quarentena, fala de política e redes sociais: “Já sofri muito por calúnias que inventaram. Então, não tenho Insta, não tenho Face, nada disso”. E ainda conta sobre a barra mais pesada que enfrentou este ano: o AVC do marido, o diretor Aderbal Freire-Filho. “Ele está se recuperando, tem uma força de vontade enorme, é um guerreiro. Ele vai ficar bom”, assegura

* Por Carlos Lima Costa

Ninguém esquecerá o ano de 2020 por conta da pandemia do Covid-19 que, como um verdadeiro furacão, transformou hábitos profissionais, sociais e pessoais. Cada um tem sua história para contar. Uma das principais atrizes desse país, Marieta Severo tem várias. Uma mudança radical se refere ao seu visual. Pela primeira vez, assumiu os cabelos brancos. “Eu não imaginava que estavam tão brancos. Fui deixando surgir como a maioria das mulheres, porque a gente parou de ir ao cabeleireiro e eu não me dava ao trabalho de ficar pintando o cabelo em casa. Vou fazer 74 anos agora em novembro. É uma libertação, eu te garanto, e digo para todas as mulheres, porque quando pinta o cabelo, você tem uma semana de alegria aí começa a crescer, vem aquela raiz branca, é um inferno”, reflete, às gargalhadas.

O visual de Marieta com cabelos brancos (Foto: Arquivo Pessoal)

O visual de Marieta com cabelos brancos (Foto: Arquivo Pessoal)

A vida apresentou novidades e modificou inúmeras atividades programadas. Em termos profissionais, 2020 era especial para Marieta Severo. A atriz e sua sócia, Andréa Beltrão, já tinham programado uma série de eventos para celebrar os 15 anos do Teatro Poeira, no bairro de Botafogo. Mas com a pandemia do Covid-19, as duas adiaram a festividade. O espaço está fechado desde o início da quarentena, em março, e não reabrirá as portas este ano.

“Eu tinha o sonho de ter um teatro que contasse culturalmente na minha cidade, um local de pesquisa, aprimoramento, formação e que tivesse uma excelência, vamos dizer assim, de escolha de programação. Com a Andréa foi possível realizar e, principalmente, tendo o Aderbal (Freire-Filho) como curador do nosso espaço. Acho que o Poeira cumpriu esse sonho. Já ouvi frase como: ‘Vim ver a peça que está aqui, nem sei qual é, mas se está aqui eu sei que é boa’, Esta identificação por parte do público é o maior presente que podemos ter. Conseguimos um apoio da Itaú Cultural e 2020 realmente ia ser o ano das nossas comemorações”, ressalta Marieta.

Grande parte seria com o que as sócias mais gostam: as oficinas, com personalidades estrangeiras e autores e diretores brasileiros. Em outubro e novembro, o Poeirinha iria abrigar uma exposição retrospectiva, com maquetes, figurinos. “Tudo que pudesse cumprir esse sentido de formação que a gente gosta tanto. Mas recebemos um tsunami de água gelada. Agora, trabalhamos exatamente no sentido da retomada para 2021. Quem fez aniversário esse ano não se comemorou nada. Tive neta fazendo 21, 18, 15… Eu falei ‘gente não valeu’. Mas o tempo é abstrato, podemos inventá-lo também um pouco. Vamos comemorar os 15 anos do Poeira, ano que vem”, informa.

Por enquanto, acumulam prejuízo. “Na realidade, o Poeira e o Poeirinha sempre foram deficitários. Agora, tínhamos uma bilheteria, o bar. Não é só pipoca que dá dinheiro, o bar também, o cafezinho. Isso tudo parou. Eu e a Andréa não temos receita nenhuma. A bilheteria tinha o mínimo que as produções pagavam para estar ali. Então, o que Andréa e eu colocávamos por mês no teatro aumentou muito, dobrou quase. Mas ok. Agora, somos um teatro pequeno, para reabrir. Com o distanciamento seriam poucas pessoas. Começou também a ficar tudo muito fora do que é o destino do teatro, que é o contato, o calor humano, a troca. Tudo foi nos parecendo tão frio, distante da realidade teatral que achamos melhor não reabrir”, acrescenta ela.

Andréa Beltrão e Marieta Severo, sócias no Teatro Poeira (Foto: Divulgação)

Andréa Beltrão e Marieta Severo, sócias no Teatro Poeira (Foto: Divulgação)

“Outro dia, eu e minha filha Helena, que é pedagoga e tem uma escola, a Mangueirinha, com duas sócias, estávamos conversando sobre isso. É tudo muito difícil. A coisa mais trágica é a morte. Eu, com o teatro e ela com escola, lidamos direto com seres humanos, pequenos ou grandes. É uma dificuldade ter um parâmetro, estabelecer regra, tudo fica muito relativizado, então, vamos agir pacientemente, seguindo as condutas sanitárias. Temos até pedido para janeiro, mas estamos indo muito devagar e delicadamente nesse terreno que é tão pantanoso”, reforça Marieta, explicando que no caso da filha, a escola, também em Botafogo, foi reaberta para pequenos grupos. “Ela tem quatro filhos e como se não bastasse uma escola”, diverte-se.

Marieta era para estar no ar com a novela Um Lugar ao Sol, que vai substituir Amor de Mãe, no horário da 21 horas, em 2021. Ela tinha gravado metade da sequência de uma cena, quando a Globo interrompeu todas as gravações de dramaturgia. Mas os fãs estão matando as saudades dela através da personagem Alma, na reprise de Laços de Família, de 2000, no Vale A Pena Ver de Novo. “Tenho orgulho de saber que esta é uma das excelentes novelas do Manoel Carlos de todas as que ele fez. Eu coloco a Alma como uma das minhas personagens prediletas. Tenho uma ótima lembrança dela, que não era uma vilã. Ela tinha um amor tóxico pelo sobrinho. Há 20 anos, a gente infelizmente não conhecia essa palavra, tóxica. Ela não respeitava os desejos, as vontades, os caminhos que ele escolhia. Mas tinha uma simpatia ali, ela não era ruim”, observa.

Em novembro, ela retoma as gravações da novela Um Lugar Ao Sol (Foto: Nana Moraes)

Em novembro, ela retoma as gravações da novela Um Lugar Ao Sol (Foto: Nana Moraes)

Mas Marieta pouco tem visto a reprise. “Tenho problema muito grande com o passado. Eu me orgulho dele, mas não gosto muito de ficar vendo como eu era, os colegas. Dificilmente revisito o que já fiz. Outro dia, zapeando, dei uma olhadinha, em A Grande Família. Me deu uma saudade, como esse programa era bom! Mas como disse, não tenho esse hábito de ficar assistindo. Não porque vou pensar ‘ah, meu Deus, envelhecemos todos’. Não é isso”, frisa.

Em relação a Um Lugar Ao Sol, ela vai retomar as gravações no início de novembro. “Já tivemos reuniões, fizemos prova de figurino virtual (risos). Meu Deus, é muito mundo novo, estranho realmente. Pelo que entendi, cada cena vai exigir um tipo de protocolo. Tivemos uma reunião de mais de duas horas só sobre protocolos, um zoom com a novela inteira, onde cada ponto foi exaustivamente colocado, então todos nós vamos estar com uma segurança grande. Agora, tem um lado que eu estou esquizofrênica, profundamente triste, porque me dá uma angústia de pensar sobre isso. Temos uma profissão que é de contato humano, olhar no olho, sentir o calor do colega. A gente trabalha com os nossos sentidos, visão, audição, tato, tudo. Ensaiando eu vou ficar olhando para uma testa e dois olhos. Então, isso aí me dói”, diz.

“Nessa personagem que vou fazer, todos queriam que eu fizesse de cabelo branco. Mas o meu cabelo é muito fino, não dava para tirar toda a tinta. Aí, por acaso, a vida me jogou nesse lugar. Uma hora olhei e indaguei: ‘para que eu vou pintar o meu cabelo? Vai ser perfeito para a personagem”, diverte-se. E continua: “Nessa fase, em casa, comecei a cortar o meu cabelo com tesourinha de unha, aí vi que eu posso fazer isso, dá uma certa forma, porque em seis meses foi ficando uma coisa esdrúxula. Para a novela, naturalmente, eu vou ter que ir a um cabeleireiro com todos os cuidados e fazer algo decente para a personagem”, assegura.

Marieta está na reprise de Laços de Família (Foto: Reprodução)

Marieta está na reprise de Laços de Família (Foto: Reprodução)

Marieta está encantada com sua personagem, a vó Noca. “Queria muito fazer uma novela da Lícia Manzo. Eu já tenho visto outras dela, A Vida da Gente, Sete Vidas, e ficava encantada com a maneira como aborda sua dramaturgia, os diálogos e a profundidade em relação às personagens. Ela sabe traduzir muito bem a complexidade humana. Aí veio o convite através do Mauricio Farias, meu compadre, com quem fiz anos de A Grande Família. A vó Noca é diferente das últimas personagens que fiz, é outro universo da Sophia (O Outro Lado do Paraíso) e da Fanny (Verdades Secretas). Isso é bom, navegar em outras águas”, assegura. E completa contando detalhes da personagem. “É uma mulher simples que tem um passado doloroso, mas com uma relação positiva com a vida e sabedoria popular. Não é uma mulher culta, que teve uma infância e adolescência descolada. Ela aprendeu com a vida e rompeu com a realidade machista da cidadezinha dela. E tem uma relação bonita com a neta que ela cria. Eu gosto da alma da Noca”, explica.

Por falar em netos, Marieta tem sete. Então, como ficou o lado avó e mãe de Sílvia Buarque, Helena e Luísa nessa quarentena, impossibilitada de estar com a família? “Sou muito respeitadora da quarentena, então, vou te fazer um pequeno histórico. O primeiro mês, desde o dia 13 de março, passei todo na minha casa. Aderbal vinha aqui, passava uns dias, embora eu o pegasse com meu carro, com toda aquela paranoia (risos) que vimos no Diário de Um Confinado. Passei por aquilo tudo: faxina da casa, ligar para alguém e perguntar para que serve um produto, todos os micos. Não deixei mais ninguém vir aqui. Aí, a minha família foi para Nogueira, para uma casa que eu tenho lá. Não fui exatamente por causa do isolamento, porque eu e Aderbal (marido de Marieta) somos do grupo de risco. Depois que elas desceram, eu subi com ele e duas netas. Depois foram as minhas filhas também quarentenadas. Levamos muito a sério, fazendo exame, o PCR. Nos protegemos bastante e ficamos até junho. No mesmo dia que chegamos ao Rio, o Aderbal teve um AVC”, conta Marieta.

Família é o combustível que alimenta Marieta (Foto: Nana Moraes)

Família é o combustível que alimenta Marieta (Foto: Nana Moraes)

E continua exemplificando a forma como a roda da vida girou neste momento. “Olha como a vida é criativa e estranha. Eu que vivia com álcool gel na mão, fiquei três meses frequentando um hospital. A vida me colocou nessa situação e eu enfrentei. Confesso que a partir disso, metade do grilo foi embora. Claro que tomo todos os cuidados até por causa dele, que agora está aqui em casa comigo. Estou voltando a ver a minha família, porque preciso de combustível e meu combustível é o amor da minha família. Minhas netas estão quarentenadas, tem neta que já teve Covid e todas fizeram exames. Aí de vez em quando vem um grupinho pequeno, de máscara e aí ficamos aqui na minha varanda, mas vejo”, conta Marieta. Distanciamento e máscaras marcam esses encontros. “Fico querendo abraçar, sabe, é difícil transmitir amor à distância. Amor você transmite com contato, abraço, beijo, é complicado”, pondera.

E tem fé na plena recuperação de Aderbal. “Ele está se recuperando, tem uma força de vontade enorme, é um guerreiro. Conto com isso. Aderbal sabe que eu acredito que ele vai ficar bom e ele vai ficar bom, você vai ver. Mas tem muito exercício. Estou aqui falando com você e ouvindo ele aqui em cima com o fisioterapeuta”, crê, esperançosa.

No geral, Marieta vem administrando bem toda a situação e não surtou nesse novo normal. “Quando fui para Nogueira, estava com as minhas netas e com o Aderbal. A gente tinha um vício de sentar toda noite para ver jornal, saber de tudo que estava acontecendo. Não me alienei da realidade, mas estava muito protegida. Isso tudo foi muito mais leve. Agora, no primeiro mês que eu fiquei aqui em casa era uma coisa completamente nova. Não tenho o hábito de ver noticiário de manhã. Eu assistia de manhã, a hora que eu dormia, via a mesma notícia várias vezes, fiquei sedenta. Mas ao mesmo tempo fiquei fazendo tudo dentro da casa e sempre sentindo falta da minha família”, recorda. Ao se ver sozinha, dona de casa, viveu situações engraçadas. Conseguiu dar conta de tudo? “Depende do setor. Eu adoro arrumar. Sou organizadíssima, tenho toque, graças a Deus, eu o mantenho. Então, tudo na minha casa é muito arrumado, eu sei aonde está tudo. Aproveitei, como todo mundo, para arrumar armários, tirar coisas. Para que eu quero tanta roupa? Doei. Me identifiquei com todo mundo. Mas me ferrei na cozinha (risos). Eu sou famosamente desastrada. Graças a Deus que eu tive amigo que começou a cozinhar e a fazer delivery. De vez em quando eu arriscava fazer uma receita dificílima, legumes cozidos com azeite e orégano no forno (risos). Minha filha outro dia estava lembrando: ‘Mãe, era a receita mais banal que eu tinha para te dar’. E fiz um doce de banana, meu Deus feio demais”, diverte-se.

Marieta conta que é famosamente desastrada na cozinha (Foto: Nana Moraes)

Marieta conta que é famosamente desastrada na cozinha (Foto: Nana Moraes)

Marieta mora em casa. “Sim, criei praticamente minhas filhas aqui, onde eu moro há quase 45 anos. Uma casa que Chico e eu construímos e onde ficamos muitos anos. Aí, quando a gente se separou, ele falou que não ia ter condição de gerir uma casa, a nossa caçula ainda estava morando aqui, então, eu fiquei. Aí vieram os netos, tem casinha de boneca, pula-pula. Agora, vou esperar os bisnetos, que os netos não estão mais na idade disso”, conta. Entre os netos, o mais velho, Francisco, tem 23 anos, e Leila, a mais nova, tem dez. Ambos são filhos de Helena, que teve quatro com Carlinhos Brown.

Avó participativa, Marieta se desmancha ao falar sobre o encantamento com os netos. “Ah, a maior maravilha que tem no mundo. A gente tem uma troca muito grande. Eu sei que sou uma avó presente, todos contam comigo e eu amo isso. A farra era dormir todo mundo no meu quarto. Botar colchãozinho no chão e tirava par ou ímpar para ver quem ía dormir na minha cama. Sinto uma falta enorme disso”, acrescenta.

Com orgulho, fala também do filme Aos Nossos Filhos, que, em dezembro, em sessão hors concours, foi exibido no Festival do Rio. Este mês, depois do Inffinito Brazilian Film Festival, ele será visto, dia 24, no 32º Cineffable, em Paris, e, dia 28, na Mostra de Valencia, na Espanha. Marieta não irá. “Bom, tem a novela, e também, porque sou realmente do grupo de risco, não posso facilitar. Então, vou ficar torcendo daqui e fazendo as lives”, explica.

No longa, Marieta interpreta uma mãe, que tenta purgar o que ela passou jovem na ditadura da forma mais cruel que foi a perda de um filho. Presa grávida, torturada, teve o filho na prisão e o levaram. “O filme mostra, através de pesadelos e flashbacks do passado dela, o que foi a ditadura, a tortura na vida dessa mulher, que depois se exilou, ficou anos fora do Brasil, algo típico dessas pessoas que combateram a ditadura de forma contundente, até na luta armada, mas aí depois ela volta para o Brasil, se casa e tem uma filha. E é engraçado como essa mulher revolucionária, que lutava pela democracia, mostra dificuldade de compactuar com o desejo da filha de ter um filho com uma mulher, ela não entende aquilo, a inseminação na companheira da filha. O filme expõe esses preconceitos. É bonito ter um personagem que abriga essas contradições”, conta.

Crítica da ditadura, por conta dela, Marieta passou um tempo fora do Brasil devido ao auto exílio do, então, marido, Chico Buarque. Com ela, o cantor viajara a trabalho para a Itália e os dois decidiram permanecer na Europa, depois da notícia da prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso, dias após a decretação do AI-5. “O Chico tinha essa viagem marcada, eu já estava grávida de sete meses, o médico me deu 20 dias para retornar ao Brasil. Aí Caetano e Gil foram presos, e a gente começou a receber recados ‘Se Chico voltar vai ser preso, se Chico voltar vai ser preso’. Aí ficamos por lá. O Chico tinha possibilidade de sobrevivência na Itália, porque, o (Sergio) Bardotti, grande amigo nosso já tinha traduzido trabalhos dele, então, já tinha um pequeno campo de trabalho lá. Aí resolvemos ficar e Silvinha nasceu em final de março, foi essa nossa história”, lembra.

Você que vivenciou aquela época, como encara ver parte da população pedindo a volta do AI-5? “Isso é inacreditável. E também nunca imaginei que o nazismo pudesse renascer, porque se você se informar sobre o holocausto, sobre Hitler, sobre o terror que foi a Segunda Guerra Mundial, você vai parar e falar isso aqui foi o inferno do ser humano. A gente não pode conceber que o ser humano possa ir tão baixo, ser tão diabólico, cruel. E você pensa que essa página da história não voltará jamais. Aí vive o suficiente para ver isso tudo sendo relativizado e movimentos nazistas, de preconceito, de discriminação voltando, tomando força. Ando muito falastrona nesse sentido, tamanha a minha indignação. Estamos indo na contramão do mundo progressista. Isso depõe contra a alma de um país”, desabafa.

Marieta tem três filhas e sete netos (Foto: Nana Moraes)

Marieta tem três filhas e sete netos (Foto: Nana Moraes)

Marieta opina ainda sobre como vê sua classe representada na Cultura. “É terrível, esse governo tem a Cultura como inimiga. Ele não aguenta a liberdade, o senso crítico, a posição de questionamento, que faz parte das Artes. Agora, você ter consciência do que é a Cultura de um país, porque eles sabem, e desmontá-la perante um mundo, tem consequência. Já vivi o suficiente para saber que não adianta reprimir o novo, as forças sociais e de costumes, que vão emergindo e ocupando espaços. Acho muito cruel eu ter vivido a minha juventude numa ditadura e os meus netos estarem vivendo a juventude deles numa quase ditadura, fingindo que é uma democracia. Isso me dói muito”, observa.

Sobre as eleições que estão próximas, Marieta afirma: “Temos que exercer a cidadania do voto sempre. Mesmo já estando além da idade obrigatória, eu sempre fiz questão de votar. A gente tem que se expressar e o brasileiro, o carioca principalmente tem que prestar atenção em quem está votando, porque senão engole um governador que surgiu ninguém sabe de onde, ninguém sabe qual era a história. Aí tem um prefeito que só porque é religioso você vai votar nele? Qual é o histórico dele? Tem que se informar, ver qual é a história da pessoa, o que ela pensa, quais foram as escolhas dela”, pontua.

Até na questão do coronavírus tudo está muito polarizado, pessoas se agridem por nada em redes sociais. “Eu não frequento esse mundo virtual. Eu gosto de trabalhar para o Instagram do Poeira, onde a gente põe notícias culturais. É um canal de comunicação muito bom, positivo. Às vezes, chegavam algumas coisas e aí eu processava, já processei bastante. Já sofri muito por calúnias que inventaram, principalmente quando atingiu a minha família, que é da maior dignidade, com valores humanos elevados. Digo mesmo com o maior orgulho. Isso foi uma das coisas mais dolorosas da minha vida. Então, não tenho Insta, não tenho Face, nada disso. Pode ser que agora os atores tenham que ter não sei quantos milhões de seguidores. Se eu depender de ter seguidor para trabalhar… eu não quero ninguém atrás de mim. Eu quero que sigam o meu trabalho”, aponta. E continua: “Agora, a internet é um lugar de muita informação, tem lives preciosas. Outro dia, eu e Aderbal ficamos uma hora assistindo a live da Lilia Schwarcz com a Pilar Del Rio. Nossa, adorei, entendeu, esse é o meu mundo. Escolhas que vão me informar. Agora, se é festival de ego, briga e não sei o quê, eu nem passo, saio dali. Não estou negando o mundo virtual, estou negando esse lado do mal. Não tenho necessidade de eu Marieta ter um Instagram”, reflete.