“Não fizemos ‘Maria do Caritó’ para ser apenas comédia”, diz Lilia Cabral, que assina primeira co-produção


“Eu quero que as pessoas saiam do cinema com esperança no coração. É uma palavra tão bonita”, frisa a premiada atriz em conversa exclusiva com o Site HT. Ela ainda falou sobre a adaptação da personagem do teatro para o cinema, carreira e a emoção de ver a filha, Giulia Bertolli, seguindo os seus passos na dramaturgia

A atriz interpreta a protagonista no filme de João Paulo Jabur (Foto: Divulgação/Globo Filmes)

Durante cinco anos, Lilia Cabral deu vida à Maria do Caritó na peça de teatro homônima. A atriz foi homenageada por sua carreira durante o lançamento mundial do longa-metragem baseado na peça, escrita especialmente para ela pelo pernambucano Newton Moreno, no 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, em Fortaleza. Dirigido por João Paulo Jabur, o filme, que tem Lilia como co-produtora pela primeira vez na sétima arte, conta a história de Maria, virgem de 50 anos que foi prometida pelo pai em casamento a São Djalminha, padroeiro da cidade, caso sobrevivesse ao parto em que morrera sua mãe. Detalhe: teria de permanecer “invicta”, coisa para a qual Maria não tem a menor vocação. Tida pela cidade como santa milagreira, a imagem de pureza dela é explorada pelo pai, pelo coronel e pela igreja. Um circo instalado na região parece ser a promessa de salvação da personagem.

Durante a cerimônia de lançamento, Lilia recebeu o Troféu Eusélio Oliveira das mãos do amigo e ator José Loreto, que a conheceu na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), célebre centro de formação de atores do Rio de Janeiro, e com quem viria a trabalhar na novela “O Sétimo Guardião”, exibida pela Globo na faixa das 21h entre novembro de 2018 e maio deste ano. Loreto elogiou a amiga, descrevendo-a como “uma mulher exigente, que não ligava se tinha apenas uma fala em cena, sempre procurava dar o melhor dela”. A própria Lilia fez questão de dividir seu momento de brilho, chamando ao palco a equipe do longa, formada por João Paulo Jabur, a produtora Elisa Tolomelli (de sucessos como “Central do Brasil“, “Cidade de Deus” e “Lavoura Arcaica”) e o diretor de arte Sérgio Silveira. E ainda mandou seu recado: “Os governos passam e a arte permanece”.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Em entrevista exclusiva ao Site Heloisa Tolipan, a artista falou sobre a adaptação da personagem dos palcos para as telas: “No teatro, ela é muito mais exuberante, praticamente uma atriz de circo. No cinema, é o oposto disso. Não tinha como deixar de lado a delicadeza que o Newton criou. No teatro, essa delicadeza está mais no texto do que na realização. Essa é a grande diferença. Eu quero que as pessoas saiam do cinema com esperança no coração. É uma palavra tão bonita. Na Maria do Caritó, o desejo de sair da virgindade é tão forte que ele se realiza. Dessa maneira, o público pode se sentir tocado pela história e imaginar que os seus desejos também podem ser realizados”.

Leia aqui – Cine Ceará: Homenagem a Lilia Cabral e estreia mundial de “Maria do Caritó” marcam o segundo dia

Este slideshow necessita de JavaScript.

Mas afinal, o que é caritó? A resposta é dada logo no comecinho do filme: é uma prateleira de apoio para se colocar pequenos objetos, como chaveiros, moedas, contas, remédios – miudezas, enfim. Maria do Caritó, então, é como são chamadas as mulheres que não se casaram no momento “certo”, as que “ficaram para titia”, naquela antiga visão de mundo que exigia que as moças se casassem jovens e virgens, no frescor da mocidade.

Após a exibição, Lilia afirmou que foi muito bom poder presenciar e sentir a reação do público ao filme pela primeira vez. Ela revelou que não considera a obra exatamente uma comédia e que gostaria que as pessoas se identificassem com a protagonista. “Eu e a Elisa (Tolomelli), produtora, sentimos bem a emoção do público com a história. Dava para perceber como as pessoas se conectaram com a narrativa. Foi bastante surpreendente, pois não fizemos esse filme para ser uma comédia, mas para apresentar uma personagem muito tocante. Ver a plateia reagindo de forma positiva à minha arte me traz muita alegria”, conta.

O longa, que será lançado no dia 31 de outubro, ainda será exibido em competição oficial no 23º Brazilian Film Festival of Miami, entre os dias 14 e 21 de setembro. Confira o trailer:

Lilia também nos contou sobre como é ver a filha, Giulia Bertolli, fruto do seu casamento com o economista Iwan Figueiredo, seguir seus passos na dramaturgia. A atriz, de 23 anos, está no ar como a surfista Meg na vigésima sétima temporada de “Malhação- Toda Forma de Amar”.

Lilia Cabral e a filha na festa de lançamento de “O Sétimo Guardião” (Foto: Divulgação/Gshow)

“Eu fico emocionada. A minha filha é uma menina muito estudiosa e que sempre teve vontade de ser atriz, desde pequena. Ela inventava as suas próprias personagens. Sempre a deixei muito à vontade para ser o que quisesse. Eu a incentivava apresentando algumas peças e livros. Depois, discutíamos muito sobre as questões abordadas. Ela via uma cena e vinha me perguntar se aquela pessoa era boa. Agora, eu tenho o maior orgulho de vê-la seguindo o caminho que sempre quis”, disse.

Ela contou que sempre procura acompanhar de perto o trabalho da filha, apesar da rotina atarefada, dando dicas e ajudando com uma experiência profissional adquirida ao longo de mais de 40 anos de carreira: “Eu a assisto sempre através do Globoplay. Quando termina de estudar as cenas, ela me mostra o que pretende fazer para que eu dê a minha opinião. Agora que vai ficar grávida na novela, eu a aconselho a prestar atenção em quantas meninas passam por essa situação e tentar adaptar à personagem”.

Com uma presença respeitável na história televisiva do país – Lilia atuou em mais de 30 novelas desde 1981, quando fez sua estreia em “Os Adolescentes”, da TV Bandeirantes – a atriz revelou que sempre admirou a sétima arte e gostaria de fazer mais e mais cinema. Entre os seus principais filmes estão “Stelinha” (1990), de Miguel Faria Jr., “A Partilha” (2001), de Daniel Filho, “Divã” (2009), de José Alvarenga Júnior, e “Júlio Sumiu” (2014), de Roberto Berliner. Ao ser perguntada sobre com quais estilos cinematográficos ela gostaria de trabalhar, a artista ressaltou que todos a atraem contanto que a qualidade da narrativa seja condição sine qua non.

“Gosto de ver uma boa história. Pode ser que alguém me apresente uma boa narrativa dramática, triste ou agressiva. Se eu me apaixonar, certamente aceitarei o convite. Não me prendo a estilos. Mesmo na televisão, tudo o que foi proposto eu me dei por completo. Estou sempre em busca de boas histórias. Mais do que de personagens de um jeito ou de outro”, pontuou.