*Por Brunna Condini
Com lançamento programado para esta quinta-feira nos cinemas que já estão reabertos, e a partir de 15 de outubro pelo selo Première Telecine, sendo lançado no canal e no streaming, o filme ‘Não Vamos Pagar Nada’, traz Samantha Schmütz na pele de Antônia, uma personagem brasileiríssima, tentando sobreviver neste país e apesar dele.
O longa baseado na obra de Dario Fo, marca a primeira direção para cinema do premiado João Fonseca, que levou seu clima de trupe teatral para o set que contou com Edmilson Filho, Flávia Reis, Leandro Soares, Fernando Caruso, Flávio Bauraqui e Paulo Serra. “Foi um trabalho, uma ação entre amigos. É muito bom trabalhar com quem você já tem intimidade, confiança”, diz Samantha, que, na história vive uma mulher desempregada, indignada e desiludida com o preço dos alimentos, que acaba liderando outras mulheres (e apenas um homem), em uma vibe meio girl power, em um motim no supermercado do bairro, e, a partir daí, passa o filme tentando se livrar da encrenca em que se meteu.
A atriz falou com exclusividade ao site sobre a composição de mais um tipo popular em sua carreira, sobre a atualidade do roteiro adaptado de uma peça italiana da década de 1970, e sobre o cenário em que o filme está sendo lançado. E também, sobre a vida nos Estados Unidos com o marido, o norte-americano Michael Cannet, com quem é casada há 10 anos, e sobre o investimento em aulas de dança e aprimoramento contínuo para se lançar na sonhada experiência na Broadway.
“O contexto tem tudo a ver. É sobre o brasileiro batalhador, honesto, que diante de tanta opressão tem a chance de dar o troco. E olha que quando gravamos, início do ano passado, ainda não estávamos no cenário atual”, pondera.
E fala sobre sua Antônia: “Sou preocupada em diferenciar meus personagens e distanciá-los de mim, usando o que tenho aqui dentro, claro. Penso em como eu reagiria em determinada situação. Procurei pegar a essência dessa mulher brasileira, que vejo todo dia, que também tenho dentro de mim, que vai honestamente atrás dos seus sonhos. Mas, ao mesmo tempo, fica indignada diante das injustiças. Na Antônia, também coloquei uma postura mais cansada, um olhar assim. Tem uma tristeza, uma luta, até um desespero. É uma personagem rica, que posso colocar muito na ‘caixinha’ dela”, detalha a atriz. “Sou muito observadora, meio ‘esponjinha’, então tenho muita coisa nas gavetinhas para puxar para as personagens. Sou atenta às pessoas e à vida. É natural em mim”.
Samantha também celebra a parceria em cena e musical com Criolo, com quem gravou uma versão de ‘Gente’, de Caetano Veloso para a trilha sonora. “Sempre fui muito admiradora dele, que tem a essência do que acredito em um artista, que é a qualidade musical, o entretenimento com o discurso, o olhar crítico sobre o que está acontecendo. Fui muito aos shows do Criolo e temos amigos em comum, chamei ele para fazer algumas coisas comigo, aí ele foi abrindo a guarda, porque é uma pessoa muito reservada, até que o convidei para fazer uma participação em um programa que tenho no Canal Bis, que chama ‘Samantha Canta’, em um especial que replicou o dueto que a Elis Regina fez com o Jair Rodrigues. A partir daí, esse encontro artístico deu um upgrade na nossa relação. O Criolo também tem interesse, passeia no cinema, já fez vários filmes é muito bem-humorado. Então, falei para ele: ‘Cara, Klebinho (Criolo se chama Kleber Cavalcante Gomes), você precisa fazer cinema comigo. E ele topou agora fazer uma participação mega especial neste filme. Eu gravei de Miami, ainda estava lá, mas deu tudo certo”.
Rumo à Broadway
No ar na edição especial da novela ‘Totalmente Demais’, e há oito anos no humorístico ’Vai que Cola’, no Multishow, que retomou suas gravações recentemente, ela conta que foi morar no início do ano em Miami, nos Estados Unidos com o marido. “Retornei no fim de julho, mas pretendo voltar para lá no fim do ano, desta vez vou para Los Angeles”, revela. “Durante essa quarentena fiz umas lives de lá para ajudar artistas que estão passando dificuldades no momento, os de teatro, os mais invisíveis porque não estão na mídia. É um momento que precisamos dividir, pensar em como podemos melhorar a história do outro. Tem sido um período de muita reflexão e tenho pensando muito sobre o que realmente quero, que tipo de trabalhos quero fazer, que sejam realmente especiais. Também quero me dedicar mais à música e ao cinema. Mas acho que dentro dessa loucura toda o que mais tenho feito é agradecer, sou privilegiada, tenho trabalho, casa, tenho tudo”.
Samantha conta que tem se aprimorado também. “Voltei a fazer aula de balé, sempre quis ser uma artista completa. E vou estudar em Los Angeles. Não que eu já tenha algum projeto, mas sou uma atriz, quero fazer teatro, de repente um teste para a Broadway, para alguma peça, ser coro. E não tenho medo de precisar recomeçar lá, de ir à luta. isso me desafia”, garante. “Queremos mesmo ficar mais nos Estados Unidos agora, e como somos livres, não temos filhos, vamos passar uma temporada lá”.
Você já declarou que não pretende ser mãe, se sente cobrada para isso? ‘Acho que deve ser uma experiência incrível, imagina. É o maior milagre da vida, gerar um ser humano. As pessoas põe pilha, mas não me sinto cobrada. Mas a sociedade ainda cobra as mulheres. Não quero ser metade para meu trabalho e para uma criança, tem gente que consegue administrar isso, mas não sei se eu saberia. Mas também acho que é uma falta de coragem, porque acredito que tem que ter coragem para ter um filho nos dias de hoje. Sou uma pessoa muito preocupada, acho que não teria vida. É muito trampo, muita dedicação. Talvez seja também um pouco de egoísmo, não sei. Eu e meu marido estamos alinhados nisso”.Humor em tempos de cólera
Ela em consciência que como atriz conhecida do público está mais exposta e isso não a incomoda. “Sei que em relação ao meu trabalho sou querida. Dentro dos meus fãs, seguidores, não tem hater. Quando me posiciono politicamente, tem o hater. Mas não tenho isso em relação ao meu trabalho, meus seguidores estão ali porque admiram mesmo, se conectam comigo”.
Samantha também comenta sobre fazer humor na atualidade. É chato o politicamente correto? Como entende essa coisa do limite do humor?
“Acho que estamos sempre aprendendo. Estava vendo outro dia uns episódios antigos do ‘Vai que Cola’, em que falamos coisas que hoje vemos que estava errado, não pode. Aliás nem devia ter passado de novo, temos que evoluir. A gente aprendeu que até uma piada feita sem maldade pode acarretar, reforçar um esteriótipo que pode corroborar com algum tipo de preconceito, com homofobia, gordofobia e não queremos isso”, afirma. “Você não precisa humilhar ninguém para fazer graça. Tem gente que diz que está ficando chato. Talvez esteja ficando mais difícil, porque você tem que pensar mais para fazer. Pode sacanear, fazer graça, mas não pode humilhar, ser preconceituoso, cometer um crime”.
Se fosse falar com a Samantha de 18 anos que estava começando a fazer teatro, o que diria? “A Samantha de 18 anos é a mesma que começou a se apresentar no grupo de dança da mãe, e continuou se apresentando com o grupo de ginástica até 15 anos. E da dança passou para o teatro. Sempre tive muito respeito ao palco. Então, um conselho para mim lá atrás seria isso: continue assim, porque é esse respeito ao palco, ao público e à profissão, que vão te sustentar e fazer você subir degrau por degrau, e aí ninguém vai te derrubar. O glamour, a fama, são consequência do meu trabalho, sou uma operária do palco. Não tenho deslumbre nenhum, dou o meu melhor sempre”.
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