*Por Brunna Condini
No ar na reprise de “Malhação – Viva a Diferença”, como Tina, uma das cinco protagonistas da história, Ana Hikari, que se despediu da personagem em 2018, vibra com o anúncio da estreia do spin-off da novela adolescente, a série “As Five”, ainda neste segundo semestre, pela Globoplay. Na produção, as cinco amigas vividas por Ana, Gabriela Medvedovski (Keyla), Heslaine Vieira (Ellen), Manoela Aliperti (Lica) e Daphne Bozaski (Benê), se reencontram após seis anos, agora como mulheres de 25, às voltas com as questões e os sentimentos da transição para a vida adulta.
“A data certa da estreia será revelada nesta quinta-feira, através de uma live no Instagram. À princípio a série vai estar só na Globoplay, mas digo que acho que também deveria passar na TV aberta (risos), ainda mais neste momento em que está todo mundo em casa. É uma produção de muita qualidade”, pontua Ana. “Gravamos ano passado, a previsão de estreia era para este ano mesmo, mas veio a pandemia. Estrear por agora foi uma movimento do próprio Boninho (diretor geral). Nossos fãs estavam subindo a tag direto, pedindo a estreia da série”.
A atriz atribui o sucesso da história das cinco ao protagonismo feminino. “Na época da novela estávamos nos trending topics do Twitter praticamente todo dia, em todo capítulo. Acho que o fato de ter sido uma primeira “Malhação” com cinco protagonistas mulheres atraiu atenção, empatia. E tem o texto do Cao Hamburguer, que também escreve a série. Ele é genial, sabe dialogar com o público jovem, sem subestimá-lo. Soube trazer os temas com inteligência, delicadeza. As pessoas querem falar de questão sociais, representatividade feminina, racial”.
Ela revela ainda, que com a quarentena tem se visto na reprise do folhetim teen. “Confesso que sou muito autocrítica, mas estou curtindo”, diverte-se, falando do seu primeiro papel na TV. “Na verdade, foi uma trajetória muito bonita que fiz nesta novela, evolui como atriz. É bom rever e estou exercitando um olhar mais gentil comigo”.
Representatividade
Ana Hikari foi a primeira atriz com descendência asiática a protagonizar uma novela na TV Globo. “Por conta disso muitas meninas vem falar comigo, porque me olhavam na TV e se viam representadas. Eu entendo, porque quando eu era menor e assistia novela era difícil me identificar com as personagens”, diz. “Sou neta de japoneses por parte da minha mãe, que nasceu no Brasil. Meu pai é filho de negro com mistura indígena e europeia. Na minha família tem pouca influência da cultura japonesa, sou brasileira, e muitos de nós são essa mistura”. E reforça a importância da representatividade : “Fico feliz de ter feito essa personagem e voltar a interpretá-la na série. Mas o principal é a Tina ser uma pessoa como qualquer outra, uma personagem complexa, que tem sentimentos, sonhos e a ascendência asiática é só uma característica”.
Embora seja uma recém estreante na TV, a atriz paulista de 25 anos começou sua trajetória há alguns anos: fez teatro desde os 12 e, aos 18 anos, entrou para USP, cursando Artes Cênicas. Aliás, se tem algo que Ana gosta de fazer é estudar: “Durante a quarentena tenho feito várias aulas online de canto, de francês, yoga. Fiz cursos de interpretação, masterclass. Acho que o ator não pode parar de estudar nunca”.
Apaixonada pelo ofício, abastecida de curiosidade e disposição, ela adianta alguns sonhos: “Além de continuar fazendo TV, quero muito experimentar o cinema também. Mas, por hora, temos que aguardar e nos cuidar por conta desta pandemia. Meu objetivo maior é que me conheçam como atriz e ponto. Sem racialização, até porque sou brasileira. Também morro de vontade de fazer uma vilãzona bem ordinária. Queria fazer o outro lado da moeda”.
Normalizando o desejo
Após uma live no final de junho, em que falou sobre sua bissexualidade, que segundo ela nunca foi um segredo, Ana se surpreendeu com a repercussão. “Foi muito maior do que a situação. Já falava sobre isso nas redes há algum tempo. Tanto, que quando começaram a sair matérias dizendo que eu tinha “revelado” minha bissexualidade, meus seguidores se surpreenderam, porque já falava do tema com naturalidade por lá”, conta. “Nunca foi um segredo. Sempre falei muito abertamente com meus amigos sobre isso, e tenho conversado com o meu público. Na verdade, eu normalizei o meu desejo. Não descobri que era bissexual. Vi que o mundo tinha que aceitar isso. A nossa descoberta não é sobre o que somos, e sim, que o mundo tem aceitar, receber o que somos”.
Nem todos sabem que a bissexualidade é o “B” da sigla LGBTQIA+, e das orientações sexuais ela parece ser a menos falada. Por que acredita que isso acontece? “Acho que para as pessoas bissexuais a sensação de não pertencimento é constante. Vivemos em um país que ainda tem muito preconceito em relação aos LGBTQIA+. Falta informação sobre a bissexualidade e debate para normalizar. Muito por conta disso, passei parte da minha vida negando o que eu era. Porque não depende de quantas pessoas ficou de cada gênero, depende de como você se sente”, detalha. “E a comunidade LGBTQIA+ tem entendido que o debate é importante e tem gente no limbo. Então acredito que é necessário falar sobre o tema e buscar cada vez mais informação”.
Ana compartilhou sua experiência porque acredita na importância da representatividade diante da questão. No entanto, ela mantém sua postura discreta quando o assunto é vida privada. Namorando Gersinio Neto, de 33 anos, ela não costuma falar da relação em entrevistas, respeitando a privacidade do namorado, que não é do meio artístico. “Ele é funcionário público. Estamos juntos há algum tempo. Nos admiramos, trocamos muito, não consigo manter uma relação com alguém que não me agrade intelectualmente. Moro com outros três amigos, mas no período da quarentena estou com na casa do meu namorado”.
E com mulheres já teve um relacionamento longo? “Não. Todo mundo cresce com uma heteronormatividade muito compulsória. Nas revistas tinham aquelas chamadas: “como descobrir se a garoto gosta de você”, mas não tinha a chamada: “como descobrir se a garota gosta de você”. E você cresce assim. Então, me apaixonei, me envolvi, mas nunca tive um namoro longo com mulheres”.
Decidida e empática, Ana fez questão de falar sobre o momento que vivemos. “É uma situação sem precedentes. As pessoas precisam entender que ainda estamos no meio de uma pandemia, o coronavírus não sumiu porque estão flexibilizando algumas situações. Então, quem puder, continue em quarentena. Se tiver que sair, saia de máscara. Tenho feito vídeos explicando essa e outras situações. Acho importante. Temos um canal com muito alcance nas mãos, como o Instagram”, analisa. “Cheguei a 1 milhão de seguidores e acredito que isso não vale se não for para compartilhar informação, conteúdo agregador, conhecimento com as pessoas que me seguem. Tenho retornos muitos positivos. Acho bom, porque leva tempo fazer aqueles vídeos (risos). Pensei: se posso aprender, as pessoas também podem. Gosto de estudar, me informar. Então adotei o seguinte lema em relação as situações absurdas que temos visto: “Deixei de passar raiva e resolvi passar informação. A ideia é tentar tocar o coração e a mente de algumas pessoas”
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