*Por Brunna Condini
Aos 30 anos de carreira e com 57 de idade, Nando Cunha vive um ótimo momento, com papeis de destaque no audiovisual, que salientam sua multiplicidade como ator: é Souza, o pai do cantor Buchecha, no premiado ‘Nosso Sonho‘, que conta a história da dupla Claudinho e Buchecha, filme pelo qual ganhou o prêmio de Ator Coadjuvante na 16ª edição do Los Angeles Brazilian Film Festival; e também está no celebrado ‘Mussum – o filmis’, em que dá vida a Grande Otelo (1915-1993), ao lado de Aílton Graça, que vive Mussum. Ele deu essa entrevista após chegar das gravações de outro trabalho. “Estou gravando uma série para a Starplus chamada ‘Jogo Cruzado’, com o José Loreto, a Carol Castro. Faço o Cledir, um comentarista dessas bancadas de futebol, um jornalista das antigas, que está quase se aposentando. Ele fica entre o personagem do Loreto, um ex-jogador de futebol que virou comentarista e âncora do programa; e uma jornalista em ascensão, feita pela Carol”, conta sobre a nova produção.
Bom que veio esse trabalho agora, porque apesar do sucesso dos filmes, não recebi nenhum convite para um bom personagem na TV, por exemplo, que te garante um contrato por um tempo. Precisamos falar cada vez mais de oportunidades para atores pretos – Nando Cunha
Nando celebra a diversidade de personagens que vem experimentando, e apesar de ser lembrado muitas vezes por seus trabalhos na comédia, ele rechaça rótulos. “Sou um ator. As pessoas que me colocaram nessa prateleira dizendo que eu só fazia humor. Já fiz muito drama, o próprio Grande Otelo, vivi no teatro e na TV. Na verdade, esse é o imaginário do lugar que a sociedade costuma nos colocar, do negro recreativo, risonho, malandro, brincalhão…nunca nos colocam na mesma prateleira do Tony Ramos, do Antônio Fagundes.
Não quero mais essa prateleira do ‘pretinho engraçado’. Gosto de fazer comédia porque é um exercício do ator, como o drama. Na televisão não faço mai,s porque não tenho oportunidade. Já ouvi de produtor de elenco dentro da Globo: “Mas comédia é o que você sabe fazer melhor, né?”. Não. Faço qualquer papel, é só ter chance”, desabafa o ator, que tem dois Kikitos no currículo, prêmio máximo concedido no Festival de Gramado, um dos mais importantes e reconhecidos prêmios do cinema brasileiro – Nando Cunha
“O Ailton Graça, que é um cara super militante, ator muito além do ‘negão de tirar o chapéu’, diz que chegou a hora do nosso ‘pretagonismo’. Ainda não me considero estabilizado na carreira, mas estou bem, trabalhando bastante agora. Eu posso ganhar prêmio, fazer bons personagens, mas sou um ator negro. A Viola Davis outro dia estava chamando à atenção para essa desigualdade salarial. Ela é tão premiada quando a Meryl Streep, mas não ganha o mesmo. É preciso mais equidade. O racismo tenta tirar essa relevância. O sistema não nos deixa ir adiante e a sociedade precisa debater isso”, completa Nando, no mês que é marco da Consciência Negra.
Sei que é um carreira inconstante, mas têm muitos atores brancos com o mesmo tempo que eu de trajetória que já ganharam a vida. Trabalhei com alguns deles. Tem muito do racismo estrutural neste fato – Nando Cunha
Somos maioria, então existe uma maioria que deseja se ver representada. E somos potentes para isso.Precisamos dos brancos como aliados reais, que tenham escuta, estudem, que desejem essa transformação e se esforcem para isso. Nós resistimos, mas a branquitude tem que lutar junto – Nando Cunha
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