Nanda Costa lança filme, faz balanço dos ganhos da profissão, fala da maternidade real e Mês do Orgulho LGBTQIA+


A atriz vive mãe adolescente que vê a história se repetir com seu filho no longa ‘A Derrapada’, de Pedro Amorim. Em entrevista exclusiva, Nanda lembra sua história familiar que se assemelha à da ficção, e fala abertamente sobre o pai que não foi presente na sua infância, preconceitos e maternidade não idealizada: “Antes do nascimento das minhas filhas, eu sonhava com uma maternidade que não tem a ver com a vida real: tive pré-eclâmpsia, duas filhas nascendo com peso abaixo do esperado, uma foi para a UTI; depressão pós-parto. Ou seja, não é uma hora mágica. Tem muito amor, mas muita apreensão. É duro pra caramba. Mas vamos buscando alegria nas pequenas coisas e o amor faz a gente acreditar que vai dar tudo certo. Amor também é a batalha, como a da minha personagem no filme”

*Por Brunna Condini

No filme ‘Derrapada’, que chega aos cinemas dia 22, Nanda Costa vive Melina, mãe de Samuca (Matheus Costa) que, assim como a sua personagem, enfrentará a experiência de ter um filho na adolescência. Em conversa ao site, Nanda relembra que assim como na ficção, sua mãe, Patrícia Campos, engravidou dela aos16 anos. “Meus pais eram muito jovens quando nasci, imagina. Eu tive filhas (Kim e Tiê, de 1ano e 8 meses) com estrutura e ainda assim foi difícil pra caramba. Não dá para romantizar a maternidade. Antes do nascimento das minhas filhas, eu sonhava com uma maternidade que não tem a ver com a vida real: tive pré-eclâmpsia, duas filhas nascendo ao mesmo tempo, com peso abaixo do esperado, uma foi para a UTI; também tive depressão pós-parto. Ou seja, não é uma hora mágica. Tem muito amor, mas muita apreensão. É duro pra caramba.

Mas,acrescenta: “Vamos buscando alegria nas pequenas coisas, mesmo com os perrengues. Um sorriso delas, um charminho, e parecia que a conta toda fechava. O amor faz a gente acreditar que vai dar tudo certo. Amor também é a batalha, como a da minha personagem no filme. O amor também é a vitória da resiliência. Nunca senti tanto amor na minha vida, mas nunca enfrentei tantos desafios como com a maternidade. Mas a gente vai se virando, faria tudo de novo para ter minhas filhas”.

E, na semana em que se celebrou o Dia do Cinema Nacional, ela exalta: “Comecei no cinema, meu primeiro cachê profissional veio de um filme. Depois saí atrás de um sonho que virou minha profissão. E era algo tão distante, que hoje poderia ser só um sonho não realizado. Então, ter começado pelo cinema, mesmo que minhas cenas tenham sido todas cortadas e eu só tenha descoberto isso assistindo o filme (risos), é algo para celebrar”, conta, referindo-se ao seu primeiro longa como atriz, ‘Sexo com amor?’ (2008).

Fazer cinema ainda é realizar sonhos, continua sendo difícil fazer filmes nesse país. Vivo da profissão de atriz, e, de vez em quando, posso sonhar atuando no cinema – Nanda Costa

Nanda Costa faz Melina no longa 'Derrapada' (Foto: Helena Barreto)

Nanda Costa faz Melina no longa ‘Derrapada’ (Foto: Helena Barreto)

Aos 36 anos, e com 17 de carreira, Nanda, que também poderá ser vista em breve na segunda temporada da série ‘Justiça’ no Globoplay, celebra a profissão que batalhou para ter. “O ofício me deu muitas realizações. Na verdade, essa profissão me deu tudo, não sei o que teria sido da minha vida se eu não tivesse corrido tanto atrás. Já contei essa história, mas para falar da minha trajetória, tenho que lembrar disso. Quis ser atriz para que meu pai tivesse orgulho de mim, já que ele sumiu quando eu tinha um ano. Achei que se ele me visse na TV e tivesse orgulho, voltaria. Na minha primeira novela ele apareceu e já aconteceu um resgate ali. Foi lindo esse reencontro, porque o que aconteceu não teve a ver com falta de amor”, conta Nanda, que em janeiro deste ano fez um post emocionado quando o pai morreu.

Sempre quis ser motivo também de orgulho para a minha mãe, porque sendo filha de mãe adolescente, a gente sempre acha que atrapalhou um pouco a vida, os estudos dela, pelo fato de não ter feito uma faculdade, saído de Paraty. E ela tem uma filha que deu certo, saiu cedo para estudar e ficou independente muito rápido e tantas outras coisas – Nanda Costa

Nanda Costa em cena do longa 'Derrapada' que estreia em 22 de junho (Foto: Helena Barreto)

Nanda Costa em cena do longa ‘Derrapada’ que estreia em 22 de junho (Foto: Helena Barreto)

E conclui: “Em paralelo, a profissão me deu a oportunidade de viver muitas vidas diferentes em uma só, diversas por dentro e por fora. Pude conhecer outros lugares, países, fiz amigos, cinema, televisão, música. O ofício me trouxe para o Rio de Janeiro, conheci a Lan Lanh, fiz uma família. Queria morar no Rio porque sonhava em fazer TV, e minha mãe disse que eu só viria se pagasse minhas contas, antes eu morava em São Paulo. Comecei a pagar minhas contas, comprei um apartamento e me tornei vizinha da Lan, foi quando a gente se conheceu. Então posso dizer que minha profissão me deu tudo”.

Nanda Costa e as filhas gêmeas Kim e Tiê (Foto: Reprodução/Instagram)

Nanda Costa e as filhas gêmeas Kim e Tiê (Foto: Reprodução/Instagram)

Orgulho LGBTQIA+

Casada há nove anos com Lan Lanh, com quem tem Kim e Tiê, Nanda Costa está ao lado da percussionista na grade do GNT com a série documental ‘Do amor e de luta’, marcando a celebração do canal ao mês do orgulho. A produção aborda questões em torno do universo LGBTQIA+ e a formação de famílias plurais, como a do casal. Sobre o tema, ela pontua que mesmo para quem não vive uma realidade LGBT, combater preconceitos é fundamental. “A primeira coisa que as pessoas precisam pensar é em respeito. Respeitar como cada um é e deseja. Têm muitas famílias que não aceitam isso ainda, abandonam, existe muita gente precisando de carinho, acolhimento, que possamos naturalizar a diversidade. Eu mesma, já me senti muito estranha, abandonada nesse lugar, até pela profissão, por conta do preconceito”.

“Então, por exemplo, se você quer ajudar alguém que precisa de suporte, procure uma das casas de acolhimento que existem pelo país, que dão assistência às pessoas que são expulsas de casa, violentadas. Vale pesquisar. E também para pais e mães que têm dificuldade de aceitar seus filhos, existe o ‘Mães pela Diversidade’, uma rede super legal no Instagram. Busquem não idealizar, mas aceitar, respeitar seus filhos como são. Quando um filho de sente amado e respeitado dentro de casa, ele reflete isso no mundo. Podemos construir um futuro melhor acolhendo tudo o que é diferente de nós”.

Lan Lanh, Nanda Costa e as filhas Kim e Tiê (Foto: Nando Diniz)

Lan Lanh, Nanda Costa e as filhas Kim e Tiê (Foto: Nando Diniz)