* Por Carlos Lima Costa
Em sua estreia na televisão como um dos destaques da novela Cara e Coragem, Vitória Bohn joga luz em tema relevante, o relacionamento tóxico, através de Lou, sua personagem que vive namoro abusivo com Renan (Bruno Fagundes). A jovem atriz fica feliz de ver as cenas servirem como um alerta para quem passa por situação semelhante na vida real. Que sirva como um gatilho para que as vítimas percebam o que ocorre e consigam sair de relação doentia . “O que mais escuto é ‘já passei por isso, passo por isso’, e que a forma como um personagem olha para o outro é exatamente como na vida. As pessoas veem na interpretação sinais de que o abuso acontece e conseguem ter comparação de que isso ocorre nas suas vidas. Muita gente vem falar que o jeito que começa o desenrolar do abuso é o mesmo de como começou o abuso do namorado”.
É importante falar sobre esses assuntos justamente para ter alguma contribuição social, não só de entretenimento – Vitória Bohn, atriz
Gaúcha, de Novo Hamburgo, Vitória nunca viveu nada parecido. “Ainda sou muito jovem, tenho 20 anos, não tive muitos relacionamentos, mas todo mundo conhece alguém que já passou por isso. Eu mesma tenho amigas superpróximas e que demoraram para perceber o que estava acontecendo. Sinceramente, teve uma que eu não percebia, porque é algo muito velado. O abuso acontece, muitas vezes, dentro de casa, no silêncio, as pessoas não ficam sabendo. O abusador, o cara que é tóxico, no meio da galera é a pessoa mais legal do mundo. Quer dizer, na visão de todos estava tudo maravilhoso. Descobrimos que tinham esses abusos, somente quando eles terminaram”, relata.
No momento, na trama, Lou mostra ciúmes de Renan. “Muitas vezes, as pessoas acabam se contaminando. De certa forma isso também é uma estratégia. Quando estudamos um relacionamento tóxico, enxergamos que existem fases bem definidas de como a toxicidade acontece. A novela até alerta isso, sobre as fases. É nítido a cada cena, como cada fase do abuso acontece. Então, existe essa parte do relacionamento onde o homem está sendo 100% tóxico, mas também tem uma hora que ele se afasta da mulher para que ela sinta que precisa dele. Sem contar que os dois acabam se contaminando, às vezes. E aí a relação acaba ficando mais tóxica não só de um lado. São casos e casos, não dá para limitar”, acrescenta.
Vitória encara com tristeza os inúmeros casos de agressões e estupros que são noticiados e a forma como as mulheres acabam não sendo muito protegidas pelas leis. “É um assunto delicado, porque ser mulher é difícil (respira fundo). É difícil ir ali no mercado, às vezes. Difícil sair para fazer esporte na rua, porque podem acontecer várias coisas e muitas vezes não nos sentimos amparadas pela lei. Às vezes, quem está por trás da lei e vai nos amparar talvez seja um homem, é complicado, e a gente vem de um passado mais hostil ainda. Acho que está evoluindo, mas realmente é muito difícil ser mulher no nosso país”, reforça.
O abuso acontece, muitas vezes, dentro de casa, no silêncio. O cara que é tóxico, no meio da galera é a pessoa mais legal do mundo – Vitória Bohn
Vitória também não se deixa levar pelas pressões estéticas que recaem sobre as mulheres. “Sou totalmente despojada. Acho que existe uma linha tênue muito grande entre o não saudável e o saudável, o natural e o artificial. O natural tem uma beleza diferente, uma essência. Mesmo fazendo procedimento estético, manter a naturalidade faz a pessoa manter a sua individualidade. Como pessoa 100% desapegada, acho maravilhoso. Não quero que isso atrapalhe a minha vida, então, faço o básico de cuidados de beleza”, explica ela, também atenta ao poder das redes sociais.
“Temos que ter um cuidado bem especial, porque as pessoas, às vezes, tiram conclusões do que vêm na internet. Precisam entender que, muitas vezes, não é a realidade. Então, quem está postando tem que ter um cuidado grande, porque, mesmo não querendo, quem posta tem influência sobre os outros. Então, tenho esse cuidado para que as pessoas não achem que faço algo todos os dias, que meu estilo de vida é esse sempre ou que as pessoas não sejam influenciadas de maneira ruim”, frisa.
PREPARAÇÃO PARA PERSONAGEM FAZ VITÓRIA PERDER MEDO DE ALTURA
Pessoalmente, para Vitória, a novela serviu para dar fim a um medo que ela nutria: o da altura. Um processo que aconteceu naturalmente durante as aulas de dança vertical que ela teve por conta da personagem. “Eu já tinha feito dança de solo, contemporânea, balé. Aí quando passei no teste da novela, a produção avisou que minha personagem ia ser dançarina aérea. Então, durante o tempo que ainda fiquei no Rio Grande do Sul, antes de me mudar para o Rio e começar a preparação da novela, eu fiz aulas de dança aérea de tecido, que é completamente diferente da dança vertical. Ao mesmo tempo, me capacitou para conseguir mais facilidade para a dança vertical, tanto por causa da altura, quanto por conta dos lugares que a dança exige”, observa.
No Rio, ela passou dois meses fazendo aula em uma estrutura montada no Projac. “No início, senti dificuldade, porque tinha muito medo de altura. Subia quatro metros e era um medo muito grande. Mas começa com quatro, depois avança dez metros e aí a minha primeira cena eu gravei a 30 metros, tipo um prédio de sete andares. Então, foi uma superação, de verdade. Hoje, consegui superar o medo, estou crescendo como pessoa. Isso foi maravilhoso”, reflete.
E acrescenta: “Se precisar subir cem metros, aí é o dublê que vai, até porque a segurança do trabalho não permite. Precisa ter anos de treinamento para conseguir subir nessa altura. E os dublês estão sempre ali com a gente, nos inspiram, nos ensinam. Agora, inclusive, vou começar a treinar no lugar onde os dublês da novela se preparam.”
Fã de atividades físicas e de esportes mais seguros, Vitória já praticou vôlei e tênis, por exemplo, e desde os 12 anos gosta de correr na rua. No Rio de Janeiro, vem desenvolvendo isso na praia. “Comecei correndo três quilômetros. Hoje, corro dez, 12, quinze, às vezes. Quero participar de uma maratona em breve”, conta.
ENCONTRO COM ARTISTAS QUE SEMPRE ADMIROU
Estar na novela é a realização de um sonho. “Às vezes, paro, olho e penso como está sendo incrível, até no sentido de que estou trabalhando com pessoas que eu sempre admirei, que tem muita bagagem, experiência. Assistia Fina Estampa, onde eu amava o Crô interpretado pelo Marcelo (Serrado), e aí, hoje, trabalho com ele. Eu via a Paolla (Oliveira) como a Jeiza, em A Força do Querer. Tenho 20 anos, cresci vendo essas pessoas na televisão. É muito bom trocar com eles e evoluir. Aprendo muito todo dia. Espero realmente que esse trabalho me abra portas e minha carreira se desenvolva”, vibra ela, que na trama vive a meia-irmã da personagem de Paolla.
A atriz está colhendo o que plantou e projetou para sua vida desde que no início da pré adolescência, ingressou em cursos que a preparassem para o teatro, a TV e o cinema, em Novo Hamburgo, cidade onde nasceu. “Dos 15 aos 17, eu ia a Porto Alegre todos os sábados estudar teatro e interpretação para vídeo. Foi quando tive idade para poder pegar o trem sozinha, já que meus pais trabalhavam aos sábados. Comecei a enviar muitos e-mails, entrei em várias agências aqui. Queria muito ter acesso a testes, mas só podia fazer se tivesse DRT, então, aos 16 anos, pedi para os meus pais me emanciparem e com os cursos e alguns trabalhos, tirei o meu DRT”, recorda ela, que ao se formar no ensino médio, não prestou vestibular, porque desejava se mudar para São Paulo ou o Rio, onde existem mais oportunidades de trabalho para os artistas.
Espero realmente que esse trabalho me abra portas e minha carreira se desenvolva – Vitória Boh
Quando concluiu o ensino médio, não compareceu a formatura, porque havia sido chamada para ir ao Rio, fazer um vídeo na Globo, no mesmo dia. Um mês depois estourou a pandemia. Após dois anos, a Globo lhe procurou para fazer testes, ela se mudou para o Rio e começou a gravar a novela. No Rio, no início desse ano, testou positivo para a covid. Ela já havia sido imunizada com todas as doses da vacina e teve sintomas superleves.
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