Na série Todas as Garotas em Mim, Luana Camaleão mostra gravidade da depressão em adolescentes


Na produção da Record TV, onde a atriz já participou da novela “Gênesis”, ela interpreta personagem supermanipulada na escola, conivente com situações que não concorda e depressiva “Este é um tema meio velado, as pessoas ainda tem vergonha de dizer que são medicadas”

Luana Camaleão aborda depressão na adolescência na série Todas as Garotas em Mim, da Record TV (Foto: Rafael Mingone)

* Por Carlos Lima Costa

Através de Paloma, personagem da atriz Luana Camaleão, que sofre com angústias e inseguranças, a série Todas As Garotas em Mim, da Record TV, joga luz nos transtornos emocionais, crises de ansiedade e depressão que adolescentes enfrentam. Durante a preparação, a intérprete até ficou alarmada com a quantidade de jovens depressivos. “Este é um tema meio velado, as pessoas ainda tem vergonha de dizer que são medicadas. Depois que eu saí da escola, por exemplo, fui descobrir que amigas minhas de anos já tomavam remédios. E este assunto nunca tinha sido comentado. Com o distanciamento, acabaram me revelando que haviam passado pela psiquiatra e tomavam remédio controlado. Quem está de fora observa uma mudança de comportamento, a pessoa fica mais introvertida ou algo do gênero, mas não fazemos ideia do que a pessoa está passando, do sentimento que ela está carregando, se sentindo sozinha que nem a Paloma sente na história e eu senti vivendo no corpo dela”, enfatiza.

Por outro lado, vibra com a personagem, que considera a melhor da trama. “Até me perguntava: ‘Será que fizeram certo de me escolher para carregar essa bagagem?’ Querendo ou não, ela tem uma grande profundidade por esses transtornos emocionais, pela ausência dos pais, por ser criada por um tio. Ela é supermanipulada na escola, acaba sendo conivente com situações que não concorda, pelo pavor de que o segredo dela seja revelado e todos a tratem como uma esquisita e ela acabe sozinha. Esse é o pânico da vida dela”, acrescenta.

“Já vivi relação tóxica com amizades. Graças a Deus, tenho estrutura familiar presente para ajudar a me distanciar disso”, observa Luana (Foto: Carlos Sales)

E se compara a personagem: “Igual a ela, já vivi relação tóxica com amizades. Mas, ao contrário da Paloma, graças a Deus, tenho estrutura familiar presente para ajudar a me distanciar disso. Sempre tive uma boa rede de apoio”, explica.

Resgate de Lembranças da adolescência

A construção da personagem aconteceu com a ajuda da atriz e professora Helena Varvaki e através de conversas com a própria analista. Luana frequentou o consultório de uma psicopedagoga, pela primeira vez, aos 8 anos, quando os pais se divorciaram, para entender melhor as situações e retomou na adolescência, por sugestão da mãe, para ajudar no seu autoconhecimento e a externalizar seus sentimentos. “Sempre com o sigilo profissional, claro, quis saber sobre a temática, pedir referências sobre casos de meninas que pudessem se relacionar com a história da Paloma. O material que as duas me trouxeram foram agregadores”, informa.

“Comecei a ir na academia muito cedo, por pressão estética mesmo, de ter que ser magrinha, estar no padrão”, conta Luana (Foto: Carlos Sales)

“Comecei a ir na academia muito cedo, por pressão estética mesmo, de ter que ser magrinha, estar no padrão”, conta Luana (Foto: Carlos Sales)

Aos 21 anos, interpretando uma personagem de 17, apesar de serem poucos anos de diferença, ela frisa que são fases de vida muito distintas. Aos 17, Luana ainda estava em Porto Alegre, decidindo qual universidade ia entrar, os conflitos eram outros. Agora, concluiu a faculdade, trabalha, vive em São Paulo, dirige, tem mais independência. “A mentalidade e a maturidade são outras. Para a personagem eu resgatei bastante a Luana do ensino médio, as angústias e inseguranças. E aí me vi nesse lugar, principalmente que a gente tem de ficar se provando o tempo inteiro. Questões de relacionamento, de vaidade, de cabelo, de fazer academia, de sair pra festa, assuntos próprios da idade e as inseguranças que principalmente as meninas sofrem com questões de corpo, imagem, início dos relacionamentos amorosos, a curiosidade da adolescência. Peguei bastante das angústias e inseguranças que eu vivi”, explica, referindo-se a cobranças que as mulheres sofrem por conta da sociedade machista.

“Vivi grande parte da minha infância e adolescência no Rio Grande do Sul e a gaúcha é muito vaidosa, então, fez pesar ainda mais. Por exemplo, eu tinha cabelo cacheado, aí fiz progressiva, depois tive que fazer toda uma transição capilar e esperar meu cabelo reestruturar novamente, voltar a ser o que era. Aí comecei a ir na academia muito cedo, por pressão estética mesmo, de ter que ser magrinha, estar no padrão. Essa questão é globalizada, mas na cultura gaúcha isso ainda é muito forte. Senti diferença gritante quando vim morar em São Paulo, um lugar mais leve, ou, pelo menos, no núcleo que eu comecei a conviver, a galera do teatro”, reflete.

“Achei inteligente a Record trazer esse conteúdo jovem, mostrando de forma cuidadosa os conflitos e inseguranças próprios da idade, os perigos”, frisa a atriz (Foto: Carlos Sales)

Assim, aprendeu a gostar e também a seguir pessoas com o seu biotipo. “Sou bem baixinha, tenho 1,57m. Isso já foi uma questão. Eu me comparava com atrizes e modelos muito altas, com corpos completamente diferentes. Hoje, procuro seguir mulheres que tenham um estilo de vida que eu prezo, que fazem exercícios, se alimentam bem, que tenham vida com rotina e um corpo parecido com o meu, humano, saudável. Não é só bonito. Ele tem funcionalidade, alongamento, se expressa muito mais do que um corpo de capa de revista”, acrescenta.

Sou baixinha. Isso já foi uma questão, porque me comparava com atrizes e modelos muito altas, com corpos completamente diferentes – Luana Camaleão

Atualmente, Todas as Garotas Em Mim, produção direcionada para os adolescentes, é uma exceção na TV aberta, onde até o início da pandemia, a Globo ainda produzia Malhação. Hoje em dia, outras produções do gênero, são realizadas somente nos canais pagos.

Relapsa com redes sociais

“Isso acaba afunilando, porque a grosso modo somente uma pequena parcela da sociedade, a classe mais favorecida, pode pagar pelos streamings. O adolescente precisa de uma referência. Então, achei inteligente uma emissora trazer esse conteúdo jovem, mostrando de forma cuidadosa os conflitos e inseguranças próprios da idade, os perigos. A gente precisa ter informação, principalmente na questão da internet, redes sociais, dessas comparações que acontecem. É bom ter esse espaço para debater”, frisa.

“Dividir o meu dia a dia nas redes sociais, o que estou fazendo, comendo, que horas estou malhando, isso eu não faço”, assegura Luana (Foto: Carlos Sales)

Em termos de redes sociais, Luana se considera meio relapsa. “Posto algo vez ou outra. Gosto muito de fazer edição de vídeo. Então, gravei vídeos do backstage da série. Fiz um Reels, por exemplo, com trechinhos das gravações em Petrópolis. Acho interessante, porque o pessoal fica curioso. Então, gosto de fazer essa parte mais artesanal de editar, colocar música. Mas dividir o meu dia a dia, o que estou fazendo, comendo, que horas estou malhando, isso eu não faço”, assegura.

Um perfil diferente de Mirella, principal personagem de Todas As Garotas em Mim. Digital influencer, ela integra o grupo dos mais populares na escola, mora em uma cobertura em Florianópolis, só que em uma família completamente desestruturada, os pais tem um casamento distanciado. No primeiro episódio, o avô materno morre, sendo que como a mãe não tem um bom relacionamento com a família, ela não o conhece. Mas vão ao enterro, em Gramado e aí a avó pede para a Heloisa, mãe da Mirela, para passar um tempo com elas, para ter a oportunidade de se aproximar das netas. Elas começam a desenvolver uma boa relação e a avó passa a ajudar Mirela a resolver conflitos próprios da idade através de histórias da bíblia. Na trama, Luana interpreta uma das amigas de Mirela na escola.

Luana planeja lançar três canções autorais em agosto. A atriz deseja também seguir carreira de cantora (Foto: Carlos Sales)

Curiosamente, foi no papel de uma digital influencer que a jovem atriz estreou no audiovisual, em Boca a Boca, na Netflix. Marina, a personagem, curtia a arte pop coreana, tinha um grupo de K-pop na escola. E era uma das que pegavam um vírus transmitido pela boca. Ela atuou ainda em Os Ausentes, da HBO, série policial que abordava a busca de pessoas desaparecidas. E, ano passado, interpretou Kéfera, na última fase da novela Gênesis, na Record TV. Em pouco tempo, trabalhou para variados canais, sempre com contratos por obra. “Ter uma estabilidade financeira, a garantia de que vai receber um salário e não um cachê, dá uma estrutura que te proporciona estilo de vida mais tranquilo. Você não precisa ficar pensando qual vai ser o próximo trabalho, nem como vai pagar as contas. Mas vejo um lado positivo de contrato por obra. Aí podemos conhecer outras emissoras, produções, vários tipos de linguagem”, frisa ela, que há dois anos, namora o ator Eduardo Venosa, atualmente em cartaz com a peça Hamlet, no Instituto Oswald de Andrade, em São Paulo.

Vejo lado positivo em ter contrato por obra. Transitando em emissoras diferentes, conhecemos vários tipos de linguagem – Luana Camaleão

Os dois se conheceram na faculdade, mas nunca trabalharam juntos. “Gostamos de tocar violão, compomos e mostramos um para o outro. Curtimos a nossa arte juntos”, diz ela que deseja explorar seu lado cantora profissionalmente. Ela está com três músicas para masterizar. Inconsequente União é sobre o casamento dos pais, que terminou em divórcio. “Falo dessa inconsequente união, de tão diferentes que são, mas se juntaram, aí eu nasci, depois cada um seguiu o seu caminho. A música é muito engraçada”, conta. As outras canções são Camaleão e Mosaico de Ex Amores. Todas vem com uma pegada MPB e devem ser lançadas em agosto. “Ser cantora também é um grande sonho”, finaliza.