*Por João Ker
Nós já falamos aqui sobre “Meus Dias de Rock”, nova série do Canal Brasil que estreia no próximo dia 12, na qual Bernardo Barreto é uma espécie de Lena Dunham nacional, assinando direção, roteiro, realização, produção, ajudando na escolha e composição da trilha sonora, além de ser o ator principal que, no caso, também canta. Na noite deste domingo (30/11), elenco e equipe receberam convidados no Oi Futuro de Ipanema para mostrarem um preview do programa, que promete retratar sem frescuras a realidade de quem tenta fazer carreira como um astro do rock.
Lucas (Bernardo Barreto) é o líder e vocalista da Coelho Branco, banda criada especialmente para o programa que planeja transcender as telas e chegar aos palcos com sua formação original, onde as músicas são compostas por Cícero e Wado, com o mestre Kassin assinando a produção das mesmas. Durante a série, ele e seus companheiros farão de tudo para tentar lançar o grupo e atingir a fama, coisa pela qual já estão batalhando há uns seis anos sem resultados significativos. É exatamente nesse ponto de “vai ou racha” que a série começa: quando Lucas está farto das irresponsabilidades do pai, sua mãe chega a um estado crítico do câncer, sua solidão (mais sobre ela abaixo) é imensurável e a banda parece estar se desmoronando enquanto todos tentam se manter vivos com empregos paralelos que não gostam.
A parte musical é uma grande característica do todo. Um CD físico era distribuído no evento, contando as 12 faixas da primeira temporada, cada uma correspondendo a um episódio. Com guitarras pesadas e letras que levantam seus questionamentos acerca de problemas contemporâneos e subjetivos, Bernardo segura a onda de cantor com eficiência, em algo que pode ser uma versão mais revoltada do Skank ou menos irritada do Barão Vermelho. Mas a atitude rebelde do rock ‘n roll está ali, pelo menos nos minutos disponibilizados até agora.
Apesar de tratar majoritariamente sobre a trajetória de uma banda, a temática e as dificuldades enfrentadas pela Coelho Branco soam reais demais para qualquer pessoa que tente mergulhar no mundo artístico, principalmente começando pelo solo carioca, cenário para a série e para milhares de artistas que vêm em busca do caminho dourado todos os dias. Como pagar as contas, conseguir visibilidade, enfrentar a concorrência, lidar com uma metrópole que, ao mesmo tempo em que inspira, parece querer te engolir vivo e tudo isso enquanto lida com os problemas banais e corriqueiros que todo ser humano tem.
“É um universo comum para todos os artistas que passam por essa dificuldade de serem vistos”, comenta Bernardo Barreto após a sessão. “Você precisa estar no lugar certo, na hora certa. A arte precisa de ser reconhecida para ser validada”, diz o ator sobre essa dificuldade de se firmar no mundo artístico. No projeto, Bernardo se empenhou por cerca de sete anos até conseguir filmar e chegar a um resultado que julgasse bom. Todas essas novas direções criativas podem até assustar alguns profissionais, mas ele conta que o mais difícil foi achar o tom certo para ser um “chefe”: “Minha dinâmica é muito diferente, então eu tive essa dificuldade inicial em lidar com os seres humanos. Mas acabei aprendendo a compreender o tempo de cada um, sem ser muito permissivo. O legal desse projeto é que ele contou com muitas colaborações e eu gosto dessa ideia ‘dos outros’, da troca e da contribuição”, explica.
Teaser de “Meus Dias de Rock”
Na série, Mariana Ruggiero vive a personagem “Solidão”, que nem ela mesma sabe se é fictícia ou não, já que só aparece quando Lucas está sozinho. Ainda assim, espere muitas cenas importantes e poéticas com a atriz, que durante a exibição do teaser disse se sentir “representada como artista” pelas dificuldades que a Coelho Branco passa. “A gente também está ralando para realizar nosso sonho. É necessária muita dedicação, trabalho intenso e boas oportunidades para dar certo”, comenta ela. Divana Brandão, que interpreta a mãe de Lucas, Rosa, também destaca essa faceta da carreira e do programa: “O que eu acho interessante desse projeto e diferente de tudo o que já fiz é a forma real com que ele trata as coisas, até na maneira de filmar, aproximando a dramaturgia da realidade. Não tem meio termo”, conta empolgada.”Artista tem de ter muito estudo, muita persistência, dedicação e boa vontade com as pessoas. Ainda mais no Rio de Janeiro, que é uma cidade artística. A realidade é essa mesma, tem que batalhar, porque uma hora as coisas dão certo.
Ainda não há como dizer se “Meus dias de rock” fará sucesso ou não, nem como é de fato a série, já que ainda faltam quase duas semanas para sua estreia. Mas só por abordar de forma tão crua e real um tema que muitas vezes é cercado de um romantismo idealizado que em nada condiz com a verdade, a série já está valendo a pena. E sim, as músicas são realmente boas. Talvez o grande êxito de Bernardo tenha sido conseguir juntar um time que, cada um à sua maneira, contribuiu para a trama e construção de personagens com suas próprias experiências subjetivas. Isso faz com que a história não apenas soe nova, mas também verídica. E, afinal, não é refletindo sobre seu papel como um indivíduo no panorama contemporâneo que se faz a arte? Ou, nas palavras do próprio Bernardo Barreto a respeito dessa faceta atual da série: “O artista tem de estar sempre ligado e receptivo ao mundo”.
Fotos: Filipe Cruz | Divulgação
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