Na “Central da Copa”, Marcelo Adnet revela seus múltiplos talentos, lidera a audiência e faz da Globo sua MTV


Marcelo Adnet é cria da extinta MTV (1990-2013), emissora que permitia experimentações artísticas e humorísticas através de imitações e paródias. O comediante importou esta ideia para o “Central da Copa”, no quadro “Que Doha é essa?”, que faz brincadeiras e trocadilhos não apenas com situações incomuns presentes no Catar, país que sedia o evento, mas também com a crônica esportiva. O elenco insólito, que reúne o ex-jogador do Fluminense Fred, a cantora Jojo Todynho e o jornalista Alex Escobar tem repercutido, também, nas redes sociais e telespectadores pedem que ele não saia do ar. Galvão Bueno e Cléber Machado são alvo das pilhérias de Adnet bem como o âncora do “Donos da Bola”, da Band, o ex-jogador Neto. Outros homenageados foram o carnavalesco Milton Cunha, assim como o falecido cantor Roberto Leal (1951-2019). O programa, de exibição sazonal, tem obtido bons resultados e uma liderança folgada à Globo no horário – quase três vezes a média da segunda colocada. Marcelo inventou um repórter de futebol o Eli Teral, cujas falas são sempre literais e caçoa dos jornalistas que lançam mão deste expediente em matérias para o segmento, sendo este o seu ersonagem favorito: “Eu particularmente adoro o personagem Eli Teral, o repórter que faz matérias literais, que se aproveita do que tem ao redor dele para fazer a matéria. Não é uma imitação direta de alguém, é a imitação de um tipo de matéria jornalística. E faz o maior sucesso”

*por Vítor Antunes

Três minutos, um humor sagaz, inventivo e de punch perfeito. Assim poderia ser explicado o quadro “Que Doha é essa?”, do Central da Copa, programa exibido pela Globo nas noites de jogos do Campeonato Mundial. A fórmula do quadro, que faz um trocadilho com a capital do Catar não é nova. Marcelo Adnet já apresentava-a na extinta MTV com o “15 minutos”, programa que tinha exatamente esse tempo de duração e que o fez famoso na emissora paulistana. A atração que compõe o show esportivo noturno tem atingido bons índices de audiência. Tanto que será mantido na grade da Globo mesmo depois da eliminação do Brasil no torneio. Segundo relata o ator à assessoria da emissora que exibe o programa, o trabalho é incessante: “A gente assiste aos jogos da Copa do Mundo e fica pensando o que vai falar, o que vai abordar. Não dá para prever qual vai ser a pauta, já que ela é viva. Tudo o que é gravado vai ao ar no mesmo dia. E essa é a principal característica do programa”, diz.

Marcelo Adnet é o apresentador do “Que Doha é Essa?”, quadro do “Central da Copa” (Foto: João Miguel Jr./TV Globo)

QUE DOHA É ESSA?

Central da Copa” tem recebido um ótimo acolhimento junto ao público telespectador. No dia 9/12, por exemplo, assinalou 12 pontos de audiência, versus 4.8 do segundo lugar, a RecordTV, que exibia a sua faixa filmes “Super Tela”. Se considerada a soma da audiência de todos os canais da TV paga, estas somam 5.1 pontos, ultrapassando a emissora dos Macedo. A atração global encontra aclamação tanto no Ibope tradicional como na Internet.

Num dos últimos episódios do “Central”, Adnet, gravou uma paródia que envolvia os vencedores da última rodada das oitavas de final da Copa. Nesta, interpretou um português representando a seleção que classificou-se às quartas de final e que perdeu para o Marrocos nesta fase do campeonato. O lusitano fictício era uma mistura do locutor da Globo Luís Roberto, com o falecido cantor Roberto Leal (1951-2019) e chamou-se Luís Roberto Leal. Segundo Marcelo, na Globo há “Uma equipe de roteiristas e de caracterização, tanto de figurino quanto de maquiagem, cabelo e barba, para fazer com que tudo ande e funcione no mesmo dia. E também nos dá a possibilidade de pirar nesse universo que o esporte proporciona, que vai muito além das quatro linhas do gramado”, disse, num trocadilho às “quatro linhas da Constituição”, propaladas pelo atual presidente Jair Bolsonaro.

Marcelo Adnet faz um personagem que brinca com o narrador Luís Roberto e com o falecido cantor Roberto Leal (Foto: Reprodução/TV Globo)

Com roteiro de Marcelo Martinez, Leonardo Lanna, Wagner Pinto e direção de Sidney Garambone, o quadro do “Central da Copa” é gravado nos estúdios da Globo, no Jardim Botânico, no Rio. Segundo o ator, o “Que Doha é essa?” tem a premissa de brincar com as situações acontecidas no torneio, “Ainda mais numa Copa no Catar, que é um lugar difícil e diferente do que a gente está acostumado”. Os episódios são gravados à noite, horas antes de sua exibição. Inclusive, Adnet participa do programa ao vivo.

É uma emoção diferente você estar ao vivo fazendo uma outra pessoa. É bem louco. De toda maneira, acho que a gente está bem na temperatura da Copa, em cima do lance, fazendo também um trabalho jornalístico, de base, para finalmente chegar lá na ponta, que é o humor” – Marcelo Adnet  

Os responsáveis pela caracterização de Marcelo são a figurinista Alessandra Barrios e o caracterizador Rubens Libório. Para que o visagismo seja adequado, os profissionais lançam mão dos uniformes do acervo da casa, além de outros acessórios, como um colar usado por Galvão Bueno e um relógio de pulso utilizado por Cléber Machado. O personagem favorito de Adnet, contudo, é o Eli Teral, repórter esportivo que faz matérias literais, incluindo no texto da reportagem tudo o que há em seu redor. O artista já se antecipa em dizer que “não é uma imitação direta de alguém, é a imitação de um tipo de matéria jornalística”. Além deste, outro personagem que gosta de interpretar é o que copia o narrador Cléber Machado. “Adoro imitá-lo, porque ele começa a pensar coisas e vai para outros lugares, muito além daquilo que está acontecendo no campo”. E finaliza: “Espero que ele esteja gostando também”.

O caracterizador Rubens Libório e a figurinista Alessandra Barrios caracterizam Marcelo Adnet (Foto: Manoela Mello/TV Globo)

ALÔ, M-TEVÊ! BOTA ESSA P%#@* PRA FUNCIONAR!

Anterior ao trocadilho com o palavrão que nomeia o quadro “Que Doha é essa?”, em 2004 uma frase tornou-se icônica no primeiro VMB exibido pela extinta MTV: O caos com o sistema sonoro durante a apresentação de David Byrne em companhia com Caetano Veloso fez com que o cantor baiano bradasse, no palco da premiação: “Alô, pessoal da M-Tevê! Vamos tomar vergonha e colocar essa p@#$ pra funcionar!”. A frase ficou imortalizada naquele ano e virou meme antes ainda que esta palavra existisse na concepção atual. Além disso, a forma como Veloso chama a extinta emissora, de forma aportuguesada – emitevê – tornou-se viral. A própria televisão, com o auto deboche que lhe era característico, usou a frase em vinhetas interprogramas e um dos diretores lançou um livro com a malfadada interjeição.

Era esse o clima da MTV, rede que lançou Marcelo Adnet ao estrelato em 2008, quando ele apresentava o “15 minutos”. No programete, lançava mão do mesmo expediente que orienta as suas apresentações no “Que Doha é essa?”: Imitava famosos e fazia números musicais. Com a grande repercussão do programa, passou por outros projetos na emissora do Grupo Abril, dentre os quais o “Comédia MTV”, cujos quadros tornaram-se igualmente famosos e projetaram talentos como Bento Ribeiro, Dani Calabresa, Fabio Rabin, Paulinho Serra e Tatá Werneck. Permaneceu naquele veículo até 2013, quando foi contratado pela Globo.

Marcelo Adnet no “15 Minutos” (Foto: Acervo/O Globo)

Ainda em 2013 estreou na emissora carioca a série “O Dentista Mascarado”, tendo Adnet como a personagem título. Com uma audiência muito abaixo da média e críticas severas, a série de Fernanda Young (1970-2019) e Alexandre Machado só teve uma temporada de exibição. Temia-se que a mística do insucesso dos ex-MTV’s na Globo pudesse se repetir com Adnet, já que Cazé Peçanha e Luiz Thunderbird foram retumbantes fracassos na TV dos Marinho. Em 2014, porém, Marcelo esteve em “Tá no Ar – A TV na TV”, com relativo sucesso. O ator deixou este programa para fazer o seu próprio late-show, o “Adnight“, que não foi bem sucedido. Em 2015, ingressou no elenco da nova versão da “Escolinha do Professor Raimundo” vivendo um personagem anteriormente interpretado por Rogério Cardoso (1937-2003), o Rolando Lero. Uma bem-aventurada participação, a contrário daquela no programa “Se Joga”, um dos últimos grandes fracassos exibidos pela Globo.

Em 2022, Adnet iniciou o ano como um dos comentaristas do Oscar, com a ideia de mesclar informação e entretenimento, propostas pela Globo. Na transmissão da cerimônia dos melhores da Academia americana, Marcelo trouxe algumas de suas marcas, como a improvisação ao vivo e brincadeiras com os filmes premiados: “Como sou cinéfilo, assisti a todos os principais indicados e foi uma maratona prazerosa. [Contribuí promovendo] uma visão brasileira aos indicados. Em 2023, Marcelo Adnet completará dez anos na Globo. No “Central da Copa”, assinala uma das suas características mais marcantes ao emprestar à Globo a inventividade o dinamismo do humor que apresentava naquela emissora extinta em 2013.