Mouhamed Harfouch fala sobre interpretar Chico Buarque na série ‘Betinho: no Fio da Navalha’: ‘Tentei não desmaiar’


“Estou apenas na tela dando vida ao cara que eu mais admiro, um dos gigantes da nossa cultura, seja como músico, compositor, escritor, dramaturgo e pensador político e ativista social. É uma honra sem tamanho”, revela o ator. Ao site, o intérprete de Chico Buarque adiantou os novos projetos que está trabalhando: a gravação da segunda e da terceira temporada de “Rensga Hits!”, do Globoplay, uma nova série da Warner “Met” e, em janeiro, ele lança o filme “Nosso Lar 2”. Ele disse que “o desafio belíssimo” dessa continuação tem sido aguardado pelo público há 13 anos

O ator Mouhamed Harfouch desabafa sobre os desafios de interpretar Chico Buarque

*por Luísa Giraldo

Em uma nova grande empreitada no audiovisual, Mouhamed Harfouch faz o papel de Chico Buarque na recém-estreada série “Betinho: no Fio da Navalha”, no Globoplay. O ator reflete ter buscado entregar a versão mais comprometida com a política e cultura de um dos maiores nomes da nossa música e desabafa carinhosamente sobre a responsabilidade de representar um nome de tamanho valor simbólico para a história do Brasil. Simultaneamente, vale lembrar que, Chico acaba de lançar o novo disco “Que tal um samba? Ao vivo”, fruto do show de mesmo nome e que teve como artista convidada Mônica Salmaso

Mouhamed explica a complexidade do “desafio de não cometer nenhum pecado mortal” que se desconecte com uma representação fidedigna do mestre. “Durante a preparação, eu só tentei não desmaiar. Afinal, estou apenas dando vida ao cara que eu mais admiro, um dos gigantes da nossa cultura, seja como músico, compositor, escritor, dramaturgo e pensador político e ativista social. É uma honra sem tamanho poder dar vida a esse personagem”, confessa o intérprete, ao evidenciar a adoração que cultiva pelo legado do artista de 79 anos.

Segundo o ator, Chico e Herbert Souza (1935-1997) formaram uma “dupla dinâmica” e mostraram ao Brasil a necessidade da população de dar as mão, rumo à cidadania e à ação dos indivíduos como coletivo. O artista avalia que a mensagem dos dois pensadores chega em “um momento muito forte e potente de união, reconstrução, afeto, amparo, acolhimento e abraço”.

Também cantor, Mouhamed revela que está trabalhando no primeiro monólogo

Também cantor, Mouhamed revela que está trabalhando no primeiro monólogo (Foto: Divulgação)

O ator relembra a oportunidade de ter se encontrado com o artista no backstage de uma das apresentações. Ciente do papel que Mouhamed interpreta em “Betinho: no Fio na Navalha”, Chico brincou com o artista que visse “bem o que aprontaria para” ele, atentando-o para a responsabilidade da representação.

Para dar vida ao Chico, procurei ser o mais absurdamente humano e verdadeiro. Busquei ser um brasileiro na simplicidade e humildade de querer bem. Também tentei jogar a bola mais redonda que pude porque ele é um craque dentro e fora do campo. Mais que isso: Chico Buarque é um craque do Brasil — Mouhamed Harfouch

Posicionamento político de Mouhamed

Um dos principais temas retratados pelo produto audiovisual é a fome brasileira, tema no qual Betinho dedicou a vida para debater e combater. Ao sair do “Mapa Mundial da Fome” da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, o Brasil parecia ter superado a questão. Em 2021, o país voltou a figurar no mapa em decorrência da ausência de políticas públicas vigentes e do agravamento da Pandemia da Covid-19.

O galã Mouhamed Harfouch assume o desafio de dar vida à icônica estrela da MPB (Música Popular Brasileira) Chico Buarque

Mouhamed Harfouch confessa venerar Chico Buarque (Foto: Divulgação)

Quando questionado sobre a forma na qual enxerga as políticas do combate à fome, o artista de 46 anos disse acreditar que o tópico merece “sempre algo mais definitivo, como uma uma política de estado perene” pela seriedade da discussão. Mouhamed pontua a necessidade de medidas que zerem a fome de fato, além de identificar que o Brasil vive, atualmente, um “caminhar e maior acolhimento e maior percepção do outro e das causas dele urgentes e sociais”. Para ele, a série chega em um momento fundamental para reforçar a importância do olhar cidadão para o coletivo.

Novos projetos

Ao site, o intérprete de Chico Buarque adiantou os novos projetos que está trabalhando: a gravação da segunda e da terceira temporada de “Rensga Hits!”, do Globoplay, uma nova série da Warner “Met” e, em janeiro, ele lança o filme “Nosso Lar 2“. Ele disse que “o desafio belíssimo” dessa continuação tem sido aguardado pelo público há 13 anos. Em consonância, Mouhamed revela sobre sua pretensão com um projeto autoral no teatro. Com o desejo de estar nos palcos em 2024, o ator detalha que está começando a escrever seu primeiro monólogo.

Chico Buarque em "Betinho: no Fio da Navalha", Mouamed Harfouch avalia que o problema da fome carece de políticas públicas perenes

Chico Buarque em “Betinho: no Fio da Navalha”, Mouamed Harfouch avalia que o problema da fome carece de políticas públicas perenes (Foto: Divulgação)

O artista confessou estar sem tempo livre para se dedicar ao mundo da música e entregar o desejado EP aos fãs. “É preciso treinar muito para dar vida ao Chico Buarque, mas espero ter tempo para isso em breve. A música está dentro de mim. No ano passado, eu fiz muitos shows e, nesse ano, consegui fazer alguns – não tantos, por conta da agenda – e me dediquei bastante ao teatro. Mas espero poder ‘chegar junto também’ com a parte musical no ano que vem.

A música está dentro de mim — Mouhamed Harfouch

Que Tal Um Samba?

Iniciada em 6 de setembro de 2022, em João Pessoa, na Paraíba, a turnê “Que Tal Um Samba?” tinha como cenário um país que evidenciava a aproximação de uma acirrada eleição presidencial que dividiu a nação em dois pólos: à favor do atual Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Chico descreveu que o Brasil vivenciava “uma página infeliz da nossa história” à luz do Governo Bolsonaro. O show continuou após a vitória de Lula nas urnas e, atualmente, carregou a esperança de um novo direcionamento político do Brasil. 

Mouhamed Harfouch se desafia a assumir a versão mais política e militante de Chico Buarque na nova série do Globo Play "Betinho: no Fio da Navalha"

Mouhamed Harfouch se desafia a assumir a versão mais política e militante de Chico Buarque em “Betinho: no Fio da Navalha”  (Foto: Rodrigo Lopes)

Em contraponto à militância política de um dos artistas ícones da Música Popular Brasileira (MPB), o lançamento da série no Globoplay ainda remete à polarização política do país. O projeto aborda os horrores do período da ditadura militar, sobretudo com os Atos Institucionais (AI), enquanto Chico até hoje alerta o público sobre os posicionamentos conservadores que assolaram a presidência pelos últimos quatro anos.

Chico Buarque e Betinho

Em 1993, Betinho convocou dezenas de artistas, personalidades públicas e jornais a se engajarem e voltarem seus holofotes para o problema estruturante da fome no Brasil. O objetivo da ação era estimular a população brasileira a se unir para combatê-la, já que o mapa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicava que 32 milhões de brasileiros estavam abaixo da linha da pobreza. A convocação do ativista resultou em milhares de doações por parte da população e de pessoas famosas. Chico Buarque foi uma das principais figuras militantes a auxiliar o sociólogo a divulgar o projeto.

Segundo o site Ação e Cidadania, como resultado da união proposta por Betinho, foi escrita uma carta que denunciava a fome e a miséria de milhões de brasileiros como os principais problemas do país. Posteriormente, ela foi chamada de “Carta de Ação da Cidadania” e acabou por dar origem ao movimento de mesmo nome, que atua contra a fome e a miséria.

Betinho e Chico Buarque atuaram juntos contra a fome no Brasil

União por um país: Chico Buarque e Betinho (Foto: Ação da Cidadania)

As últimas informações sobre o relacionamento de amizade entre Betinho com Chico antes da morte da sociólogo foram dadas à imprensa em 1994, quando Betinho entrevistou o músico em um programa da Rede Pública de Televisão (TVE). O cantor deu detalhes sobre a sua participação na campanha contra a fome e disse ter participado de jogos de futebol em várias cidades, cobrando um quilo de alimento não-perecível por ingresso. Já Betinho relembrou da gravação que recebeu de seu irmão, o cartunista Henfil (1944-1988), enquanto estava exilado em Toronto, no Canadá, durante os anos 70. Ele fez com que Betinho ouvisse a gravação da recém-criada canção de Chico Buarque“Folhetim”.

Com afinidades políticas em comum, ambos simbolizaram a resistência contra a Ditadura Militar e a luta à favor da democracia no Brasil.