Mortes e fracasso. Além de “Gina”, veja cinco tramas do Globoplay cujos autores só fizeram uma novela solo


Com a pouca rotatividade de autores de novela, já que não são muitos os dispostos saber lidar com a rotina de estiva que o gênero propõe, é costumeiro que as emissoras, e especialmente a Globo, lance mão das suas pratas da casa para escrever seus folhetins. Porém, historicamente, alguns autores escreveram apenas uma trama. Ou em razão do fracasso de audiência, ou por falecimento do artista, não mais foi possível ver algo com a assinatura desses profissionais. Veja cinco casos de novelas que estão no Globoplay e que são “filhas únicas” de seus autores

*por Vítor Antunes

Quando a Globoplay começou a resgatar novelas, muito se celebrou a chegada das novelas à plataforma. Muitas tramas de sucesso voltaram e outras que não necessariamente foram bem sucedidas, também. Destaca-se que algumas novelas que foram resgatadas foram as únicas em escrita solo de seus autores. Na última segunda-feira foi a vez de “Gina” retornar. A novela de Rubens Ewald Filho (1945-2019), famoso crítico de cinema, nunca foi reprisada em razão de seu insucesso. O autor não mais voltaria a investir no gênero e essa foi sua primeira e única novela solo. Antes de “Gina” ele fez em parceria com Silvio de Abreu, a versão de 1977, da novela “Éramos Seis“, da Tupi. Outros folhetins já resgatados pelo streaming global também compartilham da mesma situação a qual “Gina” viveu, quando seus autores tiveram apenas uma experiência no formato teledramaturgico. Veja outros casos de novelas já alojadas no Globoplay, cujos autores não tornaram a fazer projetos para o gênero. Ou por causa do fracasso homérico, ou devido a um câncer que vitimou um talento. Veja!

“Gina” (1978), Rubens Ewald Filho

Depois do sucesso de “Éramos Seis” A novela marcou a estreia de Ankito (1924-2009)- ator da época das chanchadas no gênero e a de Christiane Torloni como protagonista. Marcada por uma caracterização equivocada, através do envelhecimento de persoangens através de atores muito jovens na ocasião, “Gina” acabou sendo esquecida. O Jornal do Brasil chegou a noticiar que haveria uma reprise às 14h, em 1980, mas não encontramos na programação do jornal esta reprise. Em entrevista ao “Blog Super TV e Mais”, Rubens negou que a novela tenha sido um fracasso. Talvez a própria Globo tenha se esquivado da reexibição. “Não teve baixa repercussão. Se você pesquisar, foi um grande sucesso de audiência no horário das seis. O problema foi que o chefe de núcleo Herval Rossano brigou com o diretor e a novela tinha problemas de maquiagem, figurino, coisas assim… Mas o elenco era unido e até hoje somos amigos. Não tive problemas pessoais e gostavam do texto. Mas era época de censura rigorosa e ela pouco ou nada tem a ver com o livro original, infelizmente.  Não gosto do resultado porque houve interferência demais”.

Esta foi a única novela solo, e completa, de Rubens Ewald Filho. “Éramos Seis” ele assinou em dupla com Sílvio de Abreu. Depois de “Gina” ele faria “Drácula”, na Tupi, que só teve cinco capítulos exibidos. O autor foi, então, para a Band, onde iniciou a escrita de “Um Homem Muito Especial”, quando na altura do capítulo 80 foi substituído por Consuelo de Castro. Depois disso, nunca mais voltou às novelas. “Não mais fui convidado. A imagem de crítico e do Oscar ficou forte demais. Depois nunca me ofereci ou propus projetos… Se quiser que me chamem. Mas o trabalho de escrever novela é desumano”. A novela foi disponibilizada no Globoplay em 15/04/2024.

 

A caracterização de Christiane Torloni em “Gina”. Uma mulher de 21 anos deveria aparentar ter 60. Hoje ela tem 67 (Foto: Nelson di Rago/Globo)

“Beleza Pura” (2008), Andrea Maltarolli

Quando Andrea Maltarolli estreou “Beleza Pura“, sua primeira novela, a autora já era veterana. Havia escrito diversas temporadas de “Malhação” como titular, além de haver colaborado com outras produções da casa, e feito montagens teatrais. Em 2008 escreveu a trama das 19h que trazia Regiane Alves e Edson Celulari nos papéis protagonistas e que se tornou um sucesso, tanto por eles como por Ísis Valverde vivendo Rakelli. Em setembro de 2009, Andrea faleceu, aos 46 anos, contudo já havia sido aprovada a sinopse de uma novela de sua autoria, “Buu”, que foi postumamente produzida e rebatizada com o nome de “Alto Astral” e roteirizada por Daniel Ortiz em 2014. Beleza Pura entrou no Globoplay em 15/01/2024.

Regiane Alves e Edson Celulari em “Beleza Pura”, de Andrea Maltarolli (Foto: Acervo/Globo)

 

“Deus Salve o Rei” (2018), Daniel Adjafre

Diante do sucesso de produções medievais como “Game of Thrones“, as duas maiores emissoras do País produziram “uma novela medieval para chamar de sua”. A Record fez “Belaventura”, de baixa repercussão e audiência, e a Globo fez “Deus Salve o Rei”, de Daniel Adjafre. A novela passou por muitas turbulências com relação ao Ibope, precisou ser ajustada mais incisivamente durante a sua exibição para reconquistar o público e também recebeu críticas especialmente pela atuação tida como robótica da vilã da trama, interpretada por Bruna Marquezine. A primeira experiência solo de Adjafre nas novelas, ainda que ele tenha sido colaborador de outras tantas e tenha escrito séries como “A Cara do Pai” acabou sendo a única – pelo menos até agora. Adjafre saiu a Globo em 2022. “Deus Salve o Rei” sempre esteve no Globoplay.

Rômulo Estrela como o príncipe Afonso em “Deus Salve o Rei” (Foto: Reprodução)

 

Tempos Modernos (2010), Bosco Brasil

Bosco Brasil é um autor teatral incensado, especialmente por conta de “Novas Diretrizes em Tempos de Paz“, peça protagonizada por Dan Stulbach e Tony Ramos. Ele também foi co-autor de “As Filhas da Mãe” e colaborador de várias outras novelas como “Coração de Estudante” e “Anjo Mau” (1997). “Tempos Modernos” foi a sua chance de despontar como autor solo, mas não deu certo. Uma sucessão de escolhas erradas, como a escolha de Grazi Mazzafera para viver uma robô e ter um próprio robô, Frank, como protagonista, dividindo a cena com Antonio Fagundes, afastou o público. Tempos Modernos foi uma das primeiras novelas a permanecer na íntegra num formato mais próximo ao que a Globoplay adota hoje, quando do relançamento da proposta de haver um streaming da Globo. Antes dela, a Globo já permitia que assinantes vissem os capítulos de dias avulsos e cenas especiais da novela através do Globo Media Center e da Globo Vídeos, uma espécie de “pais” do atual Globoplay.

Frank, na foto, era o robô protagonista de “Tempos Modernos”. Um fracasso às 19h (Foto: Reprodução/TV Globo)

Chega Mais (1980), Carlos Eduardo Novaes

Chega Mais” foi a novela de estreia e a única do cronista Carlos Eduardo Novaes. Famoso pelo humor de seus textos no Jornal do Brasil, o escritor foi convidado a fazer a trama das 19h exibida em 1980 e que abriu o Projeto Fragmentos da Globoplay, em 22/01/2024. Incompreendida na época justamente devido ao humor, estilo que se consolidaria às 19h nos anos seguintes com Cassiano Gabus Mendes e Sílvio de Abreu, “Chega Mais” nunca foi reprisada e nem viu seu autor em outros projetos no formato. A trama de 1980 foi a última a contar com Sonia Braga antes de ela enveredar para o cinema americano. Sonia só voltaria a fazer uma novela completa em 2006, com “Páginas da Vida“. Carlos Eduardo seguiu escrevendo crônicas e literatura e não mais voltou às novelas.

Reynaldo Gonzaga em “Chega Mais”, novela da Globo de 1980. Um dos galãs jovens da trama de Carlos Eduardo Novaes (Foto: Acervo/Globo)