*por Vítor Antunes
Na trajetória televisiva de Silvio Santos, um dos maiores ícones da comunicação brasileira, há uma lacuna significativa que desperta a curiosidade dos historiadores e admiradores do apresentador: o paradeiro dos registros de seus primeiros anos na televisão. Entre as décadas de 1960 e 1980, um conjunto de fatores contribuiu para a perda irreparável de materiais que poderiam documentar a evolução do apresentador, desde sua estreia na TV Paulista até sua passagem pela TV Globo. Incêndios devastadores, a prática comum de reciclagem de videotapes e as inundações que acometeram os estúdios do SBT são elementos que, juntos, apagaram capítulos inteiros da história de Silvio Santos na TV.
O mistério em torno dessas relíquias perdidas lança uma sombra sobre os anos formativos do apresentador, cujos vestígios são escassos e dispersos. O que restou são fragmentos. O Site Heloisa Tolipan resgatou dois: uma fotografia do programa na Globo e um trecho de um programa preservado na Tupi, itens de valor incalculável que resistiram ao tempo e às adversidades. A perda desses materiais não apenas priva o público de reviver momentos históricos, mas também revela as fragilidades das políticas de preservação da memória televisiva no Brasil, especialmente em uma época em que o zelo por acervos audiovisuais era praticamente inexistente. Veja
Silvio Santos, iniciou sua carreira televisiva em 1960, na TV Paulista, com o programa “Vamos Brincar de Forca”. À época, a emissora enfrentava uma grave crise financeira, o que culminou em sua aquisição por Roberto Marinho em maio de 1965. Em 24 de março de 1967, a TV Paulista foi rebatizada como TV Globo Paulista, e um ano depois, em 24 de março de 1968, tornou-se a TV Globo São Paulo, marcando o início de uma nova era.
Contudo, em 1969, um incêndio devastador atingiu o prédio da TV Globo em São Paulo, apagando uma parte significativa de seu acervo, incluindo materiais da antiga TV Paulista. A prática de preservar gravações era rara naquela época, devido ao alto custo dos videotapes, e o incêndio provavelmente destruiu o pouco que restava dos arquivos. Esse evento, junto com outro incêndio em 1976, quando Silvio Santos deixou a Globo, resultou na perda de inúmeras novelas e programas, incluindo parte significativa do acervo da Plim-Plim anterior a 1976. Apesar das perdas, algumas fotografias do programa de Silvio Santos, como uma com a participação de Beth Carvalho (1946-2019) em 1973, sobreviveram. Em reportagens especiais, por ocasião da morte de Sílvio, a Globo utilizou trechos do Troféu Imprensa e pequenos fragmentos de programas de Silvio Santos disponíveis na internet.
Após adquirir os antigos estúdios da TV Excelsior em 1972, Silvio Santos enfrentou outro incêndio em 12 de dezembro daquele ano, nos estúdios da Rua Dona Santa Veloso, onde a TVS estava se instalando. O incêndio causou a perda de nove anos de arquivos do Programa Silvio Santos. Como ainda precisava gravar o programa mesmo com os estúdios tendo se incendiado, Silvio improvisou e gravou o programa em uma casa vizinha no mesmo dia.
Entre 1976 e 1980, Silvio Santos também esteve presente na TV Tupi, que foi à falência em 1980. A falta de zelo pela preservação da memória televisiva, aliada ao alto custo dos videotapes, resultou na perda de grande parte dos programas exibidos na Pioneira. O site Heloisa Tolipan conseguiu acessar apenas um programa de Silvio exibido pela emissora.
Quando Silvio Santos fundou o SBT, a emissora tinha seus estúdios localizados na Vila Guilherme, em São Paulo, onde enfrentava frequentes inundações causadas por chuvas. Situações inusitadas, como o resgate de crianças durante as gravações dos programas Show Maravilha e Bozo, foram registradas. Os jornalistas do SBT, determinados a entregar as notícias, muitas vezes metiam o pé na lama para cobrir até mesmo as inundações que atingiam a própria emissora. A gravidade das enchentes era tanta que, por volta de 1992 o SBT lançou sua unidade móvel mais versátil: um bote inflável.
Estima-se que algumas fitas do início do SBT como rede e da época da TVS estejam perdidas, incluindo novelas como “Destino”, “O Espantalho” e séries como “Solar Paraíso”. No entanto, essa informação nunca foi confirmada oficialmente pelo SBT, apesar das inúmeras tentativas de contato do site Heloisa Tolipan. Por outro lado, os arquivos do SBT a partir dos anos 1990 estão preservados, especialmente após a mudança para o CDT da Anhanguera, onde a emissora está instalada atualmente. A história de Silvio Santos na televisão é marcada por desafios e conquistas, e resiliência. Num país sem memória como o Brasil, espera-se que Sílvio não seja esquecido.
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