Monique Alfradique enfrentou cobras e aranhas em gravação de longa no Ceará. No teatro, aposta no humor


Atriz, que investiu em vários produtos cinematográficos na última década, lança seu mais novo trabalho no segmento: “Bem- Vinda a Quixeramobim”, no qual vive a protagonista Aimée. Com o típico humor cearense, o longa de Halder Gomes lança, também, o influencer Max Petterson como ator. Alfradique é a única atriz não nordestina do longa. Além deste projeto, atriz fala um pouco sobre seus novos projetos para a temporada 2022/2023, uma peça de teatro chamada “Quase Normal”, onde atua, também como co-produtora, e relembra dois momentos curiosos da carreira, como a maratona que fizera no programa Domingão do Faustão, onde viu-se obrigada a desfilar por 14 escolas de samba, e a reprise de “Fina Estampa”, novela de 2011 que voltou ao ar durante a pandemia

*Por Vítor Antunes

Monique Alfradique estrelou alguns filmes no gênero da comédia e o mais recente é “Bem-Vinda a Quixeramobim”. Atriz vive a protagonista, Aimée. Além da grande jornada nas gravações, a atriz precisou enfrentar cobras, rãs e aranhas que invadiram o quarto do hotel em que estava hospedada. Rodado em Quixadá, no Sertão Central do Ceará, ainda que a história se passe na cidade vizinha que dá o título ao filme, o longa traz as feras do humor regional nordestino Edmilson Filho e Falcão, além de apresentar uma nova vertente do trabalho do ator e youtuber Max Petterson, cearense que viralizou na Internet após relatar com bom humor, sua vivência em Paris, onde mora desde 2014. Mesmo estando em cartaz em apenas dois estados nordestinos – Pernambuco e Ceará – a fita vem alcançando bons resultados de bilheteria.

Monique também anuncia o retorno de seu monólogo, “Quase Normal“, que volta aos palcos em novembro, no Rio de Janeiro. Seu trabalho mais recente exibido na TV foi a reprise da novela “Fina Estampa”, em 2020. A trama de Aguinaldo Silva, exibida originalmente em 2011, atingiu altos índices de audiência. Nesta, a atriz vivia a personagem Bia, que entrava num litígio judicial pela guarda de uma criança. Desde 2018 sem fazer uma novela completa, “Deus Salve o Rei“, ainda que estivesse em outros trabalhos na  televisão, o Site HT localizou uma das primeiras aparições de Alfradique na TV, em 1998, ainda na fase de testes para tornar-se Paquita.

Monique Alfradique investe no humor em longa-metragem e no teatro (Foto: Marcos Duarte)

UMA SUDESTINA NO SERTÃO

Bem-Vinda a Quixeramobim” , segundo a atriz, “conta a história de Aimée, uma influenciadora milionária que do dia para a noite tem todos os bens da família bloqueados após o pai ser preso por um caso de corrupção, restando-lhe apenas uma fazenda no interior do Ceará que herdou de sua mãe”. Sabidamente o Ceará é um celeiro de comediantes, artifício do qual os produtores lançaram mão: “A maioria dos atores é nordestina e com um humor único deles deixando a Aimée em situações hilárias e embaraçosas”. Segundo o ator Max Petterson, se somados o elenco e o staff, 95% da equipe do longa era composta por nordestinos.

Aliás, a própria atriz viveu experiências insólitas durante sua passagem pelo Sertão: Enquanto a atriz fazia exercícios físicos, uma cobra apareceu no telhado do hotel onde ela estava hospedada. O encontro com rãs e aranhas não era incomum. Tanto que a atriz vedou com plástico todos os lugares possíveis do banheiro de seu dormitório. Além disso, era peculiar e não só compunha o roteiro do filme, como o de sua equipe técnica. “Ao fim, já me sentia a Rainha do Sertão”, disse, bem humorada, numa live em seu Instagram.

Monique Alfradique é a protagonista de “Bem Vinda a Quixeramobim (Foto: Marcos Duarte)

Monique Alfradique gravou filme com ícones do humor cearense (Foto: Marcos Duarte)

O filme vem obtendo bons resultados de bilheteria, ainda que esteja em cartaz apenas em duas praças nordestinas e em 38 salas. Em sua semana de estreia, segundo a atriz protagonista, o filme chegou a pontuar na sétima colocação entre os filmes mais vistos no Brasil, ainda que não estivesse em circuito nacional. Lotou o Teatro São Luiz, em Fortaleza, em seus mais de 1.000 lugares. Os atores torcem para que haja um segundo lançamento do longa-metragem, de modo que ele possa entrar em circuito nacional. Após a estada nas salas de exibição, “Bem-Vinda” comporá o catálogo do Globoplay. O player da Globo, por sua vez, abriga vários filmes e seriados não só locados no Nordeste como produzidos e protagonizados por nordestinos. Um dos cases mais bem-sucedidos é a franquia “Cine Holliúdy“, que rendeu dois filmes  – ambos dirigidos e roteirizados pelo mesmo diretor de “Quixeramobim” – e duas temporadas de série que foram exibidas com sucesso pela Globo.

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Numa live feita entre Alfradique e Petterson, o ator disse que o longa, nas palavras de seu diretor, trata sobre “paulista que se lascou no Nordeste”, a contrário do usual, onde “Nordestinos se lascando em São Paulo”. “Bem-Vinda”  traz, também, uma observação curiosa na relação estabelecida entre sudestinos e nordestinos. Geralmente o êxodo acontece do Nordeste para o Centro-Sul. No filme, ocorre o contrário. Ela explica: “Na maioria dos filmes, vemos a história de pessoas saindo do Sertão para conhecer a cidade grande. Neste, há o movimento inverso, com a Aimée saindo da metrópole para morar em Quixeramobim. O filme também mostra a beleza exuberante do Ceará”.

‘Bem-Vinda’ retrata a beleza natural do Sertão e traz grandes reflexões sobre as redes sociais, relações humanas e a questão da água – Monique Alfradique

Sobre a gravação do filme, que ainda aconteceu durante o período mais forte da pandemia, a atriz conta-nos sobre o processo de filmagem em meio a protocolos sanitários: “No início da preparação do longa, tudo era por vídeo chamada, desde as leituras até os ensaios. Então, a princípio foi desafiador não ter o contato físico e o olho no olho. Durante o período de ensaios e gravações em Fortaleza  passamos um mês isolados, apenas ensaiando. Eu, Edmilson Filho e o Max Petterson fazíamos tudo juntos e a gente se divertia. Essa convivência nos aproximou muito e acredito que isso favoreceu o desenvolvimento das cenas e dos personagens”. A questão pandêmica pesou não apenas nos protocolos dos quais o elenco precisou lançar mão. O filme viu-se obrigado a mudar a locação. Seria gravado em Quixeramobim, mas acabou tendo de ser rodado no distrito de Juatama, em Quixadá, cidade vizinha.

Aventuras em Quixeramobim! Monique Alfradique e Edmilson Filho em filme que se passa no sertão cearanse (Foto: Divulgação)

A cidade onde o filme se passa, Quixeramobim, fica no semi-árido cearense, distante em cerca de 200km da capital Fortaleza, e vive os problemas inerentes a uma região de caatinga. Para fins de comparação, o IDH da cidade, 0,602, é equivalente ao do Timor Leste (0,607). E pouca coisa mais baixo que o de Serra Leoa (0,612).

Max Petterson, que divide as cenas com Monique, é novato nos cinemas. O youtuber cearense reside em Paris desde 2014 após ser aprovado na Universidade de Paris-VIII, onde estuda Teatro. O rapaz tornou-se famoso na Internet após usar do humor para comparar as realidades do Ceará e da França. Petterson atingiu cerca de 33 milhões de visualizações no YouTube e possui 933 mil seguidores no Instagram. A bem sucedida estreia no cinema, valeu ao ator/influencer um papel na série “O Cangaceiro do Futuro”, da Netflix. Monique relata que ela e Max tiveram Uma afinidade incrível, resultando em uma linda parceria. Ele foi um verdadeiro parceiro de cena, sempre se esforçando para que tudo desse certo. Tivemos uma ótima química durante as gravações e ele tirou de letra na interpretação de seu personagem”

Max Petterson e Monique Alfradique. Influencer lançou-se na carrreira de ator no longa que se passa em seu estado natal (Foto: Divulgação)

NORMAL. OU QUASE

Nos palcos, Monique interpretava um monólogo autoral quando fora convidada a fazer “Bem- Vinda a Quixeramobim”. “O diretor Halder Gomes foi à peça ”Quase Normal”, quando disse-me sobre o projeto”. Este, aliás, retornará aos palcos em novembro, no Rio de Janeiro “Trata-se de um texto meu e do Rafael Primot, e conta a história de uma mulher que tem que lidar com a vida cheia de imprevistos, desilusões, ansiedade e outros sentimentos tão comuns na vida adulta”.

Monique salienta que este trabalho tem um sabor especial, especialmente por lançar-se numa experiência nova no fazer teatral: “Eu tinha muita vontade de fazer um monólogo e amei fazê-lo. Foi uma sensação incrível a troca que tive com o público. Estou animada para retomar”. A peça estará em cartaz entre os dias 4 e 27 de novembro, no Teatro dos Quatro, Rio de Janeiro.

Em entrevista ao Site HT em 2019, quando ainda estava nas prévias da montagem de “Quase Normal”, a atriz revelou que a peça surgiu de uma necessidade posicionar-se enquanto artista: “Sempre tive a vontade de fazer monólogo e o desejo de empreender culturalmente. Busquei textos sem sucesso até conhecer a Camila Fremder e a Jana Rosa, em 2015, e ganhar o livro delas, ‘Como ter uma vida normal sendo louca’. O humor inteligente e irônico despertou meu interesse em adaptar para o teatro (…). Nessa adaptação, eu trouxe algumas histórias minhas. Acabou se tornando um pouco autoral também, pois que o autor, Rafael Primot, fez uma ótima adaptação e eu dei uma pincelada com ‘meu humor’, com casos reais e observações do cotidiano’’.

A encenação, por sua vez, traz uma outra habilidade para a atriz, que é a de estar na produção. Só assim, flagrou-se diante da dificuldade que é colocar uma peça de teatro de pé: “Estou muito feliz cuidando de perto de toda a produção executiva. Agora percebo como é difícil levantar um projeto [teatral] (…)”, afirmou.

“Quase Normal”. Monólogo de Monique Alfradique estará de volta aos palcos em Novembro (Foto: Marcos Duarte)

A pandemia e os reveses oriundos dela interromperam, não apenas as montagens de teatro, mas também a produção em série das novelas de tevê. Em março de 2020, a Globo exibia a novela “Amor de Mãe” e precisou interrompê-la no capítulo 102 em decorrência da crise sanitária decorrente do coronavírus. Por conta da interrupção, a TV exibiu uma reprise  inesperada de “Fina Estampa”, trama das 21h, exibida originalmente em 2011. Nesta, Monique Alfradique interpretava Bia, mulher que disputava a guarda de uma criança, Vitória (Larissa Britto), com Esther (Julia Lemmertz). A artista disse ter “adorado assistir as cenas, que me emocionaram, além de poder relembrar daquela época. Rever meu trabalho me permite assistir a trama com o mesmo olhar do telespectador e eu gosto muito disso”. A atriz, aliás, diz não ser autocrítica.

Não costumo ser crítica com o meu trabalho, mas acho interessante poder observar o quanto evoluí e o que eu faria de diferente se fosse atualmente” – Monique Alfradique

Monique Alfradique em “Fina Estampa”. Atriz diz ter carinho por Bia, sua personagem na novela que foi reprisada durante a pandemia (Foto: Alex Carvalho)

“MARATONA” E HISTÓRIA DA TV

Monique Alfradique surgiu na TV quando compôs a última geração de Paquitas no programa da Xuxa. A então assistente de palco, participou, especialmente do Xuxa Park e pontualmente no “Planeta Xuxa” – Neste último, alguma das Paquitas não puderam participar por conta da idade, o que forçou a produção a escalar as “Garotas do Zodíaco”, para cantar, dançar e dar assistência à apresentadora. Alfradique esteve na “Turma da Xuxa” até o fim do “Xuxa Park”, em 2001.

Monique Alfradique em teste para ser paquita, no Xuxa Park, em 1998 (Foto: Reprodução/TV Globo)

Diante de várias novelas, seis completas, fora participações, e escalações em séries e programas de humor, talvez uma das memórias mais específicas vividas pela atriz seja quando ela, por uma dinâmica proposta por Faustão, acabou vendo-se desfilar nas 14 escolas do Grupo Especial de São Paulo, em 2008: “Foi uma enorme maratona, a minha sorte é que na época, eu corria muito e participava de maratonas, então estava preparada para encarar o desafio. Hoje não aceitaria desfilar em 14 escolas, mas acredito que vale a experiência pelo menos uma vez na vida”, relembra, com humor.

Monique Alfradique no desafio do Faustão, em 2008 (Foto e Montagem: G1/Globo)

A relação da atriz com o carnaval, porém, não é restrita a esta. Nascida em Niterói, Monique já foi Rainha da Bateria da Unidos do Viradouro, em 2012, e desde 2013 desfila na Acadêmicos do Grande Rio. “É uma história de anos e repleta de amor, respeito e gratidão. Tenho orgulho de fazer parte da família Grande Rio uma escola formada por pessoas batalhadoras, profissionais e que sempre me enchem de amor e boas energias”.

Monique Alfradique tem uma relação longeva com a escola de Caxias, onde está desde 2013. A atriz marcou presença no ensaio técnico do Carnaval de 2022, que consagraria à escola o seu primeiro título (Foto: AgNews)