Mônica Carvalho estreia como roteirista de longa e fala do preconceito que enfrentou desde que posou para a Playboy


Ela é roteirista, atriz e produtora da comédia ‘Licença para Enlouquecer’, que protagoniza ao lado de Danielle Winits e Michele Muniz, dirigida por Hsu Chien, em cartaz nos cinemas do país. Aos 53 anos, mais do que uma transição na carreira, Mônica deseja transitar com liberdade pela arte, fala das novas criações como roteirista, revela atitude indelicada de diretor e diz não dar bola para preconceitos e julgamentos. “Sinto isso desde que fiz as capas da Playboy e trabalhei explorando esse lado mais sensual. Sempre tive que me provar demais, mas nunca duvidei de mim e dos meus sonhos. Também nunca permiti que fizessem isso comigo. Sei o que quero, tenho determinação e procuro bons parceiros”

*Por Brunna Condini

Mais uma vez indo de encontro aos seus sonhos e sem dar bola para julgamentos, Mônica Carvalho estreia como roteirista de cinema. Desde que virou musa na abertura do remake de ‘Mulheres de Areia‘ em 1993, ela teve sua imagem atrelada à beleza e sensualidade durante muitos anos, mesmo após ter passado pela Oficina de Atores da Globo e estrear como atriz no ano seguinte (em ‘Quatro por Quatro’). Para Mônica, os preconceitos dizem mais sobre quem os sente do que sobre ela, coisa que credita à herança da sociedade machista que vivemos. E agora, lançando seu primeiro filme, ‘Licença para enlouquecer‘, comédia estrelada por ela, Danielle Winits e Michele Muniz, a atriz sonha ainda mais alto. “Já penso nos próximos filmes, tenho uma série também. No momento, desenvolvo o projeto de um longa com o Tiago Santiago, ‘A rosa do carnaval‘, que conta a trajetória do sonho de uma menina de comunidade que deseja se tornar uma estrela da escola de samba local. Gosto de histórias com mensagens de superação, esperança. E com protagonismo feminino, o que me interessa muito. Estou feliz com essa primeira realização, aprendi muito, inclusive, para os próximos trabalhos. Com esse filme ocupo três lugares (atriz, roteirista e produtora) dentro de uma indústria ainda muito masculina, como a do audiovisual brasileiro”, comemora.

Sobre preconceitos, ela diz com tranquilidade. “Sinto isso desde que fiz as capas da Playboy e trabalhei explorando esse lado mais sensual. Sempre tive que me provar demais, mas nunca duvidei de mim e dos meus sonhos. Também nunca permiti que fizessem isso comigo. Sei o que quero, tenho determinação e procuro bons parceiros”. E revela uma situação constrangedora que vivenciou quando estava tentando levantar a atual produção:

Mônica Carvalho lança primeiro filme como realizadora, fala de preconceitos que enfrenta desde sempre na arte e anuncia novos projetos (Foto: Fernando Salles)

Mônica Carvalho lança primeiro filme como realizadora, fala de preconceitos que enfrenta desde sempre na arte e anuncia novos projetos (Foto: Fernando Salles)

Depois que escrevi o roteiro desse filme, apresentei para um diretor que gostaria que embarcasse no projeto. Ele leu e disse que meu texto era todo ruim, mas que tinha uma história e eu poderia fazer. Sou aberta, sempre quero aprender, trocar. Achei desrespeitoso. Ele poderia ter me orientado no que melhorar e não aproveitar a oportunidade pra emplacar algo dele – Mônica Carvalho

Sobre escrever

Aos 53 anos, Mônica deseja escrever ainda para as mulheres 50+, como ela. E aqui, recorda quando o ‘bichinho’ da escrita a pegou. “Meu pai sempre escreveu poemas e aquilo me chamava a atenção. Quando  comecei a fazer novelas, tinha a mania de pegar as sinopses com as secretárias dos diretores, tinha amizade com elas, que me passavam esse material escondido. Pegava aquilo e estudava, queria aprender, então me dedicava. Fiz um curso de roteiro há alguns anos, mas sou muito intuitiva e aprendi com a técnica de novela, sozinha com as sinopses e roteiros, sou autoditada. Por isso, senti que precisava de pessoas mais experientes ao meu lado, como a Michele Muniz e o Marcelo Corrêa. Nossa sala de criação se chama ‘M ao cubo’ (risos). Os dois assinam comigo o roteiro desse filme agora”, conta.

Michele Muniz, que atua e também assina o roteiro, Danielle Winits e Mônica Carvalho em 'Licença para Enlouquecer', que está nos cinemas do Brasil (Foto: Bruno Carvalho)

Michele Muniz, que atua e também assina o roteiro, Danielle Winits e Mônica Carvalho em ‘Licença para Enlouquecer’, que está nos cinemas do Brasil (Foto: Bruno Carvalho)

“Estudava as sinopses de novelas, mas não sentia confiança para escrever ainda. Depois que acabei a novela ‘Chocolate com Pimenta’, fiquei grávida (da filha Yaclara, hoje com 20 anos) e escrevi minha primeira peça ‘Roleta’. O Rômulo Estrela fez esse espetáculo, acho que foi um dos primeiros personagens em teatro dele. Depois escrevi ‘Amor, humor e outras bobagens’ e fiquei em cartaz com essa peça por três anos. Foi nela que comecei também a produzir. A partir daí, fui desenvolvendo textos e roteiros. Hoje tenho uma produtora”.

Lembro que um dia estava no cinema com o meu marido e disse pra ele: “Um dia você vai ver um filme meu nesta telona”. Eu já vinha levando ‘nãos’ há muito tempo sobre projetos que apresentava, mas desistir não é algo que faça na vida – Mônica Carvalho

"Fiz um curso de roteiro há alguns anos, mas sou muito intuitiva e aprendi com a técnica de novela, sozinha com as sinopses e roteiros, sou autoditada" (Foto: Bruno Passos)

“Fiz um curso de roteiro há alguns anos, mas sou muito intuitiva e aprendi com a técnica de novela, sozinha com as sinopses e roteiros, sou autoditada” (Foto: Bruno Passos)

Licença para transitar na arte

Com 15 novelas no currículo como atriz, sendo a última na Record, ‘Gênesis’ (2021), Mônica afirma que não deseja abandonar a atuação, mas confessa que o prazer do momnto está em escrever histórias. E dirigir, seria um próximo passo? “Não tenho o menor desejo disso. Os atores podem ser muito chatos (risos). Mas não é só por isso, claro. Dirigir é algo extremamente trabalhoso, é preciso ter uma visão geral para levantar tudo, com um outro timing, que não tenho. Chamo os diretores para ajudar a realizar meus sonhos, é melhor. Quero mesmo é escrever, principalmente para cinema e séries. Estou direcionando o caminho através do meu desejo, mas deixando a vida fluir sempre”.

"Gosto de histórias com mensagem de superação, esperança. Com o protagonismo feminino, que me interessa muito" (Foto: Bruno Passos)

“Gosto de histórias com mensagem de superação, esperança. Com o protagonismo feminino, que me interessa muito” (Foto: Bruno Passos)

Licença para enlouquecer

Na trama, por conta da pandemia, Sara (Mônica Carvalho), Lia (Danielle Winits) e Léia (Michele Muniz) precisam dividir um pequeno apartamento e aprender a conviver. Depois de receber uma proposta irrecusável, as três partem para a paradisíaca praia de Maragogi, em Alagoas, com o objetivo de animar uma festa secreta e mudar um pouco de cenário. “O filme fala sobre o lockdown. Não é sobre a tristeza da pandemia, aborda o período de confinamento e a realidade de que a partir dali tivemos que nos adaptar à uma nova vida, sem desistir. É essa a mensagem. A ideia veio de uma websérie que comecei a fazer na época, no Instagram. Tive um retorno muito positivo. Então, achei que dava pra investir no longa”, diz.

Michele Muniz, que atua e também assina o roteiro, Danielle Winits e Mônica Carvalho em 'Licença para Enlouquecer' (Foto: Bruno Carvalho)

Michele Muniz, que atua e também assina o roteiro, Danielle Winits e Mônica Carvalho em ‘Licença para Enlouquecer’ (Foto: Bruno Carvalho)

“Tenho orgulho desse filme, que levantei durante a pandemia, sem lei de incentivo, com a cara e a coragem. Levei a ideia para Maragogi (AL), porque o que criei era justamente isso: elas confinadas em um paraíso. Também queria retratar o nosso Nordeste, que sou apaixonada. A prefeitura local nos apoiou. Lembrei que estive ali há 25 anos gravando ‘A Indomada’, foi muito especial. Buscamos apoiadores, patrocinadores e o longa está aqui. É só o primeiro, outros virão”, determina.