*Por Brunna Condini
No Mês do Orgulho LGBTQIA+ buscamos trazer histórias inspiradoras e papos que nos levem além, facilitem a reflexão e o respeito à pluralidade de existências. E com a proximidade do 28 de junho, em que se celebra definitivamente o orgulho à diversidade, entrevistamos o ator Leonardo Bianchi que entre outras coisas, vive sua liberdade de ser na vida e na arte. Aos 31 anos, ele está na série ‘Dois Tempos‘, da Star+, streaming da Disney, na pele de Tiago, um empresário, que também é Drag Queen. “Viver uma drag, que antes passa pelo processo de se assumir gay, em uma série da Disney hoje, significa, principalmente, ver referências e ajudar a contar histórias sobre personagens que eu não via na televisão quando era adolescente. A trama de personagens gays sempre foi muito estereotipada, isso quando havia espaço para esse tipo de personagem. Então, interpretar neste trabalho um personagem gay que possui um arco narrativo complexo, com contradições, transformações e desejos, significa fazer parte de uma transformação no audiovisual e das narrativas que estamos contando”.
A pauta ‘diversidade’ já foi tão inviabilizada, que atualmente existir termos como ‘pink money’ e a ideia de que personalidades se aproveitam disso para ‘surfar a onda’ é algo que pensamos que nunca fosse existir, e isso me dá um sentimento de que alcançamos um lugar que muito vislumbramos – Leonardo Bianchi
E fala sobre a identificação com o personagem. “O Tiago está sempre a postos para ser eficiente e sem defeitos, e muitas vezes isso acaba deixando as suas próprias vontades em segundo plano. Ser perfeito aos olhos de quem? Pra ele, o que importa primeiro é a aceitação do outro. E, sendo gay, eu já me vi tentando ser perfeito em todos os aspectos, como se fosse uma atitude para me desculpar por ‘ser assim’, gay. Hoje percebo que essa necessidade de ‘ser exemplar’ em muitos aspectos, vinha de um pensamento de que, só assim, iriam ‘me perdoar’ por ser gay”, diz o ator, que também pode ser visto em ‘O Rei da TV’, onde interpretou o cantor Roberto Carlos.
Bianchi destaca pontos importantes sobre o que as pessoas ainda precisam entender em relação a orientações sexuais e de gênero em sua pluralidade. “A gente repete isso, mas é porque é o que faz sentido e precisa mesmo ser repetido até ser entendido: as pessoas precisam respeitar a orientação sexual e a individualidade de cada um. Quando uma pessoa diz que alguém é um gay que não incomoda, porque é um gay discreto, essa pessoa está sendo homofóbica, e eu cito isso porque ainda é uma frase muito comum na boca daqueles que se entendem como simpatizantes. Você não precisa ‘até ter um amigo gay’, você precisa é ter empatia e cair na real até entender que não cabe a você julgar ou colocar alguém em questionamento por conta da orientação sexual. E sobre ‘os gays que se beijam em público’, eles não mudam a orientação sexual do filho de ninguém por causa disso”.
Precisamos associar mais a presença LGBTQIAN+ a símbolos de empreendedores de sucesso, pessoas, sejam artistas ou não, com feitos inspiradores, além do mês de junho – Leonardo Bianchi
E resume: “A orientação sexual de alguém não é motivo para ter dedos, se comportar diferente e muito menos excluir qualquer pessoa. E o que não fazer, mesmo bem intencionado? Algumas frases muito ditas por homens héteros ao ‘fazer um amigo gay’, por exemplo: “se eu fosse gay, você me pegaria?” ou “só não dá em cima de mim que eu não gosto”, e também “mas você é discreto, não fica beijando outro cara na frente das outras pessoas”. São frases que, pode não parecer, mas são bastante ofensivas”.
Viver uma drag, que antes passa pelo processo de se assumir gay, em uma série da Disney hoje, significa, principalmente, ver referências e ajudar a contar histórias sobre personagens que eu não via na televisão quando era adolescente – Leonardo Bianchi
O ator carioca aproveita para chamar atenção para as lutas que ainda precisam ser evidenciadas. “Precisamos associar mais a presença LGBTQIAN+ a símbolos de empreendedores de sucesso, pessoas, sejam artistas ou não, com feitos inspiradores, além do mês de junho. É uma pauta que pode ser mais comum em nossas manchetes, não apenas no caderno cultural. E, pra isso, basta contar nossas histórias também nos outros meses, não somente neste”, observa.
Hoje o apoio à diversidade pode trazer benefícios financeiros para marcas (pink money) e até deixar personalidades ‘bem na fita’, ou seja, de uns tempos para cá, o combate ao preconceito, violência e discriminação, o apoio à diversidade e equidade, além de fundamental desde sempre, também pode ser rentável. Está valendo o apoio que tem também como objetivo a promoção de algo ou alguém? “Acho que a pauta ‘diversidade’ já foi tão inviabilizada, que atualmente existir termos como ‘pink money’ e a ideia de que personalidades se aproveitam disso para ‘surfar a onda’ é algo que pensamos que nunca fosse existir, e isso me dá um sentimento de que alcançamos um lugar que muito vislumbramos. Agora, é claro que envolve oportunismo, principalmente no lado comercial, então ações que só mencionam pessoas LGBTQ em junho, por exemplo, geram aquela dúvida sobre qual o real grau de comprometimento das chamadas marca amigas”.
Mira no protagonista
Ele também está em ‘Passagrana’, comédia nacional do Star+, que acompanha um grupo de atores de teatro que acabam roubando um banco sem saber o que estão fazendo. “Faço Fred, um ator que já fez muitos testes e só bateu na ‘trave’, então está em busca da primeira grande oportunidade no cinema. Isso faz com que ele queira ser sempre o melhor e ache que para isso, precisa se destacar em todas as cenas. A partir daí dá pra imaginar que em um plano de assalto, algumas coisas podem fugir do combinado (risos). É um filme com um roteiro muito diferente do que eu já tinha visto e inovador na forma de preparação. Estou muito animado pra ver o resultado final”, diz sobre o longa com previsão de estreia no segundo semestre.
Eu já me vi tentando ser perfeito em todos os aspectos, como se fosse uma atitude para me desculpar por ‘ser assim’, gay – Leonardo Bianchi
Sonhando ser ator desde criança, Leonardo fez Tablado, se formou em Cinema e estudou atuação em Las Vegas. “Sempre fui muito curioso e adorava procurar oficinas e cursos que eu achava que poderia reunir pessoas interessantes, acho que isso me possibilitou conhecer diferentes grupos e expandir as minhas ideias e possibilidades de atuação”, diz o artista, que também é criador de conteúdo nas redes sociais. E sonha ainda mais longe: “Quero contar histórias muito diferentes, e continuar trabalhando com profissionais que admiro. Fazer um protagonista também está nos meus planos”.
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