“Melhor encarar uma manada de búfalos do que essa live”, brinca Miguel Falabella ao falar de “Veneza”


Após problemas técnicos e mais de meia hora de atraso, live do filme “Veneza”, que seria apresentada por Dira Paes, é comandada por Carol Castro, que convidou a colega de elenco Danielle Winits e o diretor Miguel Falabella para participarem. Apesar dos percalços, a conversa foi descontraída. “Estou me sentindo a Teresa Cristina, rainha das lives”, divertiu-se Carol.

*Por Simone Gondim

Atraso, problemas técnicos, emoção, entrosamento e bom humor, com uma pitada de nervosismo. Pode-se dizer que a live sobre o longa-metragem “Veneza”, ainda inédito no grande circuito brasileiro, mas premiado no Festival de Gramado de 2019 e em eventos como o Los Angeles Brazilian Film Festival e o Brazilian Film Festival of Miami, era quase um set de filmagem. O combinado era que Dira Paes conduzisse o bate-papo, mas a instabilidade da conexão onde a atriz estava fez com que a colega de elenco Carol Castro assumisse a função. “Estou me sentindo a Teresa Cristina, rainha das lives”, divertiu-se Carol, diretamente do Uruguai, onde parte de “Veneza” foi filmado.

O filme conta com uma participação para lá de especial: a veterana Carmen Maura, estrela de vários trabalhos de Pedro Almodóvar. Na trama, ela é Gringa, dona do bordel onde trabalham Rita (Dira Paes), Madalena (Carol Castro) e Jerusa (Danielle Winits). A cafetina sonha voltar a Veneza antes de morrer, a fim de reencontrar um grande amor, e terá a ajuda das três mulheres e de Tonho (Du Moscovis) para tentar realizar seu desejo.

Durante a live, Carol e Danielle demonstraram todo o seu encanto com a atriz espanhola e generosidade dela em cena. “Só de observar Carmen Maura já era uma aula”, afirmou Carol. “Foi um presente para nós conviver com ela. A cena em que dançamos juntas ainda me emociona”, acrescentou Danielle.

Elenco de “Veneza” (Foto: Mariana Vianna)

O diretor Miguel Falabella também tinha histórias a contar envolvendo Carmen Maura. “Ao ler os diálogos, ela me perguntava o que eu tinha ouvido ao escrever aquilo”, lembrou. Ao escolher a atriz que faria a Gringa jovem, ele pediu ajuda à veterana. “Era para ser outra pessoa no papel, mas percebi que quem estava cogitada queria me dizer como dirigir o filme. Marquei uma conversa por chamada de vídeo e pedi para Carmen me ajudar a entender o que a mulher dizia. Ela ouviu um pouco, pediu licença para sair e, quando estava fora do alcance da câmera, olhou para mim e fez o gesto de quem corta a cabeça. Dispensei na hora”, revelou Miguel, rindo.

A versão mais nova de Gringa coube à uruguaia Camila Vives, que foi dublada por Carmen Maura para que não houvesse mudança no sotaque. “Camila é uma Claudia Cardinale jovem”, descreveu Miguel. O diretor também brincou com os problemas técnicos e o atraso antes de a transmissão finalmente começar. “Melhor encarar uma manada de búfalos do que essa live”, observou, com o humor ácido que lhe é característico.

Carol Castro vive a destemida Madalena (Foto: Mariana Vianna)

Os comentários bem-humorados do diretor dentro do set mereceram elogios Carol e Danielle. “Miguel nos leva do drama à comédia. É como uma dança filmar com ele”, recordou Carol. “Ele trouxe leveza para o que chamava de uma realidade desgraçada. Espero que possamos estrear nos cinemas ainda em 2020”, completou Danielle.

Falabella também assina o roteiro do longa-metragem, adaptado da peça homônima que levou aos palcos em 2003, baseada no espetáculo “Venecia”, do argentino Jorge Accame. “Queria fazer um filme que falasse de sonho, esperança e possibilidades”, explicou o autor e diretor. “Minha ideia era olhar as atrizes como divas italianas, as mesmas que me inspiraram lá atrás, quando eu morava na Ilha do Governador. Houve muita entrega durante as filmagens. Cada vez que revejo ‘Veneza’, gosto mais”, confessou ele.

Dira Paes é Rita, uma das prostitutas do bordel retratado em “Veneza” (Foto: Mariana Vianna)

Além de realizar o sonho de ter Carmen Maura na produção, Falabella satisfez outro desejo profissional: trabalhar com Dira Paes. “Sempre fui espectador da Dira e nunca havíamos feito algo juntos. Quando roteirizei a peça, tive certeza de que ela era a Rita”, comemorou. “É um elenco matador. O último close do Du Moscovis, por exemplo, me emociona. Esse filme não vai envelhecer, porque os sonhos não envelhecem”, ressaltou.

A trilha sonora de “Veneza” contribui para a poesia do filme. O diretor destaca a interpretação de Ludmilla, cantando pela primeira vez em espanhol. “Ela gravou lindamente o bolero ‘Pecado’. Falando assim, ninguém imaginaria isso”, elogiou Falabella. “Trilha e filme fazem um pas de deux“, complementou Danielle. “A história é contada meio fora do tempo e a música ajuda”, assegurou Carol.

Para Carol Castro e Danielle Winits, foi uma honra contracenar com Carmen Maura (Foto: Mariana Vianna)

“Veneza” foi feito em 28 dias, com locações no Uruguai e na Itália. Na trama, o bordel de Gringa fica no interior do Brasil, mas as filmagens não puderam ser feitas no país porque havia um surto de febre amarela no Rio de Janeiro e o médico de Carmen Maura não deixou que ela tomasse a vacina, inviabilizando a viagem. A mudança teve que ser a jato, em duas semanas. E essa não foi a única dificuldade da produção. Em Montevidéu, tempestades elétricas deram um susto na equipe. “Passamos por tudo de forma unida. Foi um encontro muito especial. Todas as situações caminharam para um lugar de família”, comentou Danielle Winits.

Carol Castro tinha um desafio a mais: amamentar a filha Nina, na época um bebê. “Foi meu primeiro trabalho após um parto natural, humanizado. A Madalena me ajudou a me encontrar como profissional e mulher. Foi uma jornada, na qual até a máquina de tirar leite quebrou. Mas todas as mães da equipe me entendiam muito, sempre tive ajuda”, explicou. “O clima do set era incrível e isso transpareceu na tela”, finalizou.

Uma das cenas de “Veneza” (Foto: Mariana Vianna)