*por Vítor Antunes
Com um público cada vez mais presente nas redes sociais, e nas quais elas acabam tornando-se uma vitrine para os artistas, Maurício Ribeiro, ator de “Reis”, teve a conta retida pelo grupo Meta – mantenedor do Instagram, Facebook e WhatsApp. “Disseram que eu estava postando vídeos editados. Meu Instagram estava tendo alcance de quase 5 milhões de pessoas e eu tive a minha conta bloqueada”. Na estreia da nova fase da trama, na última segunda feira, o ator – que também está na reprise de ‘Mulheres Apaixonadas‘, na Globo -, utilizou-se de seu Insta para divulgar a série, porém viu minguado o número de seguidores: um pouco mais de 500. Um grande contraste com o alcance numérico de sua antiga conta. O ator, inclusive, está acostumado a recomeços. Com a pandemia, viu-se obrigado a pensar num plano B para não ficar tão refém da escalação de elenco – coisa que não acontecia diante da paralisação das plataformas audiovisuais. O ator entrou numa nova faculdade e hoje cursa Produções Audiovisuais. Ele conta sobre como lidou com esta fase da sua trajetória: “Fiquei dependente dos direitos conexos. Ainda bem que fiz 10 novelas na Record e “Jesus” sempre está sendo reprisada, assim como “Cúmplices de Um Resgate“, do SBT”.
“Reis” não é o primeiro trabalho de Maurício na Record, mas o 11º e o quinto bíblico. “São preparações diferentes e eu gosto de fazer estes personagens. Agora, na nova fase de Reis”, vou viver um soldado, homem valente, aliado de Davi (Petrônio Gontijo), o que é algo diferente”. Ribeiro já deu vida a dois apóstolos, Tiago e André – em “Jesus” e “Milagres de Jesus“, respectivamente. Antes dessas obras épicas, o artista esteve na casa em obras contemporâneas e não-bíblicas, como “Os Mutantes” e “Alta Estação“, projetos que atendiam mais ao público infanto-juvenil, atualmente desassistido pela TV aberta: “Vivemos numa época cibernética, com muitos assuntos para serem abordados e esclarecidos, mas acho que com a abertura do streaming muito dessa galera migrou para novas plataforma. Acho que o público de TV aberta vai para outra faixa etária”.
Além da novela, Maurício está lançando um projeto musical chamado “Dias Bons“. “A música ficou guardada e por conta de uma demanda da faculdade, tivemos que gravar um clipe musical e optamos por fazê-lo, já que a música fala de coisas boas e positivas”. Ainda não há previsão de data de lançamento para este trabalho. Em paralelo, o artista mantém um projeto social em sua cidade natal, Juiz de Fora (MG), uma “campanha para recolher agasalhos e cobertores para moradores de rua. Já fizemos arrecadação de material escolar também. Há sempre algo voltado para o social”.
CADA VOLTA É UM RECOMEÇO
Na nova temporada de “Reis”, Maurício Ribeiro viverá o guerreiro Sibecai, braço direito de Davi (Petrônio Gontijo). O personagem tem grandes habilidades de guerra e será o responsável por matar o gigante Safe. O ator entra em “Reis – A consequência”, aproximadamente na segunda semana da trama. “Um guerreiro exige algo diferente, como uma postura corporal. Estamos fazendo workshop de espada, de como andar a cavalo, ainda que eu já soubesse fazê-lo. Mas há uma elegância que o personagem traz. Outro desafio está no próprio texto, em fazê-lo fluido, natural de modo a cativar o público.”
O corpo atlético do ator que vive guerreiro defensor do Rei de Israel foi (re) esculpido após a ansiedade e a incerteza que a pandemia gerou. Sem muitas oportunidades de colocação profissional, face à grande limitação imposta pela crise sanitária, o artista, que sempre manteve a boa forma, precisou cuidar-se com afinco: “Chegou um momento, ainda durante a pandemia em que mantive a paciência, me concentrei e me voltei para mim. Cheguei a pesar 97kg. Quando a crise sanitária foi chegando ao fim, me reencontrei comigo mesmo e perdi 20kg, já que com a ansiedade, passei a descontar na comida e entrei nessa bola de neve sem saída”. E a batalha não foi restrita a isto. “Minha mulher deu uma força neste sentido [financeiro]. Tenho dois filhos que moram com a mãe deles, no Ceará, e não tinham como vir nos visitar. Foi um período bem perturbador”.
“Reis” é o primeiro trabalho de Maurício na Record após o fim da pandemia. E na emissora dos bispos a parceria é longeva e recorrente, especialmente nas tramas bíblicas. “Gosto muito da casa. São 18 anos, onde estou desde 2005. Ela me deu a possibilidade de viver diversas personalidades como ator e não só viver o galãzinho ou o herói”.
[Na Record] já fiz de surfista a apóstolo – Mauricio Ribeiro
TEENS
Dois trabalhos de Maurício na Record dialogavam fortemente com o público teen: “Alta Estação” e “Os Mutantes”. O primeiro era uma tentativa de fazer, na emissora, uma espécie de “Malhação”, especialmente em face de Record estar querendo conquistar um público fortemente linkado à Globo e fase em que a vice-líder tentava conquistar a dianteira do Ibope. No entanto, a audiência de “Alta Estação” não vingou e a mídia atribui a isto o fim da novela jovem. Como esteve no elenco desta montagem, Ribeiro diz não haver sentido junto a eles uma cobrança nesse sentido: “Quando terminou, compreendemos ter sido uma opção da casa em colocar outro conteúdo. Entendíamos tratar-se da média normal de audiência, já que a trama tinha um público legal”. A própria novela tinha muito a ver com a atividade artística do ator pois “nela havia uma banda, fazíamos gravação ao vivo e nos divertimos muito”. Outro trabalho memorável é “Os Mutantes“, hoje um ícone cult. “[Lido bem com] os memes d’Os Mutantes. Ter dado vida a um super herói, combater os vampiros e ter poderes especiais era algo muito divertido”. Conta-nos ele que nas cenas em que os personagens voavam, eram, na verdade, içados por um guindaste. E, de igual maneira, gosta de saber que, por conta do sucesso, foi transformado em figurinhas de chiclete.
Outro trabalho atualmente em exibição no qual o ator esteve é “Mulheres Apaixonadas“. Na trama de Manoel Carlos ele deu vida a Fernando, um personagem secundário do núcleo jovem. “Foi um dos meus primeiros trabalhos em TV. Até então eu só trabalhava com teatro. Foi muito legal e importante e como decisão para poder me manter aqui no Rio, após eu haver saído de Juiz de Fora. Havia junto à minha família aquela cobrança frente às incertezas da profissão”.
A sorte é um elemento crucial por que poderia ter acontecido a qualquer outra pessoa. O início de carreira é dureza. Muitos dos amigos que vieram [do interior para a capital], de 10, 15 ficaram cerca de dois. Muitos foram desistindo pelo caminho. Hoje eu tenho 20 anos de carreira – Maurício Ribeiro
TRAJETÓRIA
Uma das experiências das quais Maurício viveu e que não passa pela dramaturgia foi o “Power Couple“, reality da Record. Na época da participação, o programa tinha outro formato, não tão fortemente ligado ao confinamento. Perguntamos ao ator como foi lidar com tamanha exposição, por não estar defendido através de um personagem: “Foi uma experiência legal, diferente, mas era outra dinâmica na época. Havia um tempo de gravação e não ficávamos expostos por 24h. Tínhamos privacidade. Gravávamos das 9h às 22h. Claro que era uma experiência conviver com gente de hábitos e costumes opostos aos nossos, mas não houve nada que tenha me causado uma grande dor de cabeça. E no início era era um outro formato, no qual os próprios participantes eliminavam e não havia tanta participação de público. Assim, os participantes mais fortes eram eliminados pois eram um risco para os seus concorrentes. Fomos desclassificados já próximos de receber os 500 mil reais”, disse ele, que na época participava do programa com a sua então companheira.
O ator, no entanto, não descarta a possibilidade de participar de um novo reality. “Já houve conversas. Quando eu estava sendo chamado para “Reis” fui sondado para “A Grande Conquista” [show atualmente na reta final na Record], mas devemos observar novas possibilidades mais à frente”.
Não dispenso a possibilidade, faria um reality , sim. Deixo os caminhos abertos – Maurício Ribeiro
Diante de tantas possibilidades, perguntamos ao ator qual o seu sonho de personagem. E ele foi aberto: “Tenho vontade de fazer todos, e personagens diferentes, com grande densidade dramática. Tudo o que não consegui viver ainda no palco ou na TV, e que fuja o óbvio. Um desafio”. E, como diria Milton Nascimento, “Se muito vale o já feito, mais vale o que será”.
Artigos relacionados