* Por Carlos Lima Costa
Os fãs de Maurício Mattar não têm do que se queixar. Além de estar com trabalho inédito, o Jasper, servo de Labão, na trama de Gênesis, na Record, ele é o Rei das reprises no momento. Todos podem conferir o trabalho do ator em variadas fases de sua carreira. “Nas redes sociais, todos comentam bastante e eu fico muito feliz. No canal Viva, está passando A Viagem, que bateu recorde de audiência nas TVs a cabo, em seguida O Salvador da Pátria, o seriado Mulher, e tem ainda Roque Santeiro. Já na Globoplay, tem Pedra Sobre Pedra, Porto dos Milagres e A Padroeira, e na Record, depois de Gênesis, vem a reprise de Topíssima, está bem bacana”, vibra ele
E prossegue: “Revejo meu trabalho com muito carinho, às vezes, crítico. Até me surpreendo, tem cena que fico olhando e pensando se conseguiria fazer dessa forma hoje. Acho que não. Eu adquiri novas formas mais precisas de interpretação. Agora, continuo sendo um ator muito intuitivo. Deixo a emoção à flor da pele por muito tempo, mais do que a técnica, mas claro que mesclo equilíbrio, razão e emoção. Acredito que na época tinha voo maior. Tínhamos diretores que eram parceiros da nossa interpretação”, frisa, citando Paulo Ubiratan (1947-1998), Walter Avancini (1935-2001), Gonzaga Blota (1928-2017), Roberto Talma (1949-2015), Wolf Maya, Jorge Fernando (1955-2019), Marcos Paulo (1951-2012), Daniel Filho e Paulo Afonso Grisolli (1934-2004).
“Eles tinham um estilo de dirigir, uma pegada com uma linguagem mais liberal. Hoje em dia, eu sinto que tem que fazer dentro do que o sistema quer. A linguagem na TV mudou muito. Costumo dizer que daqui a pouco se eu estiver sorrindo, vou ser processado, porque o mundo ficou, às vezes, um pouco mais chato também. Tem que ficar um pouquinho dentro do padrão. Você pegava artistas como Lima Duarte, por exemplo, nossa quantos personagens como o Sassá Mutema de O Salvador da Pátria, em que ousava fazer interpretações fascinantes”, ressalta.
No atual período, Maurício vem ficando mais em casa, seguindo à risca o que é preciso para enfrentar a pandemia. “Venho encarando com protocolos normais, quando saio uso máscara, álcool em gel, tento ficar distante das pessoas. Quando chego em casa do trabalho, boto a roupa para lavar, não entro com sapato em casa, enfim, o básico, o mínimo para a gente poder ter uma proteção. Já não saía mesmo, então, isso é tranquilo. Cada vez sou e fico mais caseiro. Gosto de curtir a natureza, os meus bichos. Tem uma guerra política, uma guerra televisiva, uma nuvem estranha que paira sobre tudo isso, que eu cansei um pouco de acompanhar. Então, vejo mais Netflix, fico mais com a minha filha, netas, gosto de curtir a família”, ressalta ele, que no final de julho vai ser imunizado com a segunda dose da vacina contra a Covid-19. Na família, a filha Petra, a avó de sua esposa e a cantora Elba Ramalho, mãe de seu primogênito, Luã Yvys, tiveram Covid, mas todas se curaram.
Como citou acima, Maurício vive uma fase familiar intensa em clima de “berçário”. Quando não está gravando, ele vem tendo um cotidiano mais leve, aproveitando o isolamento na companhia de Ilha, caçula dos quatro herdeiros, que realizou o sonho do ator de ter filho na maturidade. A neném, que nasceu em 21 de outubro de 2019, é fruto da união de cinco anos de Maurício com a administradora Shay Dufau, de 31 anos.
“Ser pai após os 50 anos foi maravilhoso, uma delícia, estou nas nuvens, porque era um sonho ter um filho temporão e veio uma menina, uma boneca linda, que está com um ano e oito meses. Foi maravilhoso, porque acabei passando este período de pandemia literalmente acompanhando o crescimento dela e, em seguida, meus dois filhos mais velhos me deram netas. Então, virou um berçário”, vibra. O cantor, compositor e produtor Luã Yvys, é pai de Esmeralda, nascida em abril do ano passado, e, recentemente, em 21 de maio, Rayra deu à luz Kayra, em Boston, nos Estados Unidos, onde está morando. “Quer dizer, a Ilha já é tia duas vezes”, diverte-se Maurício, pai ainda de Petra Mattar. Ele, aliás, por enquanto, só conhece a netinha americana através de fotos e vídeos. “Eu ainda não peguei nela. Rayra deve estar vindo ao Brasil em outubro”, explica ansioso para estar com a neném.
Quando se é pai mais velho o homem acaba sendo mais flexível na educação, tendo um comportamento mais de avô. Maurício explica o tratamento que dá à Ilha e à Esmeralda. “Sempre fiquei no pé dos meus filhos para me darem netos, não queria ser avô com idade avançada, com bengala, andando com dificuldade, trêmulo. Queria ter com vigor de poder curtir, ficar brincando. E na rua, passar alguém e perguntar se é meu filho e eu falar ‘não, minha neta’”, reflete.
E, ao traçar um paralelo do cotidiano com Ilha, em relação à criação dos outros três filhos, realça que, hoje, consegue viver a paternidade com mais intensidade. “No arroubo da juventude, na velocidade da correria profissional, fazendo uma novela atrás da outra, com carga grande de shows no Brasil e no exterior, após me lançar na música em 1994, não tinha como estar junto com o filho como venho ficando com a Ilha. Claro, tinha qualidade quando estava com eles, fazia força para estar, mas era totalmente diferente de hoje em dia. Pela idade, já não estou naquela velocidade, opto pelo que vou fazer. Então, tenho maior qualidade com a Ilha pela questão mesmo da vida”, explica, acrescentando: “Criei todos com a mesma cabeça, valores, educação, com os mesmos Sim e Não, questão de caráter, postura honesta com a vida e com as pessoas, o lidar com o próximo. Tudo que tive como referência de educação, de ser do bem, de ser prestativo, generoso dos meus pais, passo para meus filhos e vou passar para as minhas netas”, assegura.
A filha Ilha ainda não tinha dois meses de idade, quando Maurício, que é hipertenso, levou um susto em 15 de dezembro de 2019. Ele infartou, em Bauru, onde iria fazer um show corporativo. “Fiquei bastante assustado. Não consegui sair do quarto para descer para o evento. Estava com o coração disparado. Então, me levaram para Botucatu, para fazer cateterismo, pois a máquina em Bauru não estava em condições. E aí o médico falou que eu já vinha infartando há um mês silenciosamente e que mais para frente eu poderia ter sofrido um infarto fulminante. No momento que soube, a minha vida passou em uma velocidade grande”, recorda.
Em seguida, em São Paulo, realizou bateria de exames e a partir daí mudou um pouco a rotina. “Passei a tomar um remédio para a pressão e outro para acalmar os batimentos cardíacos, não deixar acelerar muito. Estou me alimentando bem melhor. Estava um pouquinho sedentário, então, voltei às atividades físicas. Graças a Deus, está tudo tranquilo, administrado. Depois de um ano tomando remédio, o médico disse que não tinha mais necessidade, porque estava em ritmo bacana de atividades”, conta.
Quando não está trabalhando, Maurício costuma ficar com a família na fazenda de um primo, em Minas Gerais, ou em Teresópolis, na Região Serrana, onde Ilha nasceu. “Fizemos o pré-natal lá. O friozinho é muito mais gostoso, sou um cara que não gosta muito de calor, a não ser que seja para ir à praia, piscina, cachoeira. Calor para trabalhar é horrível. Agora não estamos conseguindo ir com muita frequência, por conta da gravação de Gênesis”, explica.
Mesmo com toda experiência paterna, Maurício já trocou figurinhas com o primogênito em relação à criação das filhas dos dois. “Mesmo na pandemia, fizemos mesversário da Esmeralda, então, todos os meses nos encontrávamos, eu, Shay, Luã, Amanda, esposa dele, as irmãs, Marias, na casa da Elba. Era sempre esse núcleo. Assim foi até um ano e aí sempre trocamos as informações. E o Luã é mano dindo. Fizemos uma cerimônia linda de batizado na Igreja de São Conrado”, explica Maurício que costuma cantar para Ilha dormir como fez com os outros. “A música é muito importante como informação de ninar. Tem uma que cantei para os quatro, Coqueiro de Itapoã, do Dorival Caymmi (1914-2008). Com ela eu ninei a Petra, a Rayra, o Luã e, agora, a Ilha”, conta. Fez música para todos e, no momento, vem compondo uma para Ilha, além de outras canções. Maurício não vem podendo realizar shows por conta da pandemia, mas promete que “vão vir boas surpresas depois que tudo melhorar”, diz.
Maurício, que está com 57 anos, garante que a passagem do tempo não o incomoda. “Não penso muito sobre essa questão de idade. Eu vou vivendo o presente com a qualidade que eu acho certa. Sou um cara que pratico esporte e me alimento muito bem. Eu voo há mais de 30 anos de asa delta, faço voo livre, sou de uma geração que gosta do esporte, surfo, velejo, adoro andar de bicicleta, luto jiu jitsu, sou faixa preta. O que importa na gente é a cabeça, o estado de espírito. Vou chegar aos 60. Evandro Mesquita está aí maravilhoso, tem quase 70, Kadu Moliterno também (os dois estão com 69 anos), o cara vive de saúde, boa alimentação. Os dois são exemplos. Eu quero ser mais um desses. Quero ter saúde e cabeça boa. Quero chegar pelo menos na idade da minha mãe (Liedir), que vai fazer 83, no próximo dia 3, com o vigor e a cabeça dela, vou estar no lucro”.
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