Mateus Solano, no elenco de ‘Elas por Elas’, fala dos 10 anos de Félix: “Temia-se a vilanização do gay”


Mateus Solano vive Jonas em “Elas por Elas” na trama de Cassiano Gabus Mendes, o personagem estará envolvido numa misteriosa troca de bebês. Mas, sobretudo, Mateus enfatiza o fato de ter uma protagonista trans – como em “Elas por Elas” – dez anos depois de ele ter vivido um gay com destaque na novela “Amor à vida” chegar até de forma tardia. “Já não era sem tempo. Um país tão diverso como o nosso ser recorde em em assassinato de pessoas trans e da comunidade LGBT é uma vergonha. O Brasil tem essa televisão potente e essa responsabilidade. O povo tem mais acesso a televisão do que à educação e por isso eu acho que nós carregamos essa responsabilidade”

*por Vítor Antunes

Mateus Solano está no elenco de “Elas Por Elas”, novela que estreou hoje e cercada de expectativas. Não apenas diante do fato de ser uma estreia, mas a releitura de uma obra clássica. O ator diz que o exercício de refazer um projeto do panteão desta novela “é algo como pensar numa oportunidade de fazer comparações. Mas o grande barato dessa trama é pensar sobre o que é ser ‘Elas por Elas‘ hoje”, ressalta, diante da época em que os conflitos mudaram”. “Elas por Elas” estreou nesta última segunda feira e com boa audiência. O primeiro capítulo assinalou 19,3 pontos, ao passo que a Record marcou 9, ou seja, um pouco além do dobro. E a novela encontrou um bom acolhimento junto à crítica especializada, que estava temerosa da adaptação.

Dez anos após a exibição de “Amor à Vida“, que constava na semana passada como o décimo dos produtos mais consumidos na Globoplay, Mateus Solano faz um balanço sobre Félix, personagem que ajudou a solidificar seu nome entre as estrelas da Globo, mesmo fazendo um personagem homossexual e co-protagonista, numa época em que isso era incomum de ser levado às telas: “No início havia um medo de que se estivesse vilanizando o homossexual. (…) A orientação sexual não fazia dele algoz, mas sim, o fato de não ser aceito”.

Elas por Elas. Novela respondem bem na exibição do seu primeiro capítulo (Foto: Divulgacao/Globo)

O TEMPO E A LIÇÃO

Quarenta anos separam a versão original de “Elas por Elas” da atual.  Para ser mais exato, quarenta e um. No início dos Anos 1980 os conflitos e a emancipação feminina iam por caminhos diferentes dos atuais. E é daí que urge a necessidade de atualização da novela. É o que fala Mateus Solano: “Em 1982, pensar numa novela que daria protagonismo às mulheres, implicaria em trazer quais assuntos? Se casou ou não – e em caso negativo, quando casaria. Outro debate seria a existência ou não de filhos. Já hoje é a mulher no mercado de trabalho lutando pra  ser reconhecida pra ter seus direitos iguais.  O lugar é outro. Eu acho que isso é uma super oportunidade de debater e estar ali atrás delas”.

Mateus Solano (Jonas) e Thalita Carauta (Adriana) viveram uma história de amor em “Elas por Elas” (Foto: Globo/Divulgação)

Dez anos são o que separam Félix, um dos mais importantes personagens de Mateus Solano, do tempo presente. O personagem tornou-se símbolo da militância LGBT, ainda que fosse muito controverso. Perguntado sobre isso, Mateus diz que “no início da novela o medo das pessoas era que vilanizassem o homossexual, mas absolutamente não foi isso que aconteceu. Claro que ele era era um vilão e homossexual mas isso evidenciava o quão vítima ele é. Ele  era o algoz, não por ser gay mas por não ser aceito como homossexual”.

Infelizmente a história vive em soluços. São dois passos um pra trás. A gente pode tá sentindo que tá dando um passo pra trás, mas eu tenho certeza que os próximos vão ser três pra frente.

Para Matheus, o fato de ter uma protagonista trans – como em “Elas por Elas” – dez anos depois de ele ter vivido um gay com destaque na novela das 21h chegar até de forma tardia. “Já não era sem tempo. Um país tão diverso como o nosso ser recorde em em assassinato de pessoas trans e da comunidade LGBT é uma vergonha. O Brasil tem essa televisão potente e essa responsabilidade. O povo tem mais acesso a televisão do que à educação e por isso eu acho que nós carregamos essa responsabilidade. É muito bonito ver a tela da TV mais colorida e inclusiva”, celebra.

Mateus Solano foi Félix em “Amor à Vida” (foto: Divulgação/Globo)