Depois de ter entrado meio de surpresa na segunda fase de “Império”, assumindo o papel de Drica Moraes na pele da vilã Cora, Marjorie Estiano agora está volta às telinhas da Globo e com uma personagem que não poderia ser mais oposta à sua anterior: Mariana de Santanna, a “carola” de “Ligações perigosas” que servirá se peão para o xadrez de interesses que os vilões vividos por Patrícia Pillar e Selton Mello pretendem jogar ao longo da trama adaptada por Manuela Dias e dirigida por Vinícius Coimbra. Em bate-papo com HT, a atriz falou sobre a construção em torno de sua participação na minissérie, que estreia no próximo dia 4, as dificuldades das filmagens e até um fantasma argentino que resolveu assombrar uma locação. Como assim? Vem, que explicamos.
“A graciosidade da personagem agrega ao conjunto. Fazer a transição de um aspecto para o outro e dar nuance com todas as contradições dela forma uma personagem muito difícil, principalmente pela pré-concepção do que é uma devota. Eu não queria fazer um estereótipo da enganada ou da traída, então busquei uma ingenuidade de quem vê e acredita que pode dar conta daquele problema, mas não de quem não vê ou nega o que está acontecendo. Essa é a construção da Mariana: uma mulher inteligente, que percebe os outros, sobretudo na época em que a elite vivia de entretenimento e ela se dedicava à caridade. Acho que esse aspeto já diz muito sobre a personalidade dela”, explicou Marjorie sobre sua personagem, que promete intrigar o público com suas camadas psicológicas, tão densas quanto as dos outros nomes na trama.
Por sinal, nada de achar que Mariana de Santanna é uma santa. Ao ser questionada, Marjorie inclusive admitiu que vê muitas semelhanças entre sua personagem e Isabel D’Ávila de Alencar, a inescrupulosa e sedenta viúva interpretada por Patrícia Pillar. “Não acredito que ela seja uma antítese de Isabel, elas até compartilham alguns traços. Há uma cena em que a Mariana recontextualiza a religião em torno do que ela quer e do que ela precisa que seja aceito dentro da sua cabeça”, lembra a atriz. “Algo que se destaca nela é essa intensidade nos extremos, onde ela tem convicção plena de determinados valores e ela se entrega à proposta daquilo. Isso é um universo de tensão constante. O que eu mais quis buscar nela e que eu talvez não tivesse de forma tão exuberante foi uma amplitude de movimentos, uma delicadeza de comportamento e tolerância que eu acredito ser relativamente distante de como eu me reconheço. Essa foi a busca por uma textura diferente dentro de mim mesma”, avaliou Marjorie Estiano.
Essa textura também transparecerá em uma sequência de cinco episódios, na qual Mariana de Santanna decide se enclausurar e, aos poucos, definha de amor e solidão em seu santuário próprio. Para Marjorie Estiano, esses cinco dias de gravações foram os mais desafiadores: “O desgaste é inevitável. É algo emocional que também te consome fisicamente. Você busca uma determinada qualidade de movimentos, um certo peso, que machuca. Esse processo foi extremamente desgastante. O Vinícius (Coimbra, diretor) perguntava se eu queria ver ou repetir alguma cena e eu entregava tudo nas mãos dele, porque eu não tinha mais nenhuma condição de avaliar nada”, desabafou.
Mas entre pesos emocionais e frios congelantes na Patagônia, as gravações de “Ligações perigosas” ainda conseguiram unir o elenco e gerar boas histórias de estrada. Uma das mais contadas pelos atores foi o medo de fantasmas que Marjorie Estiano sentiu ao filmar em um casarão argentino. “Nós fomos para uma locação por volta de 1h, onde nós ficaríamos hospedados, mas era uma casa antiga, com espelhos gigantescos, de 2m de altura, e estruturas de metal que deveriam pesar toneladas. Isso sem falar nos quadros em preto e branco com crianças felizes e mulheres do século XIX, enquanto nós chegamos no escuro! Eu falei: ‘Não vou ficar aqui!'”, riu, enquanto Selton Melo passava do outro lado do salão e brincava: “Fala a verdade, Marjorie!”.
A atriz continuou, explicando como fez para “superar” o medo: “Nós escolhemos os quartos juntos e eu pedi para ficar no que fosse mais perto da porta. Não que adiantasse muito, porque a locação também ficava a quilômetros do centro. Confesso que fi bem aterrorizante. Não dormi no primeiro dia, dormi um pouquinho no segundo e, depois, eu fui me acostumando. Eu até estabeleci um contato com o quadro de uma criança”, brincou.
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