Marisa Orth diz que a sociedade moderna está “emburrecendo” e debate a maturidade e alcoolismo em peças teatrais


A atriz está dose dupla no teatro: nas peças “Bárbara” e “Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada”. Além dessas montagens, Marisa poderá ser vista na série “Body by Beth”, da Warner, e que vai ao ar na TNT, na qual faz a protagonista. Entre as perguntas que Marisa não aguenta mais responder, está a sua passagem pelo BBB, como apresentadora, em 2002. Contemporaneamente, há a dita de que Magda, sua personagem em “Sai de Baixo”, foi uma mulher silenciada pelo machismo. Ao ver da atriz “não seria uma problematização, mas uma burrice. A Magda é uma crítica e, sim, compõe a luta feminista, não é o contrário”

*por Vítor Antunes

Atemporal. Por mais que passem os anos, Marisa Orth continuará sendo chamada a falar sobre Magda, sua personagem de “Sai de Baixo”. Hoje em dia, Magda, porém, ganha outro contorno. Há quem a problematize, dizendo que há uma possível invisibilização ou silenciamento da personagem, famosa por insistentemente ordenada a calar-se. Marisa Orth, porém, não a problematiza, mas aos problematizadores – se assim é possível dizer. “A Magda é uma personagem em primeiro lugar. Ela serve para jogar luz sobre as mulheres silenciadas e idiotizadas. Ela já era um manifesto, já era uma crítica. Se confundem isso com a realidade, as pessoas que são pouco inteligentes, convenhamos. É algo como dar um tiro no bobo da corte ou prender o menino que diz que o rei está nu. E eu sinto muito pela falta de inteligência dessas pessoas, que não acho que as pessoas estejam enlouquecendo, mas emburrecendo. Nem tudo é loucura e não admito que falem mal de louco!”

Marisa foi uma das apresentadoras da primeira edição do Big Brother, cuja passagem foi polêmica. Perguntamos à atriz sobre qual assunto ela não aguenta mais falar e foi cirúrgica: “Isso, do BBB e do “Sai de Baixo“. Aconteceu há mais de 25 anos. A Magda eu adoro, é mais legal falar sobre ela do que sobre ter sido apresentadora do BBB, que foi uma brevíssima e triste passagem. É melhor falar de sucesso do que de fracasso. Mas vejo nesse resgate ao Big Brother um tanto de crueldade das pessoas, já que minha carreira é bem sucedida”. Ainda segundo ela, “o BBB não pode ser considerado o meu maior fracasso, porque foi algo incipiente demais”.

O que deve estar em pauta e ser criticado é o humor excessivamente agressivo, pautado em cima de bullying, sobre pessoas reais – sejam eles gordos, mulheres chamadas de burras ou gays. Óbvio que sou contra isso, contra reforço de preconceito. A arte não serve só para a gente amar e enfeitar. Ela deve ser crítica também, denunciar, mostrar. O humor é muito poderoso como denúncia. Quando não pudermos falar mais nada isso vai gerar o efeito contrário. Seremos hegemonizados e controláveis – Marisa Orth

No teatro, Marisa está com duas peças em cartaz. Uma delas é “Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada“, dos autores uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal, numa versão dirigida por Odilon Wagner e protagonizada por ela e Tania Bondezan. Outra é “Barbara“, uma peça baseada na obra “A Saideira: Uma dose de esperança depois de anos lutando contra a dependência”, de Barbara Gancia. “Parece que estou com peça de repertório”, diz ela, referenciando-se ao Teatro Brasileiro de Comédia paulistano, que mantinha essa característica. A artista transita entre o drama profundo e a tragédia desesperada. Conta-nos ela que o novo espetáculo, “desgraçadamente engraçado. Tem um astral patético, que promove a mistura de riso e choro, tal como no estilo Besteirol. As personagens são derrotadas, mas ainda assim nos acabamos de rir delas”. Ao fim do ano, ela também fará a remontagem de “Fica Comigo Esta Noite“, com Miguel Falabella, para comemorar os 100 anos do Teatro Tivoli, em Portugal.

Miguel Falabella e Marisa Orth em “Sai de Baixo” (Foto: Reprodução/Globo)

ADULTOS PLUS

Uma das peças de Marisa é “Radojka”. Nesta, duas mulheres maduras são cuidadoras de idosos, traz à tona a maturidade e o etarismo. “Elas são mulheres maduras, ou melhor, adultas plus. Fazia tempo que eu não mergulhava em um texto tão bom e que, sobretudo é adequado para mulheres da nossa idade. Nossas personagens cuidam de uma paciente com 97 anos”. Sobre o preconceito às pessoas maduras, Marisa Orth aponta que “o mundo tem que debater e criar dramaturgia a nós. A idade média das pessoas aumentou, a faixa do público também. Além de tudo é um é um grande prazer trabalhar com a Tania Bondenzan, já que tinham-nos como parecidas. Temos uma química boa”.

Além dessas montagens, Marisa poderá ser vista na série “Body by Beth“, da Warner, e que vai ao ar na TNT, na qual faz a protagonista. “Barbara” e “Radojka” vão fazer temporada nacional. E é uma vontade da atriz voltar com “Romance”, musical protagonizado por ela com músicas românticas de várias tessituras. A atriz, que foi uma das cantoras à frente da banda Luni, da vanguarda paulistana dos Anos 1980 – e que chegou inclusive a cantar o tema de abertura da novela “Que Rei Sou Eu” (1989), diz sentir falta de grupos assim. “Acho que tudo deu uma encaretada, tudo hoje está meio separado, como o drama da comédia e a dramaturgia da música. Hoje se entende que música tem que ser pop, tem que ser para dançar, que ter refrão, que entreter, ou ser jazz ou rap”, analisa.

Tania Bondenzan e Marisa Orth estarão em “Radojka” (Foto: João Caldas Filho)

Porém, pondera que hoje “tem coisas boas e criativas. Não quero ficar sendo ‘a velha que diz que não se faz mais música como antigamente'”. E também que “ainda que hajam cantores tidos como bregas ou bregas raiz. Hoje o brega reside nos maravilhosos Joelma, Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro. Eu amo! Amo sofrência, que é assumidamente brega… A música e a vida estão aí, não ficam paradas. E eu gosto de misturar tudo. Tanto que o meu maior sucesso na TV é Magda, do “Sai de Baixo“, que era teatro”. Luni, a banda que ela participava também transitava com dramaturgia e música.

CALA A BOCA, MAGDA?

Contemporaneamente, junto ao debate sobre o espaço conferido à mulher, alguns grupos feministas vêm apontando o que seria o “silenciamento de Magda”, que além da pouca inteligência era sempre calada por seu marido, Caco (Miguel Falabella). Perguntada sobre como vê esse debate, Marisa diz: “Bem, existindo isso, não seria uma problematização, mas uma burrice. A Magda é uma crítica e, sim, compõe a luta feminista, não é o contrário. Eu me considero mais feminista e consciente por causa dela. Criticá-la é algo como fingir que não tem mulher imbecil. Isso não vai nos ajudar como mulher”.

Formada em Psicologia, a atriz nunca exerceu a profissão. Segundo aponta “isso sempre me ajudou muito e só cliniquei na época da faculdade. Acho que há um talento específico para ser psicóloga. O meu é em ser paciente. Usei esse estudo como ferramenta de saúde mental para ser uma pessoa melhor, uma pessoa legal”. Mas, parafraseando a frase que tornou Magda famosa, no qual era mandado que lhe calasse, Marisa diz que em seu epitáfio haverá a frase “Enfim, calada”.

Marisa Orth em “Sai de Baixo”: “Magda era feminista” (Foto: Divulgação/Globo)