Marieta Severo não está nada satisfeita com os rumos que o presidente interino, Michel Temer, tem dado para o nosso país. Engajada nos protestos dos artistas no #OcupaMinC e contra o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, a atriz de 69 anos se diz indignada com a situação, mas acredita que o momento é de reflexão para os brasileiros. Em entrevista exclusivíssima ao HT, Marieta, que finaliza a turnê de “Incêndios”, neste domingo, em Campinas, no interior de São Paulo, contou que viu sua classe humilhada.
“Quem achou que estava lutando contra os artistas que ‘mamam nas tetas do governo’ e essa coisa toda que se criou, que é humilhante, injusta e cruel, vai cair por terra. As leis do MinC, que estavam cheias de defeitos e precisavam ser aperfeiçoadas, serão reforçadas da forma que estavam e de qualquer maneira. Essas pessoas não entenderam que só estão dando força para a continuidade daquilo que nós, artistas, queríamos corrigir”, reforçou a atriz. “Estamos em um momento muito conturbado e dramático da nossa história. No entanto, eu também acredito que esse seja um momento de consciência para muita gente. De repensar um pouco mais profundamente e não embarcar em canoas que ninguém sabe onde vão dar”, refletiu. “De repente, surge uma bandeira contra a corrupção levantada em prol de corruptos. É uma loucura! O momento exige reflexão para parar e pensar que fomos nós que elegemos essas pessoas. Aquele pessoal que está lá, está para nos representar. A luta contra a corrupção é de todo mundo. Não pode ser usada como bandeira. É um momento delicado e doloroso”, avaliou Marieta.
Há algumas semanas, o Ministério da Cultura foi extinto da pasta governamental, gerando comoção na classe artística e protestos pelo país. No entanto, depois de muita resistência, Michel Temer decidiu recriar o MinC sob administração do então Secretário de Cultura do Rio de Janeiro, Marcelo Calero. Apesar disso, Marieta Severo acredita que é preciso uma reforma, principalmente no que se diz respeito à dualidade da Lei Rouanet. “O MinC era ótimo. Muitos debates foram feitos para aperfeiçoar a Lei Rouanet, só que agora virou ilusão para quem achava que ela seria aperfeiçoada. Falando do teatro, 86% do que é captado pela lei vai para quatro grandes companhias que fazem musical. Será que o público sabe disso?”, questionou ela.
“Essas são distorções, que estavam sendo corrigidas por Juca Ferreira (ex-ministro) através do que seria o pró-cultura. A Rouanet deve, sim, ser aperfeiçoada. As leis são iguais aos seres humanos, vão aprendendo e evoluindo. Acho ótimo o MinC ter voltado, acho fundamental que exista o Ministério da Cultura. Briguei e lutei por isso, mas não só por isso. Eu também luto pela legalidade. Porque nós estamos em uma interinidade de alguém que acha que foi eleito, mas o olhar não deve ser só pela volta do MinC, acho que é muito maior”, afirmou. “O que nós queremos é construir um país junto da saúde, junto da educação, mas dentro de um governo legítimo. Não queremos isso em um governo ilegítimo. Nós não reconhecemos esse governo”, disse.
Durante o papo, a atriz revelou que, além de “Incêndios”, está prestes a rodar dois filmes para o ano que vem. “Eu termino a excursão da minha peça neste domingo em Campinas, e vou tirar férias e aguardar para ver algo para a televisão. Mas também tenho dois projetos no cinema. É um filme do André Ristum, que conta histórias muito delicadas que se entrecruzam na cidade de São Paulo. Histórias muito lindas e eu estou numa dessas histórias. A gente deve filmar em agosto. E, para o ano que vem, tem mais um longa, mas está muito no início da produção”, adiantou ela, que ainda falou sobre a admiração que sente em relação à nova geração de mulheres da Brasil. “Estou com o maior orgulho de ver que essa geração retomar a bandeira do feminismo, que é uma bandeira muito importante. Tem muitas conquistas e muitas coisas ainda a ser conquistada, mas ver essa retomada do empoderamento com tanto garbo e alegria é emocionante. Está vendo como as coisas evoluem e são aperfeiçoadas o tempo todo? O movimento feminista é uma prova disso”, finalizou a atriz.
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