*Por Brunna Condini
Quando Mariana Ximenes completou 40 anos em abril, os planos eram outros. A atriz gosta de reunir os amigos na data, mas precisou receber o carinho de longe e não se queixa. “Os 40 chegaram em um momento pandêmico, de recolhimento e muitas reflexões: estou mais ‘eu’, mais inteira. Estou viva, fazendo o que gosto. Eu amo viver. Então, comemorar mais um ano de vida é uma alegria enorme para mim. Ano que vem espero poder celebrar essa data rodeada de amigos e familiares. Falei para o meu amigo Zeca Pagodinho que gostaria de uma festa em Xerém!”.
Até isso acontecer, Mariana tem trabalhado, curtido a maturidade, que vem dando o ‘ar da graça’ através da quietude e das escolhas, e vivido um dia de cada vez. Quem vê a atriz hoje – uma das mais talentosas e requisitadas da sua geração – não imagina que ela já chegou a ter dúvidas sobre a profissão. “Estar sozinha em uma cidade nova, aos 17 anos, foi um grande desafio. Eu era adolescente e me mudei de São Paulo para o Rio de Janeiro para trabalhar. Vejo como um momento de muita coragem e de certeza sobre o ofício que escolhi. A profissão de atriz não é estável, então é normal ter dúvidas ao longo do caminho. Mas o medo não pode ser paralisador, e, sim, motor! Claro que tinha inseguranças do tipo: ‘como será o próximo papel? Será que vai aparecer? Será que vou dar conta? Em nosso trabalho, a batalha nunca está ganha. Cada experiência é nova, um abismo…mas isso é maravilhoso! Estamos em constante prontidão para nos provocar, evoluir, transformar e aprender”.
Passado o tempo, com mais de 20 produções na TV e aproximadamente 30 filmes no currículo, além de muitos prêmios, a Mariana de 40 anos avalia o que diria para a de 17 anos: “Tenha menos ansiedade, mas viva intensamente, sempre, aproveite as oportunidades, se conecte com a natureza, medite, escute sua intuição, faça exercícios e cultive amizades! Os amigos são o sal da vida, como dizia Jorge Amado!”.
No ar, na TV, como Luísa, a Condessa de Barral, paixão de Dom Pedro II (Selton Mello), na novela ‘Nos Tempos do Imperador‘, ela garante que só tem a celebrar o caminho até aqui. “Ninguém tira minha história, o meu aprendizado. Aprender com os erros, a escutar, a viver o momento presente. Aprender a se sentir bem sendo quem você é. Não é um processo fácil se olhar, se encarar com franqueza, mas é algo que muda a nossa vida mesmo, porque não ficamos mais tão suscetíveis à opinião alheia. Quando a gente sabe quem é, fica mais segura de si e das decisões que toma e isso traz paz!”. E acrescenta: “Tenho alma intensa, gosto de gente, acredito que é possível um mundo mais igualitário e justo, acredito no futuro e que vale a pena lutar sempre! Sou uma mulher que sonha e que corre atrás para realizar seus sonhos!”.
Limites para o amor?
A atriz vem emprestando sua paixão para mergulhar em personagens potentes. Seja no papel da libertária e progressista condessa da novela das 18h na Globo, ou na pele da repórter Manoela no longa ‘L.O.C.A. – Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor’, que se junta ao grupo de apoio às mulheres que amam demais. “Acho que são mulheres que podem inspirar outras por algumas atitudes. Seja na luta contra opressões, seja na coragem de expor seus erros, na força para se levantar, ou falar sobre relacionamentos tóxicos, sobre assédio. Sobretudo de lutar pelo que acreditam. No filme “L.O.C.A.”, têm situações muito divertidas que provocam reflexões por meio do humor. Vale assistir!”, convoca.
Ela revela ainda o que não acredita ser saudável no amor: “Uma relação tóxica pode se manifestar de diversas maneiras: quando a outra pessoa não a valoriza ou a manipula. Ou até mesmo quando você se torna dependente de alguém e acha que a vida só tem sentido com outra pessoa. É preciso ligar o sinal de alerta. Não só porque você passa a viver a vida em função de outra pessoa, mas você se sujeita a algo para caber naquele lugar que pode te fazer mal, que pode te distanciar de quem você de fato é. Fico sempre atenta para não deixar chegar nesse tipo de relação. Faço análise há anos e tenho amigos e familiares muito presentes na minha vida”.
Apesar de tudo, amanhã há de ser outro dia
Amiga do ator Paulo Gustavo, que morreu em maio, em decorrência de complicações da Covid-19, Mariana lamenta como se deu a política de enfretamento ao vírus no país. “Paulo foi uma perda muito difícil! Amigo querido e um artista de uma grandeza absoluta. Perdemos todos, porque o Brasil ficou sem um dos maiores realizadores de todos os tempos! Também perdi outro grande amigo, meu compadre, tinha 39 anos e um filho de 3. Muita gente se foi. É uma tristeza sem fim. E pensar que se tivéssemos um governo mais preocupado com seu povo muitas mortes poderiam ter sido evitadas. Me causa indignação e apreensão viver em um país com tanta gente preconceituosa, que nega a importância da ciência, que acredita em fake news, que não apoia a arte e a cultura, que vê sua história e memória cultural sendo queimadas em uma tragédia anunciada”.
Mariana também faz um balanço sobre esses quase dois anos de maior recolhimento por conta da pandemia: “O mais difícil foi ficar afastada fisicamente das pessoas, não poder estar direto na natureza, que é algo que eu amo e que renova minhas energias. Foi difícil também ver o descaso com a pandemia, com as pessoas em situação de vulnerabilidade. Foi extremamente difícil ver as pessoas que morreram por causa da doença. Perdi pessoas próximas e foi um baque muito grande. Não consigo nem descrever os sentimentos, porque são tantas emoções que passam pela cabeça nesse processo de luto. Estamos todos vulneráveis e cansados. Mas me recuso a não ter esperança. Tomei a vacina e me emocionei muito, porque é um símbolo de futuro tão grande, né? Que todos as pessoas se vacinem e que continuem usando máscara, álcool em gel. Precisamos nos cuidar para cuidar também do outro e ter esperança em sociedade mais igualitária, mais justa”.
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