*Por Brunna Condini
Racismo, machismo e xenofobia. Mariana Nunes compartilhou com seus seguidores no Instagram esta semana episódios de preconceito a discriminação que sofreu em sua ida à Lisboa, Portugal para o lançamento por lá de ‘Todas as Flores‘, novela Globoplay. Nada relacionado ao trabalho, que segundo a atriz correu super bem. Mariana tem nossa total solidariedade, e aqui tentamos resumir um pouco dos dois vídeos postados por ela. “Isso aconteceu há uma semana e só vim revelar agora, porque falei com meus advogados e me sinto mais tranquila. Quando sofremos algum tipo de racismo, discriminação, ficamos com medo, pensando se aconteceu mesmo, muitas coisas passam na cabeça”, frisa.
“Bem, depois do lançamento da novela, fiquei mais um dia de folga. De manhã estava passeando de barco no Rio Tejo e à noite na delegacia do aeroporto. Vou contar o porquê. Fui ao aeroporto no final do dia para dar um beijo em uma amiga e na volta peguei um táxi. O motorista disse que o carro não estava bom, mas dava pra chegar. Fiquei com medo, mas segui. Estava insegura por conta do carro e fiz algumas perguntas para ele, que foi ríspido e não foi profissional. Voltou comigo para o aeroporto, saí do carro e bati da porta. Ele veio atrás de mim e disse que só não me batia, porque eu não era homem. Acabei procurando a polícia para denunciar. Sai de lá arrasada, dei queixa, decidi ir até o fim, porque se não fizermos isso, não muda. Acho que não vai dar em nada, mas enfim. Foi assim que passei minha última noite lá”, contou.
E continuou, em um segundo vídeo: “Acordei e fui para o aeroporto, era a primeira vez que viajava de classe executiva. Chegou a hora do almoço e o comissário de bordo veio e me disse: ‘Vamos almoçar, morena?’. Eu ainda achei que ele podia ter dito Mariana e perguntei o que havia dito, e ele: ‘Morena, como vocês falam no Brasil, neguinha’. Não acreditei, mas não quis levar para casa. Estou dividindo isso com vocês e as providências já estavam sendo tomadas. A chefe dos comissários veio se desculpar, disse que ele queria se desculpar e que não fez com má intenção. Sobre as intenções dele, paciência, não me interessa, porque ele se sentiu à vontade de me abordar desta forma. Isso não pode mais não se repetir. Você vai trabalhar, num rolê massa e em uma hora que está civil, na vida real, acontece isso. Tem gente que acha que racismo tem só a ver com classe social, mas não. Hoje, me senti pronta pra dividir isso com vocês, por isso estou aqui. Não está tudo ganho, mas a gente também não vai deixar barato”, concluiu.
Ela brilha
Celebrando a repercussão de ‘Todas as Flores‘ em evento no Rio esta semana, Mariana analisou sua personagem na segunda produção de novela da Globoplay – a primeira foi ‘Verdades Secretas II‘ – falou da relação de amizade com Regina Casé e revelou que a namorada, a atriz e dramaturga Tati Vilella estará na próxima novela das 19h da Globo, ‘Vai na Fé’. “Ela vai fazer sua primeira novela”, conta Mariana. “Fizemos um espetáculo chamado ‘Amor e outras revoluções’ e vamos voltar com ele ano que vem”. Emendando trabalhos nos últimos anos, a atriz define seu momento. “Não parar de trabalhar no Brasil hoje é privilégio. Estou com esperança nestas eleições, tem que dar Lula, vai dar. Para que o próximo ano seja melhor para todos, para o país, para o povo brasileiro e para a classe artística”, deseja.
No ar, recentemente, como a médica Joana em ‘Quanto mais vida melhor‘, a atriz volta às novelas na trama de João Emanuel Carneiro como a batalhadora Judite, uma costureira e líder comunitária da Gamboa, reduto do samba no Rio de Janeiro. Antagonista de Zoé, a personagem indica saber muito do passado da vilã de Regina Casé. “Olha, sinto que é a continuação de um caminho que começamos lá em ‘Amor de Mãe’ (2019). Ali já nos conectamos. Ficamos muito amigas, trabalhar novamente com Regina tem sido demais, estou amando. Fico até constrangida, porque acho ela muito engraçada, então na paro de rir no set. Às vezes, estamos fazendo cenas sérias e preciso me concentrar muito e ser resistente para ‘bater de frente’ como a personagem pede. Fico assistindo a Regina, sabe? Tenho me sentido muito à vontade com ela”, diz.
“A minha personagem é uma mulher do samba, atuante na comunidade e é arqui-inimiga da personagem da Regina, a Zoé, sabe de fatos do passado dela, suspeita de muita coisa, mas não pode provar. Só que a Judite apesar de ser essa pessoa bacana, super correta, também tem seus segredos, esconde a paternidade do filho, o Pablo (Caio Castro). Diz para ele que o pai morreu, que era um cara da gringa, e ele está sempre confrontando a mãe”. Mariana acrescenta ainda sobre a composição: “Ela tem uma complexidade humana grande. Tento mapear isso para alcançar estes estados e transmitir isso ao público com cuidado. Me chama muito à atenção esse extremo cuidado que ela tem com a Maíra (Sophie Charlotte), está sempre cuidando muito dessa menina, tanto pelo afeto que sente, quanto por saber que a mãe dela não vale nada. Sabe o risco que a Maíra corre estando ao lado da Zoé”.
As novelas do autor de ‘Avenida Brasil‘ (2012) são muito conhecidas por conta das vilãs, mas João Emanuel também cria heroínas memoráveis, e a atriz aposta nisso? “Sempre admirei muito o trabalho desse autor e era um desejo estar no lugar que ocupo hoje, é uma realização. Acho que as personagens que o João Emanuel cria nunca são uma coisa só: as vilãs não são só más e as heroínas não são somente boas. A minha personagem, apesar de estar do ‘lado certo’ da história, está envolvida com mistérios, esconde quem é o pai do filho. Então, só por isso, já vemos que uma pessoa tão ética, que preza pela verdade, não é tão correta assim. O que me motiva é esse desafio de dar coerência à essa mulher, que ocupa esse lugar da heroína, mas que tem falhas e é bem humana. Ter que dar conta dos ganchos que o João cria para personagem também é um grande desafio. Não sei até quando a Judite vai se manter sendo essa heroína coerente. Até porque afinal, quem é totalmente?”.
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