*Por Brunna Condini
Mariana Lima não é figurinha fácil em novelas, mas amamos ver a inteligência e a versatilidade da atriz a serviço de uma personagem com mais assiduidade nos folhetins. Após dois anos (ela esteve pela última vez em ‘Um Lugar ao Sol‘), vamos ter essa oportunidade. Mariana retornou à televisão em ‘No Rancho Fundo‘, novela das seis da Globo que estreou nesta segunda-feira (dia 15). Com 35 anos dedicados ao ofício, ela agora é tia Salete, uma mulher da terra, forte, que já sofreu muito no passado e, por isso mesmo, coloca uma ‘armadura’ diante do mundo para se proteger e aos que ama. A artista admite que nunca deu vida a uma personagem como essa. “Salete foi abusada, largada em Juazeiro. É costureira, cozinheira, rezadeira, tem ‘múltiplas personalidades’, é quase ‘quadripolar’, porque oscila momentos de muita calma, outros em que está quase histérica e ainda aqueles nos quais berra textos bíblicos. Também tem aversão a homens, mas se apaixona e vai querer estar com um. É uma personagem complexa, com muitas caras, então é muito rica de fazer. É um momento especial como atriz “.
Totalmente envolvida com o novo trabalho, Mariana que também é produtora, diretora e dramaturga, vê os 50+ com uma maior tranquilidade, em comparação às décadas que os precederam. Ela avalia ainda, as mudanças dessa fase, que incluíram a separação de um casamento de 25 anos com o ator Enrique Diaz, com quem teve as filhas Elena, de 20 anos, e Antonia, de 16:
A vida vai transformando a gente e acho isso positivo. Se não acontecessem essas mudanças, estaríamos presos numa existência muito tacanha. Claro, tem sofrimento, filho crescendo, ninho vazio, separação, tudo isso provoca dores e alegrias e você vai descobrindo também outras coisas, se surpreende – Mariana Lima
Nos últimos tempos, a atriz mudou hábitos, incluindo uma vida mais diurna, exercícios ao ar livre, mantendo o foco no autoconhecimento e na busca de viver melhor. “Esse ano faço 52 anos (em 17 de setembro) e estou gostando. Pensei que ia achar ruim, mas não. As mudanças com o passar dos anos têm sido muito bem-vindas. Um aprendizado da maturidade, que ninguém me tira, é que precisamos ter muita compaixão pelo outro e por nós. Principalmente, no sentido de saber a ‘paixão’ do outro, a dor do outro. Outro ponto que tem me ajudado a ver as coisas de outra forma é que estou virando meio budista, mas sem frequentar templos. Tenho feito muita meditação e estou aprendendo a estar no presente, no aqui e agora. Esse exercício faz um bem danado”, compartilha Mariana.
Feminino de um Brasil profundo
Em ‘No Rancho Fundo’, Salete é irmã de Zefa Leonel (Andréa Beltrão). As duas fazem parte de uma família humilde do sertão nordestino, com o sonho de ter uma vida melhor. Na novela, a atriz reedita a parceria com Andréa, já que as duas foram primas e confidentes em ‘Um Lugar ao Sol‘. “É uma gostosura estar junto com ela neste trabalho. Somos amigas, o que torna tudo ainda melhor”. Com um vasto currículo de trabalhos no teatro e no cinema, Mariana fez ao longo de décadas de trabalho apenas sete novelas. Pelo visto, não foi por falta de convites, mas ela prioriza os folhetins mais cuidados artisticamente, que conseguem arrebatá-la para dentro da história, já que a jornada é longa e intensa num trabalho como esse. “A gente sempre esquece que novela é uma coisa que consome nossa vida quase que integralmente. Hoje é um trabalho de segunda a domingo, porque quando não estou gravando, estou estudando. Essa tem sido uma novela que não dá para fazer sem estudar profundamente”, diz.
“E aí estou tentando achar no meio disso tudo, tempo para cuidar das filhas, que estão grandes, mas precisam de mim. Tempo para cuidar do ar condicionado que quebra, para malhar, para fazer terapia que agora tem sido às 21h30 da noite, online, quando dá. É assim: suspende a vida e a novela no momento fica em primeiro plano. É que nem parir, é empolgante, mas você esquece que vai ficar imersa naquilo por muito tempo…estou feliz porque é uma equipe muito unida e amorosa. Dá trabalho, mas a gente tem se divertido muito”.
Destacando que a personagem é fruto de uma família matriarcal com características bem plurais, Mariana observa: “Não tenho referências da Salete em mim. Também é muito difícil achar um filme ou uma série que me inspire neste sentido. Por isso, o mais interessante disso tudo, é que a referência da tia Salete está nela, no texto primoroso do Mário Teixeira, diferente de outras personagens que fiz. Ela fala coisas muito loucas, engraçadas, comoventes e é surpreendente. A cada capítulo que chega, tem algo diferente. E claro, sempre torcemos por uma redenção para a personagem, queremos isso na vida, né? Então, desejo um final feliz pra ela, mas ainda é cedo para opinar sobre caminhos, estou descobrindo fazendo”, expõe.
“É um feminino muito arraigado em moralidades, preconceitos, mas também em uma sabedoria muito diferente daquela construída pela razão, ocidental, urbana. São mulheres que conhecem coisas que a gente não conhece, isso que é bonito. É um conhecimento meio religioso, meio moral, meio vital, que vem da terra, que ensina muito. Estou aprendendo um monte de coisas que não sabia. A personagem tem uma relação com a Bíblia de convivência. Aquilo ali é a sabedoria dela, o mundo dela. Então no meio de umas falas, de repente, tia Salete lança mão de nomes de mulheres deste livro sagrado pra ela, daí eu tenho que ir ver quem são, porque nunca ouvi falar. Ao mesmo tempo, a personagem também tem esse conhecimento que vem da terra. Com a tia Salete, aprendi, por exemplo, que a colheita da uva é melhor à noite, por conta das características do vento daquela determinada região do Nordeste. Essa família vive no sertão profundo, aquele sem luz, sem água encanada. E quando vão para cidade, esse sertão vai no coração deles. É uma linda história”, completa.
No Rancho Fundo
A novela se passa no Cariri, no sertão da Paraíba, nas cidades de Lasca Fogo e Lapão da Beirada, e conta a história da família Leonel, chefiada por Zefa e Tico, interpretados, respectivamente, por Andrea Beltrão e Alexandre Nero. A família, composta por filhos e agregados, vê a vida se transformar quando a batalhadora Zefa encontra uma pedra preciosa, e eles deixam o Rancho Fundo que dá nome ao folhetim para se aventurar na cidade grande. A dobradinha autor e diretor de ‘Mar do Sertão’, Mário Teixeira e Allan Fiterman, se repete em ‘No Rancho Fundo’. Para Mário, as novelas “apresentam um retrato do Brasil”. São novelass bem humanas ,apesar da narrativa de fábula e poesia. além dos dois criativos, alguns personagens de ‘Mar do Sertão’ também terão uma espécie de segunda chance na nova da seis, como a ambiciosa Deodora de Debora Bloch, e o ex-prefeito atrapalhado de Canta Pedra, Sabá Bodó (Welder Rodrigues) agora está à frente da administração de Lapão da Beirada.
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