Maria Clara Spinelli estará em ‘Elas por elas’ e não quer rótulo de ‘atriz trans’: “Só penso em fazer bem o trabalho”

*Por Brunna Condini

Após vinte anos de trajetória como atriz, chega para Maria Clara Spinelli o merecido protagonismo na TV. Em ‘Elas por Elas‘, releitura do clássico de 1982 de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), ela é Renée – Renê, que se torna Renée, após a transição de gênero que tanto sonhava – uma das sete protagonistas da trama adaptada por Thereza Falcão e Alessandro Marson, com direção artística de Amora Mautner. A história que estreia dia 25 no horário das 18h na Globo, gira em torno do reencontro de sete mulheres que não se viam há 25 anos, até que uma delas decide reunir as antigas amigas em sua casa. Esse encontro vai afetar cada uma de uma forma diferente e acarretar desdobramentos com importância para a trama de todas. Para Maria Clara, a importância do papel vai muito além da representatividade, tão necessária em todos os setores, e do seu pioneirismo protagonizando a trama. “Acho que temos que parar com esse conceito de atriz trans”, frisa.

E acrescenta: “Quando juntam dois adjetivos, vira outra coisa. Isso me diminui em relação às outras atrizes, porque sou simplesmente uma atriz. Falo isso para a imprensa, diante de um ponto de vista meu. Sei que não fazem por mal, talvez façam até para enaltecer uma posição, é politico. Mas acho que é mais político quando é colocado como mais uma característica minha. Isso não me define nem pessoalmente e nem profissionalmente. Não penso sobre isso, só penso em fazer bem o meu trabalho, da melhor maneira que posso. E também em criar um ambiente de amor para os meus colegas, para contarmos histórias juntos. Acho que estou aqui por isso, já tenho uma carreira de 20 anos”, salienta.

Continuo a trajetória que veio antes de mim, de pessoas como a Claudia Celeste, a Rogéria…gente que abriu as portas para eu estar aqui hoje. Faço esse trabalho com muita honra –  Maria Clara Spinelli

Maria Clara Spinelli é uma das sete protagonistas de ‘Elas por Elas”: “Sou simplesmente atriz” (Foto: Estevam Avellar/Globo)

Ao lado de Deborah Secco (Lara, personagem que reúne as amigas), Isabel Teixeira (Helena), Késia (Tais), Thalita Carauta (Adriana), Mariana Santos (Natália) e Karine Teles (Carol), que dão vida a mulheres potentes em versões atualizadas em relação à trama original, Maria Clara continua sua reflexão. “A Renée nasceu transgênero. É a inclusão de pessoas trans neste protagonismo. Ela está entre seis personagens diversas, incríveis, não é um produto de nicho. A personagem está inserida na sociedade com outras mulheres plurais. O que mais celebro nela é que é uma mãe e chefe de família, uma irmã, uma amiga, trabalhadora, brasileira. Não veio do gueto, não é uma marginalizada. É amada, acolhida. Isso transforma essa personagem em uma nova narrativa de pessoas transgêneros no Brasil, não é uma vítima”, celebra a atriz.

As protagonistas de ‘Elas por Elas’ que estreia 25 de setembro no horário das 18h na Globo (Foto: João Cotta/ Globo)

“A mudança de paradigma é que comecem a criar mais personagens assim e mais possibilidades para atores e atrizes trans trabalharem. Essa é a real inclusão, a real mudança. Faço todos os meus personagens com muito amor, todos são os personagens da minha vida”.

Tomara que esse meu trabalho abra ainda mais possibilidades para transgêneros trabalharem em produções audiovisuais – Maria Clara Spinelli

A trama de Renée 

A pergunta central/mote da nova novela é: a amizade supera tudo? “A grande protagonista desta novela é a amizade, que se faz presente através das sete personagens, e do reencontro delas. A Renée (vivida por Shi Menegat mais nova) é a mais batalhadora de todas, a que menos tem recursos financeiros. Os autores trouxeram essa mulher trabalhadora doméstica para o mercado de trabalho também”, diz, sobre a personagem que trabalha na padaria da família. É mulher de Wagner (César Mello), madrasta de Tony (Richard Abelha) e de Vic (Bia Santana), e também é irmã de Érica (Monique Alfradique).

Ela vai precisar dar a volta por cima e se reinventar após ser abandonada pelo marido, que leva todo o dinheiro da família. Renée se vê sozinha com os filhos, sem ter como pagar o aluguel e acaba tendo que fechar a padaria. Apesar de contar com a ajuda da irmã, a personal trainer Érica, para recomeçar, os desafios serão inúmeros: Edu (Luís Navarro), seu cunhado, nunca teve simpatia por ela e não perde a oportunidade de destilar comentários preconceituosos. Mas Renée está determinada em seguir em frente e refazer sua vida.

“Essa personagem é minha amiga, é minha irmã. E também faz parte de mim. É uma sensação difícil de explicar, mas muito bonita. É um nascimento”, definiu. No reencontro na trama das seis – com energia das sete – Renée vai dividir com as amigas as transformações pelas quais passou nos últimos anos, incluindo a transição de gênero, os altos e baixos do casamento e os sonhos.

As estrelas de ‘Elas por Elas’: mulheres plurais (Foto: João Cotta/ Globo)

Carmem tornou-se Renée 

Carmem, personagem que corresponde à Renée nessa releitura de 2023, foi interpretada em 1982 por Maria Helena Dias, que faleceu no mês passado. Na trama, a atriz era uma dona de casa classe média, casada com Rubão (Ivan Cândido, 1931- 2016) e mãe de dois filhos, Elton (Cássio Gabus Mendes) e Vic (Ana Helena Berenger, 1961-2009). Além da família, Carmem dividia a casa com o cunhado Renê (Reginaldo Faria). Filho de Cassiano Gabus Mendes, autor da versão original, Cássio volta à releitura da trama 40 anos depois, no papel de Roberto, um homem ambicioso que é sócio do advogado Átila (Sergio Guizé), marido de uma das protagonistas, Lara (Debora Secco).

Maria Helena Dias fez o papel que foi repensado para Maria Clara Spinelli em ‘Elas por Elas’ (Foto: Acervo/ Globo)